Covid-19: Mais de 10 milhões de meninas em risco de casamento precoce

De acordo com um relatório da UNICEF, mais de 10 milhões de meninas poderão ser vítimas de casamento infantil até ao final da década, o que ameaça reverter anos de progresso na redução desta prática.

O relatório “Covid-19: Uma ameaça ao progresso contra o casamento infantil”, publicado no Dia Internacional da Mulher, alerta que o encerramento de escolas, as dificuldades económicas, a interrupção de serviços e a morte de familiares devido à pandemia, deixaram as meninas mais vulneráveis ao casamento precoce.

A diretora executiva da UNICEF, Henrietta Fore, afirma que “o Dia Internacional da Mulher é o momento para lembrar o risco que estas meninas correm se não agirmos agora: a perda da sua educação, da sua saúde e do seu futuro.”

Segundo este relatório, o casamento infantil tem consequências imediatas e permanentes, tornando estas meninas mais vulneráveis à violência doméstica e ao abandono escolar. O casamento infantil aumenta também o risco de gravidez precoce e não planeada, o que leva a complicações na gravidez e à mortalidade materna. Esta prática pode ainda levar ao isolamento social, separando as vítimas das suas famílias e amigos, impedindo-as de participar ativamente nas suas comunidades, uma situação com graves consequências para a sua saúde mental e bem-estar.

A covid-19 afeta também profundamente o quotidiano destas jovens. De acordo com a publicação, as restrições de circulação e o distanciamento físico associado à pandemia, dificultam o acesso a serviços de saúde, sociais e ao apoio comunitário que pode providenciar proteção contra o casamento infantil, a gravidez indesejada e a violência de género. O encerramento das escolas aumenta a probabilidade de abandono escolar definitivo. O desemprego e o aumento da insegurança económica podem também levar as famílias a casar as suas filhas, com vista a aliviar o encargo financeiro familiar.

Estima-se que, em todo o mundo, existam 650 milhões de meninas e mulheres, vítimas do casamento infantil, e que quase metade destes casamentos tenham ocorrido no Bangladeche, Brasil, Etiópia, Índia e Nigéria. É urgente contrariar os efeitos da pandemia e acabar com esta prática até 2030, conforme está definido nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

“Se reabrirmos escolas, implementarmos leis e políticas eficazes, garantirmos o acesso a serviços de saúde e sociais – incluindo serviços de saúde sexual e reprodutiva – e adotarmos medidas de proteção social que incluam as famílias, poderemos reduzir significativamente o risco de que estas meninas sejam privadas da sua infância devido ao casamento infantil.”, acrescenta a diretora executiva da UNICEF.

Em Portugal, a UNICEF tem alertado para o aumento de casamentos entre jovens de 16 e 17 anos. A organização tem apelado à adoção de medidas que erradiquem o casamento infantil, seja através das alterações legislativas necessárias – tal como recomendadas pelo ONU -, seja através do desenvolvimento de programas multidisciplinares e intersectoriais que conduzam à abolição destas práticas que violam os direitos da criança.


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