HeforShe: juntos pelos direitos das mulheres em Portugal

Entrevista Monica He For She

A igualdade de género é um direito humano, mas continua a ser um sonho distante para muitas mulheres em todo o mundo. É por reconhecer a importância dos princípios fundamentais da Declaração Universal dos Direitos Humanos na construção de um mundo solidário e justo que, em 2014, as Nações Unidas lançaram uma campanha global que promove e defende os direitos das mulheres: HeForShe.

No cerne da iniciativa, lançada pela agência especializada ONU Mulheres, reside um objetivo simples e claro: encorajar jovens e homens de todo o mundo a tomarem medidas contra a desigualdade de género. Fruto da vontade de alcançar a igualdade e incentivar os cidadãos a participar como agentes de mudança contra os estereótipos, o movimento HeForShe materializou-se em Portugal em 2017.

O UNRIC conversou com Mónica Canário, atual coordenadora e responsável do HeForShe em Portugal, para saber como é que o movimento está a ser recebido no país. Porque os direitos das mulheres merecem a nossa maior atenção e a mais ampla proteção, convidamo-lo a ler a entrevista na íntegra.

  1. Como é que o HeForShe chegou a Portugal?

O movimento chegou a Portugal através da Carolina Pereira que fundou a My Destiny, uma organização sem fins lucrativos focada na sustentabilidade. Este projeto chamou a atenção das Nações Unidas que a desafiaram a trazer o movimento para Portugal.

As universidades foram o ponto de partida, porque tinham tanto a infraestrutura como o capital humano e conseguiam ser responsáveis pela articulação entre o HeForShe e os cidadãos. Nessa altura, na condição de estudante de doutoramento em Ciência Política, investigadora no Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL e ativista em questões de género, fui convidada a integrar o movimento e acabei por coordenar a equipa no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa.

O HeForShe materializou-se através de protocolos feitos com centros de investigação e de conferências. A partir da primeira conferência conseguimos estabelecer outras parcerias e expandimos operações por todo o país. Atualmente temos perto de 15 núcleos ativos. Houve, desde o início, um grande interesse por parte dos alunos, de cidadãos comuns e até de associações externas em colaborar neste projeto.

  1. Que questões sociais é que o HeForShe veio colmatar no país?

Inicialmente foi feita uma avaliação sobre o que se esperava do movimento em Portugal. Desde logo percebemos a ausência de iniciativas que se aproximassem realmente das pessoas – que fossem acessíveis. A maior parte das associações que trabalham em questões de género em Portugal não estão ao alcance das pessoas e foi isso que tentámos colmatar. Para tal, criámos um espaço dentro das universidades onde as pessoas podem colocar em prática iniciativas que se insiram dentro do escopo das questões de género. Quisemos, desde o início, que as pessoas tivessem acesso a uma organização que as ouvisse e que apoiasse as suas iniciativas porque essa era, efetivamente, a necessidade que existia.

  1. Qual é a importância de trazer este tipo de movimentos para Portugal?

É extremamente importante porque, até então, não existiam movimentos que chegassem às camadas mais jovens e que provocassem uma mudança real. Uma das maiores vitórias do HeForShe Portugal foi ser convidado, pela escola católica Salesianos do Estoril, a participar na conferência TEDxYouth para falar sobre igualdade de género.  Em Portugal é inédito ter um movimento que aborda questões de género, a fazer um discurso numa escola católica.

Outro dos exemplos que posso dar é o das Conferências do Estoril Júnior, onde fomos convidados a falar, com uma turma do segundo ano. De forma a conseguir passar a mensagem a este público mais jovem foi necessário desenvolver atividades mais didáticas e lúdicas e criámos um jogo sobre divisão de tarefas domésticas entre homens e mulheres, no contexto da família dos alunos. No final do jogo, a turma concluiu que as mulheres tinham mais tarefas domésticas do que os homens. Como resultado, o HeForShe pediu aos alunos para incentivar os homens da sua família a desempenhar mais tarefas. São estas pequenas mudanças que podem acontecer quando se trazem movimentos deste tipo para Portugal.

  1. Quais são os desafios de falar sobre questões de género em Portugal?

Abordar a desigualdade de género é um desafio quando se fala com as camadas mais vulneráveis da sociedade. É interessante falar destes temas em locais onde a igualdade de género é só mais um problema. Continua a ser um desafio explicar que a desigualdade de género é um problema num meio onde já existem outros desafios gravíssimos.

  1. Que papel é que espera que o HeForShe desempenhe em Portugal?

O HeforShe permitiu-me encontrar um sítio onde posso expressar o meu ADN. Sempre tive interesse por questões de género mas nunca soube ao certo como poderia começar. Ter o HeforShe na minha universidade, como um projeto acessível, permitiu-me dar voz aos meus projetos nessa área. É isso que espero deste movimento: que continue a dar voz e a apoiar iniciativas que defendam os direitos das mulheres.

Também espero que o HeforShe continue a ser um movimento para os mais jovens, que não conseguimos impactar na universidade. Se trabalharmos as questões de género na infância, garantimos que os jovens crescem e se tornam em adultos que não vão discriminar. É preciso trabalhar muito a questão do consentimento, explicar que não é não. Em Portugal existem várias associações a fazer um trabalho fantástico e o problema de não termos uma resolução mais rápida é a falta de intercomunicação entre essas associações. Todos precisamos de todos para fazermos mais e melhor.

“A longo prazo, o ideal seria que o HeforShe deixasse de existir, porque isso significava que já não seria necessário existir. Trabalhar as questões de género é trabalhar a longo prazo. Os resultados demoram mas o HeforShe é um projeto altruísta.”

Quer implementar o núcleo HeForShe na sua universidade?

Para isso basta criar uma equipa de, no mínimo, três pessoas, garantir a continuidade do núcleo e organizar duas conferências por ano.  O seu núcleo contará com o apoio logístico e estrutural da equipa nuclear do HeForShe Portugal. Para saber mais sobre a criação de núcleos HeForShe contacte: [email protected]