Faltam serviços básicos de higiene em metade das unidades de saúde do mundo

Em todo o mundo, em metade das unidades de saúde faltam serviços básicos de higiene como água e sabão ou álcool gel. É o que revela um relatório conjunto da Organização Mundial da Saúde, OMS, e o Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef.

Cerca de 3,85 bilhões de pessoas que usam essas instalações correm um risco maior de infecção, incluindo 688 milhões que recebem atendimento em instalações sem nenhum serviço de higiene.

A estimativa global recém-estabelecida revela um quadro mais claro e alarmante do estado de higiene nas unidades de saúde

OMS/Gilles Reboux

A estimativa global recém-estabelecida revela um quadro mais claro e alarmante do estado de higiene nas unidades de saúde

Piora no quadro global

O relatório, lançado esta terça-feira, estabelece pela primeira vez uma linha de base mais global sobre serviços de higiene. São dados de 40 países, que representam 35% da população mundial. A avaliação foi feita em pontos de atendimento e banheiros desses estabelecimentos.

A estimativa global recém-estabelecida revela um quadro mais claro e alarmante do estado de higiene nas unidades de saúde.

De acordo com a análise, uma em cada 11 unidades de saúde não possuem nenhum banheiro, nem instalações para lavagem de mãos. Apenas 51% tinham ambos e, portanto, atendiam aos critérios para serviços básicos de higiene.

Embora houvesse instalações de higiene em 68% dos pontos de atendimento dos estabelecimentos de saúde, em 3% não havia água e sabão nos banheiros.

Equipe de limpeza descarta o lixo em um centro de saúde no distrito de Alirajpur, na Índia

© Unicef/Harikrishna Katragadda

Equipe de limpeza descarta o lixo em um centro de saúde no distrito de Alirajpur, na Índia

Diferentes regiões e grupos de renda

As instalações na África Subsaariana estão aquém dos serviços de higiene. Enquanto 73% dos estabelecimentos de saúde na região em geral têm desinfetantes para as mãos à base de álcool ou água e sabão nos pontos de atendimento, apenas 37% têm instalações para lavagem das mãos com água e sabão nos banheiros.

A grande maioria dos hospitais possui instalações para higienização das mãos nos pontos de atendimento, em comparação com 68% das outras instalações de saúde.

Funcionário de um centro de saúde em Uganda limpa o chão usando uma mistura de cloro e água para prevenir infecções. Serviços adequados de água, saneamento e higiene nas instalações de saúde são vitais para proteger as populações contra infecções.

Unicef/Michele Sibiloni

Funcionário de um centro de saúde em Uganda limpa o chão usando uma mistura de cloro e água para prevenir infecções. Serviços adequados de água, saneamento e higiene nas instalações de saúde são vitais para proteger as populações contra infecções.

Acesso a água e saneamento

Globalmente, cerca de 3% dos estabelecimentos de saúde nas áreas urbanas e 11% nas áreas rurais não tinham serviço de água. Nos países menos desenvolvidos, apenas 53% dos estabelecimentos de saúde têm acesso local a uma fonte de água protegida, em comparação ao número global que é de 78%.

Dos países com dados disponíveis, uma em cada 10 unidades de saúde em todo o mundo não tinha serviço de saneamento. Nas nações menos desenvolvidos, apenas uma em cada cinco tinha serviços de saneamento básico em unidades de saúde. Os dados revelam ainda que muitas unidades de saúde carecem de limpeza ambiental básica e segregação segura e descarte de resíduos de saúde.

A diretora do Departamento de Clima, Meio Ambiente, Energia e Redução de Risco de Desastres do Unicef alerta que se os prestadores de serviços de saúde não têm acesso a um serviço de higiene, “os pacientes não têm uma unidade de saúde”.

Kelly Ann Naylor ressalta ainda que hospitais e clínicas sem água potável e serviços básicos de higiene e saneamento “são uma potencial armadilha mortal” para mães grávidas, recém-nascidos e crianças. Todos os anos, cerca de 670 mil bebês perdem a vida dias para a sepse poucos dias depois do nascimento.

Profissional de saúde prepara vacina de Covid-19 em Luanda, Angola.

Foto: © WHO/Booming/Carlos Cesar

Profissional de saúde prepara vacina de Covid-19 em Luanda, Angola.

Medidas básicas

Segundo a diretora do Departamento de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS, Maria Neira, a higiene nas instalações de saúde não pode ser garantida sem aumentar os investimentos em medidas básicas, que incluem água potável, banheiros limpos e resíduos de saúde gerenciados com segurança.

Para ela, a melhoria desses serviços é essencial para recuperação, prevenção e preparação de pandemias. A representante pede aos Estados-membros que intensifiquem seus esforços para implementar seu compromisso da Assembleia Mundial da Saúde de 2019, fortalecendo serviços de água, saneamento e higiene em unidades de saúde.

Uma mãe leva seu bebê de seis meses para um exame de saúde em uma clínica em Chipata, Zâmbia

© Unicef/Karin Schermbrucker

Uma mãe leva seu bebê de seis meses para um exame de saúde em uma clínica em Chipata, Zâmbia

Prevenção

A OMS destaca que as mãos e os ambientes contaminados desempenham um papel significativo na transmissão de patógenos nas unidades de saúde e na disseminação da resistência antimicrobiana.

Por isso, aumentar o acesso à higienização com água e sabão e limpeza ambiental são a base dos programas de prevenção e controle de infecções. Essas medidas também são cruciais para fornecer assistência de qualidade, principalmente para um parto seguro.

O relatório está sendo lançado na Semana Mundial da Água, em Estocolmo, na Suécia. A conferência anual, que acontece de 23 de agosto a 1º de setembro, explora novas maneiras de enfrentar os maiores desafios da humanidade, da segurança alimentar e saúde à agricultura, tecnologia, biodiversidade e clima.


Direito Internacional e Justiça

Entre as maiores conquistas das Nações Unidas está o desenvolvimento de um corpo de leis internacionais, convenções e tratados que promovem o desenvolvimento económico...