Crise Israel-Palestina: O papel da ONU no terreno

Artigo original publicado em inglês pela UN news.  

As Nações Unidas têm trabalhado ininterruptamente na região do Médio Oriente para desanuviar a crise Israel-Palestina, envolvendo os principais intervenientes e prestando assistência de emergência aos civis no terreno. 

Com a intensificação do conflito e a escalada da violência, Israel decretou um bloqueio total de alimentos, água e serviços vitais, à medida que eram noticiadas as operações terrestres israelitas em Gaza, onde vivem mais de dois milhões de pessoas. 

Embora os escritórios da ONU em Gaza tenham sofrido “danos significativos” devido aos ataques aéreos na noite de 9 de outubro, as agências têm-se esforçado por ajudar a população afetada nessa zona e noutros locais, incluindo a Cisjordânia, que conta com 871.000 refugiados registados. 

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, UNWRA, tem atualmente 13.000 funcionários nacionais e internacionais, a maioria dos quais refugiados, em Gaza e cerca de 4.000 na Cisjordânia. 

Além disso, centenas de funcionários continuam a trabalhar para outras agências da ONU. 

Ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano, a missão de manutenção da paz da ONU, a UNIFIL, está a operar com 9.400 tropas terrestres, 900 funcionários civis e 850 membros da marinha na sua Força de Intervenção Marítima. 

Mas de que forma exatamente está a ONU a prestar ajuda no terreno?

© UNRWA | Um edifício que alberga a sede da UNRWA na cidade de Gaza sofre danos significativos na sequência de ataques aéreos nas proximidades.

1. Proteção

Os intensos ataques aéreos efetuados desde dia 7 de outubro de 2023 obrigaram à deslocação de cerca de 190.000 pessoas em Gaza, pelo que a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos, UNRWA, está a abrigar 175.500 homens, mulheres e crianças em 88 das suas 288 escolas, de acordo com o último relatório da agência sobre a situação. Contudo, estes números continuam a aumentar à medida que prosseguem os ataques aéreos das forças aéreas israelitas. Até ao momento, pelo menos 18 instalações da UNRWA sofreram danos diretos e colaterais de ataques aéreos, tendo sido registados vários mortos e feridos.

© UNRWA / Mohammed Hinnawi | As famílias reúnem-se na New Gaza Boys’ School da UNRWA, procurando abrigo dos intensos ataques aéreos.

2. Contenção do conflito

Os altos funcionários das Nações Unidas, incluindo o gabinete do coordenador especial das Nações Unidas para o processo de paz no Médio Oriente (UNSCO), encontram-se a dialogar com as partes em conflito e com as principais partes interessadas, incluindo os Estados Unidos, o Qatar e a União Europeia, de forma a desanuviar o conflito e a evitar que este se alastre à região do Médio Oriente.  

A missão de manutenção da paz da ONU no Líbano, a UNIFIL, continua a acompanhar o desenrolar da situação de segurança “volátil” ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano, emitindo orientações para os civis e atualizações através das redes sociais. 

A UNIFIL afirmou que acionou plenamente os seus “mecanismos de ligação e coordenação a todos os níveis, para ajudar a evitar mal-entendidos entre o Líbano e Israel que possam conduzir a uma escalada do conflito”. “Este é o nosso principal objetivo neste momento e estamos a trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana para o conseguir”.

UNIFIL / Pasqual Gorriz | As forças de manutenção da paz da ONU patrulham a Linha Azul em El Odeisse, no sul do Líbano.

3. Serviços de emergência

O bloqueio anunciado recentemente por Israel aos alimentos, à água, ao combustível e à eletricidade em Gaza ocorreu numa altura em que as agências da ONU alertavam para a escassez de alimentos e para uma crise iminente. Estão a ser instaladas casas de banho móveis e chuveiros nos abrigos da UNRWA, conforme necessário. Os palestinianos em Gaza só têm eletricidade durante três a quatro horas por dia, o que dificulta o funcionamento das instalações de saúde e o tratamento dos feridos, segundo o gabinete de coordenação da ajuda das Nações Unidas, OCHA.

4. Ajuda alimentar

O Programa Alimentar Mundial (PAM) e a UNRWA estão a coordenar a distribuição de pão às pessoas deslocadas nos abrigos em Gaza. “Cerca de meio milhão de pessoas, ou seja, 112.000 famílias, não puderam receber as suas rações alimentares esta semana, uma vez que os centros de distribuição de alimentos da UNRWA estão encerrados”, declarou a UNRWA. 

O PAM começou a distribuir pão fresco, alimentos enlatados e alimentos prontos a consumir a cerca de 100.000 pessoas nos abrigos da UNRWA, planeando chegar a mais de 800.000 pessoas afetadas em Gaza e na Cisjordânia.

5. Saúde

Continuam a ser prestados serviços de saúde de emergência através da linha direta gratuita em Gaza. Os fundos comuns nacionais das Nações Unidas (CBPF) e os seus parceiros disponibilizaram medicamentos cruciais de emergência e para traumas, bem como material médico para permitir que o sistema de saúde de Gaza responda às necessidades crescentes. Um total de 111 profissionais de saúde estão a trabalhar em turnos rotativos nos centros de saúde da UNRWA, com 11 das 22 clínicas a prestarem serviços de cuidados de saúde primários das 9h00 às 12h30 a pacientes com consultas urgentes recebidas através de uma linha telefónica gratuita. Até ao momento, 1.248 pessoas já telefonaram para esta linha direta gratuita e receberam serviços. 

As linhas telefónicas de ajuda e de serviços sociais já estão operacionais desde dia 10 de outubro e o apoio psicossocial e os primeiros socorros psicológicos estão a ser prestados à distância. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) mobilizou especialistas em apoio psicossocial prontos a prestar assistência a quem dela necessitasse em Gaza e na Cisjordânia. “A comunidade está a apelar à UNRWA para que abra os centros de saúde encerrados devido à elevada procura de serviços”, afirmou a agência. 

© UNRWA / Mohammed Hinnawi | Uma escola da UNRWA que albergava mais de 225 pessoas deslocadas, incluindo muitas famílias, na Faixa de Gaza, foi diretamente atingida, sofrendo graves danos, mas não foram registadas vítimas.

6. Corredores humanitários

O acesso do pessoal e dos fornecimentos humanitários à Faixa de Gaza foi cortado esta semana e a intensidade das hostilidades limitou a capacidade do pessoal de prestar ajuda, de acordo com a coordenadora humanitária  da ONU  para os Territórios Palestinianos Ocupados, Lynn Hastings. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS), outras agências das Nações Unidas e parceiros continuam a trabalhar no sentido de estabelecer um corredor humanitário que permita chegar com fornecimentos essenciais às pessoas em Gaza. 

Para mais informações, assista ao vídeo:

 


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