Alterações climáticas: emissões de metano são 80 vezes mais responsáveis que o CO2

Se já esteve num campo com vacas, é provável que tenha notado um odor característico. O que está a sentir é o metano e este é mais do que apenas desagradável. É um potente gás de efeito estufa. Molécula por molécula, o metano tem um poder de aquecimento da atmosfera 80 vezes superior ao do dióxido de carbono.

Uma avaliação recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Climate and Clean Air Coalition concluiu que cortar as emissões de metano associadas à agricultura é fundamental para combater as alterações climáticas. Mas como é isso pode ser feito? Descubra aqui.

De onde vem o metano?

A agricultura é a fonte predominante.

As emissões dos animais – do estrume e libertações gastro entéricas – são responsáveis por cerca de 32% das emissões de metano causadas pelo homem. O crescimento populacional, o desenvolvimento económico e a migração urbana estimularam uma procura sem precedentes de proteína animal. Com a população global a aproximar-se dos 10 mil milhões, espera-se que esta procura aumente em 70% até 2050.

Em Portugal, de acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente, 43% do metano emitido provem da agropecuária e são as vacas para a produção de carne as que mais emitem.

Porém, o metano agrícola não provém apenas de animais. O cultivo de arroz com casca – no qual os campos inundados evitam que o oxigénio penetre no solo, criando condições ideais para bactérias emissoras de metano – é responsável por 8% das emissões causadas pelo homem.

Qual é o problema do metano?

O metano é o principal responsável pela formação de ozono ao nível do solo, um perigoso poluente atmosférico e gás de efeito estufa, cuja exposição causa 1 milhão de mortes prematuras todos os anos. O metano também é um poderoso gás de efeito estufa. Num período de 20 anos, é 80 vezes mais responsável pelo aquecimento do que o dióxido de carbono.

O metano foi responsável por cerca de 30% do aquecimento global desde os tempos pré-industriais e, atualmente, está a proliferar-se mais rapidamente do que em qualquer outra época. Na verdade, de acordo com dados da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, mesmo com a redução das emissões de dióxido de carbono devido à pandemia de covid-19, o metano atmosférico aumentou.

Como podemos reduzir as emissões de metano?

O Conselheiro de Sistemas Alimentares e Agricultura do PNUMA, James Lomax, considera que o mundo precisa de começar a “repensar as abordagens ao cultivo agrícola e à produção pecuária”. Isso inclui a implementação de novas tecnologias, a adoção de dietas ricas em vegetais e o consumo de fontes alternativas de proteína. Lomax acrescenta ainda que tal é fundamental se a humanidade quiser reduzir as emissões de gases do efeito estufa e limitar o aquecimento global a 1,5 ° C, uma meta do acordo de Paris.

Os agricultores podem ajudar na campanha para reduzir as emissões de metano?

Sim. Estes podem dar aos animais alimentos mais nutritivos para que estes fiquem maiores, mais saudáveis e mais produtivos, produzindo efetivamente mais com menos. Os cientistas também estão a testar tipos alternativos de ração que reduzam o metano produzido pelas vacas. Os agricultores podem usar estrume de forma mais eficiente: cobrindo-o, compostando-o ou usando-o para produzir biogás.

Quando se trata de culturas básicas como o arroz com casca, os especialistas recomendam abordagens alternativas de humedecimento e secagem que podem reduzir em metade as emissões. Em vez de permitir a inundação contínua dos campos, os arrozais poderiam ser irrigados e drenados duas a três vezes durante a estação de cultivo, limitando a produção de metano sem afetar a produtividade. Este processo também exigiria um terço da água, tornando-o mais económico.

Quanto poderemos reduzir as emissões de metano?

As emissões de metano causadas pelo homem poderiam ser reduzidas em 45% numa década. Isso evitaria cerca de 0,3°C de aquecimento global até 2045, ajudando a limitar o aumento da temperatura global em 1,5 ° C e colocando o planeta no caminho certo para atingir as metas do Acordo de Paris. Todos os anos, a redução subsequente do ozono ao nível do solo evitaria também 260.000 mortes prematuras, 775.000 visitas hospitalares associadas à asma, 73 mil milhões de horas de trabalho perdidas devido ao calor extremo e a perda de 25 milhões de toneladas de produtos agrícolas.

O que é que as Nações Unidas estão a fazer para ajudar a limitar as emissões de metano?

Bastante. O secretário-geral da ONU, António Guterres, convocará a cimeira dos Sistemas Alimentares da ONU em setembro de 2021. Esta visa ajudar a tornar a agricultura e a produção de alimentos mais ecológica.

A iniciativa Koronivia Joint Work on Agriculture das Nações Unidas está a apoiar a transformação dos sistemas agrícolas e alimentares, procurando manter a produtividade do setor neste momento de transição. Os representantes estão ainda a trabalhar para integrar a agricultura na Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, o que será discutido na Conferência sobre o Clima – COP26 – ainda este ano.


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