Relatório ONU: governos no caminho errado para cumprir Acordo de Paris

Segundo o Relatório sobre o Défice de Produção, elaborado por diversos centros de investigação em associação com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), os países com os maiores níveis de produção de combustíveis fósseis têm a intenção produzir mais do dobro destes combustíveis fósseis até 2030 do que o que estaria alinhado com os compromissos para a limitação do aquecimento global a 1,5°C.

Relatório mede o défice entre as projeções dos governos relativamente à produção de carvão, petróleo e gás natural, e os níveis globais definidos pelo Acordo de Paris, bem comoo limite do aumento da temperatura estabelecido. Apesar de estes relatórios anuais terem começado a ser desenvolvidos em 2019, o défice de produção mostra-se em grande medida inalterado.

UN Photo/Kibae Park

Até 2040, os governos mundiais estão a estimar um aumento na produção de gás natural e de petróleo, com apenas uma modesta diminuição da produção de carvão, sendo que a produção total de combustíveis fósseis aumentará de tal forma que o défice de produção continuará a aumentar, indefinidamente.

“As consequências devastadores das alterações climáticas estão à vista de todos. Ainda há tempo para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, mas esta janela de oportunidade está a fechar-se rapidamente”, afirma a diretora executiva do PNUMA, Inger Andersen,

“Na COP26 e para além da mesma, os governos do mundo devem aumentar os seus esforços, tomando medidas rápidas e imediatas para colmatar o défice de produção de combustíveis fósseis e assegurar uma transição justa e equitativa. É a isto que se chama ambição climática”.

Relatório sobre o Défice de Produção de 2021

Relatório sobre o Défice de Produção, 2021

O relatório providencia perfis dos 15 maiores produtores de combustíveis fósseis: a Austrália, o Brasil, o Canadá, a China, a Alemanha, a Índia, a Indonésia, o México, a Noruega, a Rússia, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, o Reino Unido e os Estados Unidos.

Apesar do consenso científico de que a produção de gás natural, petróleo e carvão precisam de diminuir acentuadamente para o cumprimento do compromisso de manter o aquecimento global médio abaixo de 1,5ºC, os governos destes países continuam a providenciar estímulos financeiros para a produção de combustíveis fósseis.

As principais conclusões do relatório incluem:

  • Os governos mundiais planeiam produzir cerca de 110% mais combustíveis fósseis até 2030 do que seria consistente com a limitação do aquecimento a 1,5°C, e 45% mais do que estaria alinhado para evitar um aumento da temperatura de 2°C.
  • Os planos e projeções de produção dos governos conduzirão à produção adicional em 240% de carvão, 57% de petróleo e 71% de gás natural até 2030.
  • Prevê-se que o maior aumento de produção global de gás natural aconteça entre 2020 e 2040. Esta expansão global contínua e a longo prazo na produção de gás é inconsistente com os compromissos climáticos estabelecidos em 2015.
  • Os países canalizaram mais de 300 mil milhões de dólares em novos fundos para atividades de produção de combustíveis fósseis desde o início da pandemia da Covid-19 – mais do que o que contribuíram para a produção de energia limpa.
  • Em contraste, o financiamento público internacional para a produção de combustíveis fósseis proveniente dos países do G20 e das principais instituições financeiras multilaterais para o desenvolvimento diminuíram significativamente nos últimos anos.
  • Informação verificável e comparável sobre a produção e apoio à produção de combustíveis fósseis – de governos e empresas – é essencial para analisar o défice de produção.

Para mais informação, consulte o site oficial: productiongap.org (apenas disponível em inglês)


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