Guterres presta homenagem a Sousa Mendes durante inauguração de Casa-Museu

© Wikipedia/Namaacha A casa de Aristides de Sousa Mendes em Cabanas de Viriato, Portugal, foi transformada num museu

 

Secretário-geral destaca papel do ex-diplomata em Bordeaux, França, por salvar judeus de forças nazis; mensagem de vídeo sobre o homenageado enaltece a coragem e a inspiração para a defesa dos direitos humanos e da dignidade.

 

Portugal inaugurou a Casa-Museu Aristides de Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, no distrito de Viseu. O espaço apresenta o acervo do antigo cônsul do país em Bordéus que emitiu vistos a milhares de judeus, salvando-os durante o Holocausto.

Aristides de Sousa Mendes chegou a França em 1938 onde assumiu a liderança do posto consular da cidade de Bordéus. Pouco depois, em 1940, França foi invadida e milhares de refugiados tentaram chegar à fronteira com Espanha, mas para a ultrapassarem necessitavam de vistos para Portugal. Por ordem ministerial, o diplomata não estava autorizado a assinar vistos sem autorização prévia. No entanto, Aristides de Sousa Mendes assumiu a responsabilidade de salvar todos os que pudesse e passou vistos sem olhar a quem ou ao número de pessoas. Milhares foram salvos e chegaram a Portugal. Esta decisão custou-lhe um processo disciplinar, o afastamento da carreira diplomática e grandes dificuldades económicas. Morreu em 1954 na pobreza.

Na década seguinte, Israel considerou-o um dos “Justos entre as Nações”, mas, em Portugal, a sua história só se tornou conhecida pelo público no final do século passado.

 

Discriminação, intolerância e ódio

Para a inauguração, o secretário-geral da ONU enviou um vídeo onde elogiou o exemplo de bravura e inspiração de Sousa Mendes na defesa de direitos humanos e da dignidade. António Guterres destacou ainda que o diplomata é um modelo no combate à discriminação, à intolerância e ao ódio.

“O seu legado consiste em vidas salvas e vidas vividas incluindo uma jovem que, anos mais tarde, se tornaria a mãe do meu próprio porta-voz nas Nações Unidas. Pelo seu ato extraordinário, Aristides de Sousa Mendes foi pessoalmente repreendido pelo ditador António de Oliveira Salazar e expulso do corpo diplomático sem qualquer pensão.”

O líder das Nações Unidas ressalva ainda que o cônsul Aristides de Sousa Mendes morreu na pobreza, mas tem reconhecida a magnitude e a bravura das suas ações ao terem sido tomadas medidas para corrigir as injustiças.

 

 

Um exemplo num momento crucial

Para Guterres, o museu localizado na casa ancestral do cônsul é uma parte fundamental desses esforços “que se evidencia ao ensinar as gerações do presente e futuras sobre a imensa coragem e os horrores do Holocausto”.

“A inauguração do Museu acontece num momento crucial. Hoje, o nosso mundo é perigoso e está dividido. O número de pessoas forçadas a abandonar as suas casas atingiu um nível recorde. E o ódio e a intolerância – incluindo o antissemitismo, o anti-islamismo e os ataques contra cristãos e outros grupos – são frequentes.”

Para o secretário-geral, Aristides de Sousa Mendes é um exemplo de coragem e compaixão que deve ser lembrado no contexto atual de uma sociedade que enfrenta o risco de esquecer estes valores por completo.

Há cinco anos, Aristides de Sousa Mendes foi um dos 36 diplomatas reconhecidos nas Nações Unidas como “Justos entre as Nações”. A distinção foi feita pela Autoridade de Recordação dos Mártires e Heróis do Holocausto, Yad Vashem.

 

*artigo escrito com a ONU News