A minha mensagem de Hiroshima

O SECRETÁRIO-GERAL

 A minha mensagem de Hiroshima

7 de agosto de 2022

Artigo de Opinião publicado pelo Expresso

No sábado, foi com orgulho que estive ao lado do primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida, e do povo de Hiroshima para recordar uma catástrofe sem precedentes.

Há setenta e sete anos foram lançadas armas nucleares sobre o povo de Hiroshima e de Nagasaki.

Num piscar de olhos, dezenas de milhares de mulheres, crianças e homens foram mortos, incinerados por um fogo infernal. Os edifícios ficaram reduzidos a pó. O sangue correu pelos belos rios destas cidades.

Os sobreviventes foram condenados a um legado radioativo, castigados com problemas de saúde e sujeitos, ao longo da vida, a esse estigma causado pelo bombardeamento nuclear.

Tive a grande honra de conhecer um grupo desses sobreviventes – os hibakusha, cujo número diminui a cada ano – e que me contaram, com inabalável bravura, o que testemunharam naquele dia aterrador em 1945.

É hora de os líderes mundiais serem tão lúcidos como os hibakusha e verem as armas nucleares como elas são. As armas nucleares não fazem sentido. Não podem garantir segurança ou proteção. Por natureza, apenas matam e destroem.

Já passaram três quartos de século desde que nuvens em forma de cogumelo pairaram sobre Hiroshima e Nagasaki. Desde então, a humanidade sofreu uma

Guerra Fria, décadas de loucura absurda e vários quase-acidentes aterradores que colocaram a humanidade a poucos minutos da aniquilação.

Mas mesmo durante os momentos mais críticos da Guerra Fria, as potências nucleares reduziram significativamente os seus arsenais nucleares. Houve uma ampla aceitação dos princípios contra o uso, a proliferação e o teste de armas nucleares.

Hoje, corremos o risco de esquecer as lições de 1945.

Uma nova corrida ao armamento está a ganhar velocidade, com governos a gastarem centenas de milhares de milhões de dólares para atualizar as suas reservas de armas nucleares. Há cerca de 13.000 armas nucleares armazenadas em arsenais em todo o mundo. As crises geopolíticas com graves implicações nucleares estão a disseminar-se rapidamente, do Médio Oriente à Península Coreana, até à invasão da Ucrânia pela Rússia.

Uma vez mais, a humanidade está a brincar com o fogo. Estamos a uma falha, a um mal-entendido, a um erro de cálculo do Armageddon.

Os líderes devem parar de bater à porta do Apocalipse e retirar a opção nuclear da mesa para sempre.

É inaceitável que os Estados detentores de armas nucleares admitam a possibilidade de uma guerra nuclear, o que significaria o fim da humanidade.

Da mesma forma, os países com armas nucleares devem comprometer-se a não tomarem a iniciativa de utilização dessas armas. Devem também assegurar aos Estados que não possuem armas nucleares que não usarão – ou não ameaçarão usar – armas nucleares contra eles, e serem transparentes em todos os aspetos. A ameaça tem de parar.

Na realidade, há apenas uma solução para a ameaça nuclear: não ter armas nucleares. Para tal, é necessário abrir todas as vias de diálogo, de diplomacia e de negociação para aliviar as tensões e eliminar estas armas mortais de destruição em massa.

Estamos a assistir a novos sinais de esperança em Nova Iorque, onde o mundo se reuniu para a 10ª Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. O Tratado é uma das principais razões pelas quais as armas nucleares não são usadas desde 1945, contendo compromissos juridicamente vinculativos para alcançar o desarmamento nuclear e podendo ser um poderoso catalisador para o desarmamento – a única maneira de eliminar essas armas horrendas de uma vez por todas.

E em junho, os membros do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares reuniram-se pela primeira vez para desenvolver um plano para um mundo livre desses dispositivos apocalípticos.

Não podemos continuar a aceitar a presença de armas que ameaçam o futuro da humanidade.

É hora de prestar atenção à mensagem intemporal dos hibakusha: “Chega de Hiroshimas! Chega de Nagasakis!”

É hora de promover a paz.

Juntos, passo a passo, vamos remover estas armas da face da terra.

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