Guterres diz que mundo foi reprovado no teste de cooperação durante pandemia

O secretário-geral, António Guterres, disse que “a pandemia é um teste claro de cooperação internacional” e que a comunidade internacional não passou nesse exame. 

O chefe da ONU discursou ao Conselho de Segurança durante discussão governança global após a crise de saúde. Até esta quinta-feira, a Covid-19 havia infectado mais de 30 milhões de pessoas causando cerca de 1 milhão de mortes. 

Chefe da ONU pediu organizações internacionais mais adaptadas a desafios do século 21, ONU/Eskinder Debebe

Prioridades 

Segundo Guterres, o novo coronavírus “está fora de controle” e “isso foi o resultado de uma falta de preparação global, cooperação, unidade e solidariedade.” 

Para ele, o mundo precisa urgentemente de um pensamento inovador sobre governança global e multilateralismo adequados para o século 21. 

O secretário-geral destacou depois várias mudanças na ONU para alcançar esse objetivo.  

Desde que assumiu o cargo, Guterres tornou a parceria estratégica com a União Africana uma prioridade. Segundo ele, isso é um modelo que a ONU “deve seguir nas relações com outras organizações regionais.” 

Mandatos 

Pedindo que o Conselho aprofunde essa colaboração, ele disse que a União Africana poderia, por exemplo, conduzir operações de paz e contraterrorismo, apoiadas por mandatos do Conselho de Segurança. 

Para Guterres, a comunidade internacional está “em descompasso” com a realidade atual 

Guterres também realçou o foco na prevenção, incluindo a iniciativa Ação para Manutenção da Paz e várias iniciativas para erradicar exploração e abuso sexual em todo o sistema ONU. 

O secretário-geral mencionou a resolução 2532 do Conselho de Segurança, aprovada em julho, sobre um cessar-fogo global imediato. 

Ameaças 

Para Guterres, conflitos, violações dos direitos humanos, crises humanitárias e atrasos no desenvolvimento estão interconectados, mas a resposta global é cada vez mais fragmentada. Para ele, a comunidade internacional está “em descompasso” com a realidade atual. 

Cientistas em todo o mundo continuam trabalhando em vacina. Para Guterres, esta deve ser uma área de cooperação, Universidade de Oxford/John Cairns

O chefe da ONU afirmou que “esta pandemia é um alerta para desastres ainda mais graves que podem ocorrer, começando pela crise climática.” 

Muitos dos desafios de hoje atravessam fronteiras, desde a crise climática até o aumento da desigualdade e o crime cibernético. Também envolvem grupos de interesse, empresas, organizações e setores que estão fora dos conceitos tradicionais de governança global. 

O mundo precisa de uma governança global determinada, coordenada e flexível. Para o secretário-geral, “em um mundo onde as ameaças estão interligadas, a solidariedade é do interesse de todos.” 

Inclusão 

A nova governança global deve, por isso, incluir empresas, sociedade civil, cidades e regiões, universidades e jovens. Guterres destacou ainda as mulheres, metade da população global, têm sido preteridas. 

No próprio debate geral da ONU, a primeira mulher a discursar foi a número 57 na lista de oradores. Para Guterres, “as mulheres que assistem ao Debate Geral têm o perfeito direito de sentir excluídas.”

No próprio debate geral da ONU, a primeira mulher a discursar foi a número 57 na lista de oradores

Pandemia 

O chefe da ONU afirmou ainda que a “a pandemia ilustrou, indiscutivelmente, as lacunas no sistema multilateral.” Segundo ele, “enquanto os países vão em direções diferentes, o vírus vai em todas as direções.” 

Para Guterres, uma abordagem racional e equitativa da vacinação reduziria as mortes, priorizando os trabalhadores da linha de frente e os mais vulneráveis. Apesar dessas vantagens, a organização “tem lutado para mobilizar os recursos necessários.” 

Ele lembrou ainda a “polarização e fragmentação sem mecanismos eficazes de governança multilateral” de há cem anos, que acabou resultando na Primeira e Segunda Guerra Mundiais. 

Agora, “a Covid-19 está lançando uma sombra escura em todo o mundo” e Guterres diz que o mundo “não tem outra escolha” se não agir.  

Para o secretário-geral, ou os Estados-membros se reúnem “em instituições globais adequadas ou serão esmagados pela divisão e pelo caos.” 


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