Civis de Gaza evacuados para perto da linha da frente

WHO/Ahmed Zakot Dez meses após o início da guerra, muitos habitantes de Gaza continuam a enfrentar o desafio diário de ir buscar água potável, no meio de repetidas ordens de evacuação.

 

As “contínuas” ordens de evacuação dos militares israelitas em Gaza ameaçam as pessoas já extremamente vulneráveis do enclave com novas deslocações forçadas, aumentando as preocupações de que os serviços essenciais possam em breve ser cortados, alertam os agentes humanitários da ONU. 

 

Mais de 10 meses após o início da guerra em Gaza, desencadeada por ataques terroristas liderados pelo Hamas em Israel que causaram cerca de 1250 mortos e mais de 250 reféns, quase todos os habitantes de Gaza foram deslocados pelo menos uma vez – e muitas vezes várias vezes – devido às repetidas ordens de evacuação e aos intensos bombardeamentos israelitas. 

“Nenhum lugar da Faixa de Gaza é seguro… Parece que as pessoas estão à espera da morte”, relata a porta-voz da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), Louise Wateridge, numa mensagem na rede social X. 

“As áreas que estavam (na) zona humanitária são agora a linha da frente”, disse à ONU News, referindo também que os habitantes de Gaza ‘nunca estão a mais do que alguns quarteirões de distância da linha da frente’. 

Kamal Al-Sultan, uma criança deslocada de Beit Lahia, no norte de Gaza, disse à UN News em Gaza que foi deslocado sete vezes desde o início da guerra, mais recentemente da Escola Preparatória para Rapazes de Deir Al-Balah, onde tinha procurado abrigo e segurança. 

“Fomos deslocados de Beit Lahia para Deir Al-Balah, e agora estão a pedir-nos para sair”, disse à UN News. “Não sabemos para onde ir”. 

 

“Como se a alma deixasse o corpo” 

According to the UN agency for Palestine refugees, UNRWA, these new evacuation orders now cover approximately 84 per cent of the Gaza Strip. Meanwhile, many Gazans are being forced to move yet again. 

De acordo com a UNRWA estas novas ordens de evacuação abrangem atualmente cerca de 84% da Faixa de Gaza. Entretanto, muitos habitantes de Gaza estão a ser obrigados a deslocar-se mais uma vez. 

“A deslocação de Deir Al-Balah é a nossa décima quarta”, afirmou Yahya Halas, uma pessoa deslocada do bairro de Shujaiya, a leste da cidade de Gaza. “Fomos deslocados de Shujaiya para a cidade de al-Zahraa, para Rafah, depois para Khan Younis duas vezes e para Deir Al-Balah três vezes. Até quando é que isto vai continuar? 

Halas afirmou que estar deslocado não é apenas “carregar uma mala”.  

“Estar deslocado é como se a alma deixasse o corpo”, disse Halas. “Temos crianças e mulheres. Temos pertences e comida. Para onde iremos quando todas as pessoas deslocadas forem para oeste? Se formos para oeste de Deir Al-Balah, não conseguiremos andar porque já lá estão muitas pessoas”. 

 

 

Corte da estrada num eixo crucial 

Na sua última atualização sobre a situação de emergência, o Gabinete de Coordenação da Ajuda Humanitária da ONU (OCHA) frisou que as hostilidades “implacáveis” e as repetidas ordens de evacuação em Gaza continuaram a condicionar as operações de ajuda humanitária, “já dificultadas por restrições de acesso, escassez de combustível e outros desafios”. 

O OCHA informou que partes da estrada de Salah ad Din – uma passagem crucial para as missões humanitárias de sul para norte – foram apanhadas por uma ordem de evacuação emitida pelas autoridades israelitas no sábado para Deir Al-Balah. 

“Esta situação tornou quase impossível a deslocação dos trabalhadores humanitários ao longo desta via fundamental”, sublinhou. Na quarta-feira de manhã, as Forças de Defesa de Israel emitiram uma nova ordem que afeta os bairros do centro da cidade. 

A estrada costeira de Gaza “já não é uma alternativa viável”, continuou o OCHA, explicando que as praias ao longo desta rota estão “repletas de abrigos improvisados” para os palestinianos arrancados à força das suas casas. 

“Consequentemente, a circulação de caravanas humanitárias ao longo da estrada costeira é extremamente lenta e os fornecimentos e serviços essenciais – como o transporte de água – não estão a chegar às pessoas necessitadas nem perto da escala necessária”, alertou o gabinete de ajuda da ONU. 

 

UN News/Ziad Taleb Kamal Al-Sultan, uma criança deslocada de Beit Lahia, no norte de Gaza, foi forçada a mudar-se sete vezes durante os 10 meses de guerra.

 

Tanques em Khan Younis 

Em Khan Younis, onde os tanques israelitas regressaram, a UNRWA manifestou a sua crescente preocupação com o facto de as principais infraestruturas das zonas do sul da cidade, que deverão ser evacuadas, poderem em breve ser danificadas ou destruídas. 

Dessas infraestruturas fazem parte a estação de abastecimento de água que acaba de ser restaurada e que serve cerca de 100.000 pessoas, o Centro de Saúde Japonês da UNRWA, reaberto no mês passado, e que deverá desempenhar um papel fundamental na próxima campanha de vacinação contra a poliomielite, e o Centro de Formação de Khan Younis, uma grande instalação atualmente utilizada como armazém para guardar material humanitário. 

“Sem esse armazém, não podemos trazer ajuda e colocá-la em qualquer lado”, explica a Louise Wateridge. “Não há mais armazéns”. 

“Temos água, temos medicamentos e vacinas e temos distribuição; se alguma destas instalações for danificada e destruída, isso será desastroso”, disse à UN News. 

 

Aumenta o número de mortos na Cisjordânia 

Entretanto, o OCHA declarou que, em média, pelo menos um palestiniano morreu por dia durante este mês por ataques aéreos israelitas na Cisjordânia. Desde outubro, os ataques aéreos mataram 128 palestinianos, incluindo mais de duas dúzias de crianças. 

Até segunda-feira, o OCHA afirmou que mais de 600 palestinianos foram mortos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, desde outubro – a grande maioria pelas forças israelitas e pelo menos 11 por colonos israelitas. Durante o mesmo período, 15 israelitas foram mortos por palestinianos na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. 

O OCHA registou também cerca de 1 270 ataques de colonos israelitas contra palestinianos nos últimos 10 meses, causando mortes e ferimentos, bem como danos materiais. 

 

Doe para a resposta humanitária em Gaza 

 

*artigo original UN NEWS