Clima: governos não cumprem promessas feitas na COP21

De acordo com um relatório da ONU que analisa os progressos realizados desde o Acordo de Paris de 2015, as medidas adotadas na COP21 encontram-se muito aquém das ambições anunciadas. O aumento da temperatura média de 1,5º Celsius será atingido já em 2035, e não no final do século. 

Aliás, segundo o relatório da ONU sobre o clima, até 2100, este aumento da temperatura em relação ao início da era industrial deverá ser de 2,5º Celsius. Para além das temperaturas recorde registadas ano após ano, os especialistas estão preocupados com a subida do nível do mar, que terá duplicado na última década. 

A ONU apela aos governos, bem como à indústria e a todas as outras partes interessadas, para que “aumentem a ambição e acelerem a ação” para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa. 

“O colapso do clima já começou”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na semana passada, após a confirmação oficial de que o verão de 2023 foi o mais quente de que há registo no hemisfério norte. 

Ultrapassar o “business as usual” 

O Sultão Al Jaber, presidente designado da COP28, sublinhou a necessidade de pôr em causa o “business as usual”, ou o modo de fazer negócio como tem sido feito até agora, para que o Acordo de Paris seja respeitado. Para tal, as emissões de gases com efeito de estufa devem ser reduzidas em 43% até 2030. 

Na recente cimeira do G20 na Índia, os países mais ricos do mundo comprometeram-se a reduzir a utilização de carvão, mas não foi feita qualquer declaração sobre o petróleo e o gás. 

“Apelo aos líderes dos setores público e privado para que se apresentem na COP28 com compromissos reais e concretos para fazer face às alterações climáticas. Temos de descarbonizar rapidamente tanto o lado da oferta como o da procura do sistema energético. Temos de triplicar as energias renováveis até 2030, comercializar outras soluções sem carbono, como o hidrogénio, e desenvolver um sistema energético sem combustíveis fósseis, eliminando simultaneamente as emissões das energias que utilizamos atualmente”, afirmou o presidente da COP28. 

Não ignoremos o futuro distópico 

O futuro distópico já chegou“, alertou o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, referindo-se às alterações climáticas. 

UN Photo/ Violaine Martin | Volker Türk, alto comissário para os Direitos Humanos, recebe o jornalista no Palais Wilson. 17 de outubro de 2022.

Estamos a assistir a uma política de divisão e distração, por exemplo, fabricando conflitos artificiais sobre género, migração ou imaginando um ‘choque’ de civilizações”, afirmou. 

“Não precisamos de mais avisos”, diz. “O futuro distópico já foi alcançado. Precisamos de uma ação urgente agora. E nós sabemos o que precisa de ser feito. A verdadeira questão é: o que é que nos está a impedir?” 

Volker Türk explicou também o terrível impacto que as alterações climáticas estão já a ter, nomeadamente na fome em todo o mundo, especialmente nos países da região do Sahel. O Burkina Faso, o Chade, o Mali e o Níger estão entre os oito países menos desenvolvidos do mundo”, afirmou, sublinhando que “estes países são gravemente afetados pela degradação ambiental e pelas alterações climáticas, uma crise para a qual não contribuíram praticamente nada”. 

Numa altura em que as alterações climáticas estão a agravar a deslocação das populações, o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos afirmou ainda estar “chocado com a falta de preocupação” com os milhares de migrantes que morrem todos os anos nas rotas migratórias mundiais. 


Direito Internacional e Justiça

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