Guterres na Ucrânia: retoma de exportação de trigo é uma vitória da diplomacia

Líder da ONU considera que este é um momento positivo para a Iniciativa do Mar Negro que pretende ajudar pessoas vulneráveis a ter acesso a alimentos e representa uma “vitória da diplomacia” que beneficia tanto os que estão a ser afetados pelo aumento dos preços dos alimentos como os produtores ucranianos.

 

Ao lado dos presidentes Volodymyr Zelenskyy e Recep Tayyip Erdoğan, António Guterres agradeceu a oportunidade de visitar a Ucrânia “novamente durante um período tão difícil”. Apesar da Iniciativa do Mar Negro ter sido assinada há algumas semanas, o chefe da ONU reiterou que “não há solução para a crise alimentar global sem garantir o acesso global total aos produtos alimentares da Ucrânia e aos alimentos e fertilizantes russos”.

Em menos de um mês, 21 navios partiram dos portos ucranianos e 15 embarcações deixaram Istambul para a Ucrânia para carregar grãos e outros alimentos, recapitulou Guterres: “Enquanto falamos, mais de 560.000 toneladas cúbicas de grãos e de outros alimentos produzidos por agricultores ucranianos estão a chegar aos mercados em todo o mundo”, afirmou, incluindo o primeiro navio fretado pela ONU que transporta trigo ucraniano para pessoas no Corno de África que vivem a pior seca em décadas.

Entretanto, surgem sinais de que os mercados mundiais de alimentos estão a começar a estabilizar, já que os preços do trigo caíram até 8% após a assinatura dos acordos e o Índice de Preços de Alimentos da FAO recuou 9% em julho – o maior declínio desde 2008.

Embora a maioria dos produtos alimentares esteja atualmente a ser negociados a preços abaixo dos níveis pré-guerra, os preços continuam muito altos.

“Não tenhamos ilusões – há um longo caminho a percorrer antes que isso se traduza na vida quotidiana das pessoas, na sua padaria local e nos seus mercados”, explicou Guterres, lembrando que “as cadeias de abastecimento ainda estão interrompidas [ e] os custos de energia e transporte permanecem inaceitavelmente altos”.

O líder da ONU destacou ainda a fragilidade inerente dos acordos, defendendo que estes devem ser “constantemente nutridos” e à medida que o Centro de Coordenação Conjunta (JCC) continua a trabalhar profissionalmente e de boa fé para manter o fluxo de alimentos, Guterres apelou que os envolvidos “superem todos os obstáculos com espírito de compromisso e resolvam permanentemente todas as dificuldades”.

“Retirar alimentos e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia em maiores quantidades é crucial para acalmar ainda mais os mercados e baixar os preços”, e essencial para aliviar os mais vulneráveis”.

O chefe da ONU destacou também a urgência de reverter a turbulência no mercado internacional de fertilizantes, que atualmente ameaça as próximas colheitas – incluindo um alimento básico mundial: o arroz.

Enquanto isso, a ONU continuará solidária com o povo ucraniano e com os seus parceiros nacionais para ajudar a fornecer apoio humanitário às pessoas necessitadas “onde quer que seja necessário”, explicou o diplomata português, acrescentando que “faremos o possível para ampliar as nossas operações para enfrentar as dificuldades do próximo inverno”.

“O cerne do problema que nos traz aqui continua a ser a guerra”, lembrou o secretário-geral, reiterando que a invasão russa é “uma violação da integridade territorial da Ucrânia” e da Carta da ONU.

O conflito causou inúmeras mortes, destruição maciça, deslocamentos e violações dramáticas dos direitos humanos, afirmou ainda Guterres, acrescentando que, de acordo com a Carta e o direito internacional, “as pessoas precisam de paz”.

 

Ameaça nuclear

O alto funcionário da ONU expressou a sua grave preocupação com a situação no interior e ao redor da maior central nuclear da Europa, em Zaporizhzhia.

“O bom senso deve prevalecer para evitar quaisquer ações que possam colocar em risco a integridade física, segurança ou proteção da central nuclear”, disse, acrescentando que esta infraestrutura “não deve ser usada como parte de uma operação militar”.

Guterres defendeu a necessidade urgente de um acordo para “restabelecer Zaporizhia como infraestrutura puramente civil” e garantir a segurança da área.

Depois de fazer uma avaliação, com o acordo da Rússia e da Ucrânia, o Secretariado da ONU determinou que pode apoiar o superintendente nuclear da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), na condução de uma missão à Central Nuclear de Zaporizhzhia de Kyiv.

O chefe da ONU destacou que o equipamento e o pessoal militar devem ser evacuados desta central, nenhuma outra força ou equipamento deve entrar e a área deve ser desmilitarizada.

“Qualquer dano potencial a Zaporizhzhia é suicídio”, concluiu.

Durante a sua segunda visita à Ucrânia desde o início da guerra, Guterres irá visitar um dos três portos que estão a operar no contexto da Iniciativa do Mar Negro que promoveu a retoma de exportação de trigo. Antes do início do conflito, a Ucrânia exportava 6 milhões de toneladas por mês.

Ainda durante esta deslocação à Europa, António Guterres irá a Istambul, Turquia, para visitar o Centro Conjunto de Coordenação, o mecanismo que apoia a a implementação da iniciativa liderada pela ONU – Iniciativa do Mar Negro – para retomar a exportação de grãos.

 


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