Covid-19 põe 2 milhões de raparigas em risco de mutilação genital feminina

Na véspera do Dia Internacional da Tolerância Zero para a Mutilação Genital Feminina, celebrado no dia 6 de fevereiro, a UNICEF avisa que o encerramento de escolas e de serviços de saúde básicos reduziram os avanços para travar a mutilação genital feminina em 33%, estimando-se que, atualmente, pelo menos 200 milhões de raparigas e mulheres são vítimas dessa prática, que constitui uma violação dos seus direitos humanos.

O encerramento de escolas e a interrupção de serviços de saúde básicos causados pela pandemia da covid-19 colocam mais de 2 milhões de raparigas em risco de virem a sofrer uma mutilação genital feminina até 2030.

Os dados são provenientes do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), que lamentou estar a “perder terreno na luta” para acabar com esta prática. Segundo os dados da agência, os avanços dos últimos anos retrocederam em cerca de 33%.

Dia Internacional da Tolerância Zero para a Mutilação Genital Feminina

UNFPA

Na véspera do Dia Internacional da Tolerância Zero para a Mutilação Genital Feminina, celebrado a 6 de fevereiro, a conselheira da UNICEF para a Prevenção de Práticas Nocivas, Nankali Maksud, afirma ser necessário que se façam promessas e compromissos de ações conjuntas para retomar avanços e erradicar a prática.

A mutilação genital feminina é uma violação dos direitos das raparigas e mulheres, podendo levar a sérias complicações de saúde e até à morte. Além disso, as vítimas correm também mais risco de serem forçadas a participar em situações de casamento infantil e de abandono escolar, o que condiciona e ameaça o futuro de cada uma.

Segundo dados da agência, pelo menos 200 milhões de raparigas e mulheres foram vítimas de mutilação genital feminina.

Descubra mais dados:

  • Segundo a UNICEF, está a surgir uma tendência alarmante: uma em cada quatro raparigas e mulheres que sofreram mutilação genital feminina (52 milhões em todo o mundo) foi submetida à prática por um profissional de saúde. Esta proporção é duas vezes maior entre as adolescentes, indicando o crescimento da da prática nas atividades médicas;
  • Dos 31 países com dados disponíveis sobre a mutilação genital feminina, 15 deles enfrentam conflitos, aumento da pobreza e desigualdade, o que por sua vez aprofunda a crise para as raparigas e mulheres mais vulneráveis e marginalizadas do mundo;
  • Em alguns países, a mutilação genital feminina ainda é quase universal. Em Djibouti, Guiné, Mali e Somália, 90% das raparigas são afetadas pela prática;
  • A mutilação genital feminina está a ser realizada em raparigas cada vez mais jovens. Por exemplo, no Quênia, a idade média para a prática caiu de 12 para 9 anos nas últimas três décadas.
UNICEF Portugal

Futuro

Apesar destes factos, a UNICEF afirma que é possível verificar certos avanços. De acordo com a agência, a probabilidade de uma rapariga ser submetida à mutilação genital feminina caiu em cerca de um terço, comparativamente com as três últimas décadas.

No entanto, a UNICEF afirma que os avanços precisam ser pelo menos 10 vezes mais rápidos para atingir a meta global da eliminação desta prática até 2030.

Para além da covid-19, também outras crises, tais como o aumento da pobreza, da desigualdade e dos conflitos, tem vindo a atrasar as iniciativas da ONU para reduzir a incidência das mutilações genitais femininas.

Para a agência das Nações Unidas, garantir o acesso das raparigas à educação e aos serviços de saúde e emprego é fundamental para acelerar a eliminação desta prática em todo mundo. Só assim será possível que todas as mulheres e raparigas possam contribuir para o desenvolvimento social e económico equitativo dos seus países.


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