António Guterres distinguido com o Prémio Europeu Carlos V

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, recebeu esta terça-feira o Prémio Europeu Carlos V, no Mosteiro de Yuste.

Segundo o júri deste Prémio, Guterres é “uma figura fundamental para enfrentar um período de mudanças sem precedentes e com terríveis consequências para a Europa e para o mundo”. “Com o seu trabalho tenaz impulsionou ações para responder à pandemia da covid-19, à guerra na Ucrânia, para abordar a emergência climática e para conseguir reformas ambiciosas para enfrentar os desafios do século XXI”.

A cerimónia foi presidida por Sua Majestade o Rei Felipe VI, presidente honorífico da Fundação Academia Europeia e Iberoamericana de Yuste, contando ainda com a presença do Presidente da República, Marcelo rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa. Foto: Juan Carlos Rojas

O Prémio Europeu Carlos V reconhece o trabalho de “pessoas, organizações, projetos ou iniciativas que contribuíram para o conhecimento geral e o engrandecimento dos valores culturais, sociais, científicos e históricos da Europa, assim como para o processo de construção e de integração europeia.

A cerimónia foi presidida por Sua Majestade o Rei Felipe VI, presidente honorífico da Fundação Academia Europeia e Iberoamericana de Yuste, contando ainda com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa.

António Guterres é o terceiro português a ser distinguido com este prémio depois de Jorge Sampaio, em 2004, e de José Manuel Durão Barroso, em 2014.

 

Conflitos

No seu discurso, o secretário-geral da ONU começou por enfatizar a fragilidade da paz no mundo e a galopante violência que se vive em várias regiões do mundo. Guterres começou por referir que “a invasão da Ucrânia pela Rússia, que é uma violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, está a causar enorme sofrimento e devastação ao país e ao seu povo”, sublinhado ainda que “guerras e crises humanitárias propagam-se, às vezes diante de nossos olhos, mas muitas vezes longe dos holofotes.”

Para o líder da ONU estas guerras e crises “são mais complexas e interconectadas, e o seu impacto cresce a cada dia”, mencionando que “regiões inteiras como o Médio Oriente e o Sahel estão a ser devastadas por conflitos prolongados que parecem não ter fim à vista” e enfatizando a escalada do conflito no Sudão: “a situação deteriora-se dramaticamente da noite para o dia, sendo a situação no Sudão o triste exemplo mais recente. (…) Em vez de balas, precisamos de arsenais diplomáticos.”

António Guterres é o terceiro português a ser distinguido com este prémio depois de Jorge Sampaio, em 2004, e de José Manuel Durão Barroso, em 2014. Foto: Juan Carlos Rojas

Paz com a Natureza

O diplomata português lembrou também que também deve ser feita paz com a natureza: “É hora de reafirmar a primazia da paz. Paz entre as pessoas e paz com a natureza. Porque a guerra que travamos contra o nosso planeta põe em perigo a própria sobrevivência da humanidade.” Guterres sublinhou que o atual caos climático está a desencadear incêndios, inundações, secas e outros eventos climáticos extremos em todos os continentes o que está a obrigar à deslocação de “milhões de pessoas que muitas vezes precisam buscar refúgio em países e comunidades igualmente vulneráveis.

 

Direitos Humanos

Durante a sua intervenção, o líder da ONU abordou também a questão dos direitos humanos, no ano em que se comemora o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, lembrando que “os direitos e liberdades das pessoas – civis e políticas, económicas e sociais – estão a ser corroídos” e que “os princípios democráticos e o estado de direito são frequentemente atacados e minados.”

Numa altura em que o discurso de ódio, racismo e xenofobia se continuam a propagar, Guterres afirma que “devemos olhar para trás e aprender com o nosso passado” e continuar a lutar por estes direitos. “Agora é a hora de exigir os direitos à vida, à liberdade, à segurança e à liberdade de expressão e o direito de buscar asilo, entre outros. Esses direitos são inerentes à vida humana. Diante da crescente xenofobia, racismo e extremismo, devemos defender nossa humanidade comum.”

 

Desigualdades

O chefe das Nações unidas conclui a sua intervenção denunciando o agravamento das desigualdades, uma situação acentuada pela pandemia da covid-19, dizendo que “longe de diminuir, muitas injustiças estão a agravar-se”, denunciando também a obscena acumulação de riqueza: “desde 2020, quase dois terços da nova riqueza criada em todo o mundo foi para um por cento da população. E 26 indivíduos têm a mesma riqueza que metade da população mundial.”

Uma situação que está a deixar muitos para trás, diz Guterres: “a crise do custo de vida está a empurrar milhões de pessoas para a pobreza”, por isso, defende que “o crescimento económico deve servir para melhorar o bem-estar social geral e construir sociedades mais igualitárias” enfatizando que “precisamos urgentemente construir um novo contrato social baseado na justiça social”.


Direito Internacional e Justiça

Entre as maiores conquistas das Nações Unidas está o desenvolvimento de um corpo de leis internacionais, convenções e tratados que promovem o desenvolvimento económico...