Gaza: Guterres “horrorizado” com ataque a hospital

Artigo original publicado em inglês pela UN News e em português pela ONU News 

O secretário-geral das Nações Unidas disse estar horrorizado com a morte de centenas de civis na sequência de um ataque a um hospital em Gaza, a 17 de outubro de 2023. Num tweet, António Guterres condenou veementemente o ataque, acrescentando que os seus sentimentos estão com as famílias das vítimas. 

Bombardeamento do Hospital 

De acordo com as agências de notícias, ambas as partes estão a acusar-se mutuamente. O Ministério da Saúde no enclave controlado pelo Hamas culpa os militares israelitas por um ataque aéreo que atingiu o Hospital Árabe al-Ahli na cidade de Gaza. 

Na rede social X (antigo Twitter), as Forças de Defesa de Israel declararam que, de acordo com as informações dos seus serviços secretos, os responsáveis foram os rockets disparados por militantes da Jihad Islâmica em direção a Israel, que se desviaram do curso. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, enfatizou que os hospitais e todo o pessoal médico estão protegidos pelo direito internacional, condenando a violência e citando ainda um ataque anterior a uma escola gerida pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente, UNRWA, que deixou pelo menos seis mortos.  

Direitos Humanos  

O alto comissário da ONU para os direitos humanos,  Volker Türk, descreveu o ataque ao hospital como “totalmente inaceitável”, acrescentando que “Ainda não conhecemos a dimensão total desta carnificina, mas o que é claro é que a violência e as mortes têm de parar imediatamente.” 

Volker Türk sublinhou que os hospitais são sagrados e devem ser protegidos a todo o custo, sendo que “os responsáveis devem ser responsabilizados”. 

“A Organização Mundial de Saúde (OMS) condena veementemente o ataque”, escreveu o diretor-geral da agência, o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, num post na rede social X. “Apelamos à proteção imediata dos civis e dos cuidados de saúde e à inversão das ordens de evacuação”, completou.  

Conselho de Segurança 

Na noite de terça-feira, 17 de outubro de 2023, em Nova Iorque, os Emirados Árabes Unidos e a Rússia convocaram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre a Palestina após o ataque ao hospital da cidade de Gaza. 

Na sessão, deverá ser votada uma resolução que busca garantir a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Um texto sugerido pela Rússia foi rejeitado nesta segunda-feira.  

© Unicef/Hassan Islyeh | O bairro de Al-Rimal, no norte de Gaza, foi devastado por ataques aéreos.

Ordem de evacuação “impossível de executar” 

O Hospital Árabe Al-Ahli estava operacional, com pacientes, profissionais de saúde e de cuidados e pessoas deslocadas internamente abrigadas no local, referiu a OMS num comunicado. Trata-se de um dos 20 hospitais no norte da Faixa de Gaza que enfrentam ordens de evacuação dos militares israelitas. 

“A ordem de evacuação foi impossível de executar dada a atual insegurança, o estado crítico de muitos pacientes e a falta de ambulâncias, de pessoal, de capacidade de camas do sistema de saúde e de abrigos alternativos para os deslocados”, afirmou a OMS. 

A agência sanitária da ONU apelou à proteção ativa imediata dos civis e dos cuidados de saúde. “As ordens de evacuação devem ser revogadas. O direito humanitário internacional deve ser respeitado, o que significa que os cuidados de saúde devem ser ativamente protegidos e nunca visados”. 

Nem os hospitais estão a salvo 

Gaza tem uma população de mais de 2 milhões de habitantes e a crise já deslocou cerca de 600.000 pessoas.  Muitas procuraram segurança nos hospitais, que já estão sobrecarregados com o aumento do número de vítimas e de mortes, e com a escassez de combustível e de material médico. 

“Vão a estes hospitais porque esperam que sejam locais seguros. Agora, mesmo um hospital já não é um lugar seguro, o que é que é?”, questionou o representante da OMS nos Territórios Palestinianos Ocupados, Richard Peeperkorn.  

Segurança em hospitais 

Além da insegurança, comida, água e medicamentos essenciais e o material de saúde estão a escassear em Gaza. Dos 35 hospitais existentes, quatro não estão a funcionar devido a danos graves e a ataques, afirmou. Além disso, apenas oito dos 22 centros de cuidados de saúde primários da UNRWA estão a funcionar parcialmente.  

Richard Peeperkorn relatou que todos os hospitais, especialmente os maiores, estão com escassez de suprimentos e medicamentos essenciais, incluindo para o tratamento de doenças não transmissíveis como diabetes.  

Os bancos de sangue têm apenas uma semana de suprimento restante. 

Unicef/Hassan Islyeh | A comida está a acabar rapidamente em Gaza.

Ajuda na fronteira 

Entretanto, os camiões que transportam ajuda vital continuam alinhados no posto de Rafah, a única passagem fronteiriça entre Gaza e o Egito.  

O diretor regional de emergência da OMS no Mediterrâneo Oriental, o Dr. Richard Brennan, descreveu a situação como “extremamente frustrante”. “Os altos funcionários da ONU chegam esta noite ao Cairo e amanhã, e espero que consigam negociar com todas as partes relevantes para que a abertura ocorra o mais rapidamente possível”. 

“Não é apenas uma questão de abrir ou fechar o portão na fronteira. Vai ser necessária uma diplomacia de alto nível entre vários países”, refletiu o diretor de emergências da OMS, o Dr. Mike Ryan. 

“A violência tem de parar, os bombardeamentos têm de parar e temos de prestar assistência à população de Gaza. E isso tem de acontecer agora, tem de acontecer esta noite, tem de acontecer amanhã de manhã. Isto não pode esperar. Simplesmente não pode esperar”. 


Direito Internacional e Justiça

Entre as maiores conquistas das Nações Unidas está o desenvolvimento de um corpo de leis internacionais, convenções e tratados que promovem o desenvolvimento económico...