Israel-Gaza: Ajuda humanitária tem luz verde para entrar no enclave

Artigo original publicado em inglês pela UN News 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou pela primeira vez a um cessar-fogo humanitário imediato no Médio Oriente para aliviar o “sofrimento humano épico” no conflito entre Israel e Gaza. O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) aplaudiu o acordo alcançado entre os EUA e Israel, que permitirá a entrada no enclave, através da fronteira egípcia, de alimentos, água e ajuda médica. 

Em Pequim, António Guterres afirmou que um cessar-fogo “proporcionaria tempo e espaço suficientes” para concretizar dois apelos essenciais que lançou no início da semana: ao Hamas, para que liberte imediata e incondicionalmente os reféns detidos em Gaza, e a Israel, para que permita imediatamente a entrada de ajuda no enclave, que atravessa uma crise humanitária devastadora. 

“A região está à beira do abismo”, advertiu. O apelo do secretário-geral foi feito um dia depois de centenas de pessoas terem sido mortas num ataque ao Hospital Al-Ahli na cidade de Gaza, que Guterres condenou veementemente, sublinhando que os hospitais e todo o pessoal médico estão protegidos pelo direito internacional. 

Ambas as partes se acusaram mutuamente, com as autoridades de facto de Gaza a acusarem os militares israelitas, que, por sua vez, atribuíram a culpa aos foguetes mal disparados lançados contra Israel por militantes da Jihad Islâmica. 

O presidente dos EUA, Joe Biden, encontra-se em Israel, onde se reuniu com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Biden prometeu apoio a Israel e disse estar “profundamente triste e indignado” com a explosão letal no hospital da cidade de Gaza. 

© UNICEF/Mohammad Ajjour | Crianças caminham entre os destroços de casas destruídas por ataques aéreos no campo de refugiados de Al Shati, em Gaza.

Entrada de ajuda em Gaza 

Joe Biden anunciou também que Israel concordou em permitir a entrada de ajuda na Faixa de Gaza através da fronteira com o Egito, o que, segundo a imprensa, foi confirmado pelo gabinete de Netanyahu.  

Em resposta, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou no Twitter que saudava a liderança dos EUA e a decisão israelita de permitir a entrada de ajuda essencial em Gaza, afirmando que “muitas vidas dependem disso“. 

“Catástrofe sem precedentes”  

O comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), Philippe Lazzarini, discursou numa reunião de emergência do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros da Organização de Cooperação Islâmica e afirmou que “uma catástrofe sem precedentes está a desenrolar-se perante os nossos olhos”. 

“Gaza está a ser estrangulada e o mundo parece ter perdido a sua humanidade“, acrescentou. “A cada hora que passa, recebemos mais e mais pedidos de ajuda desesperados de pessoas de toda a Faixa de Gaza. Milhares de civis foram mortos nos últimos 12 dias, incluindo mulheres e crianças”. 

OMS | Hospital Al-Shifa, em Gaza, no território palestiniano ocupado. A OMS alerta para o facto de os hospitais da Faixa de Gaza se encontrarem num ponto de ruptura.

Ajuda retida na fronteira 

Os camiões que transportam ajuda vital continuam a fazer fila na passagem de Rafah, entre Gaza e o Egipto. Numa publicação na plataforma social X (antigo Twitter), o diretor-geral da OMS lamentou o facto de os fornecimentos da OMS estarem “presos” na fronteira há quatro dias. “Cada segundo que esperamos para receber ajuda médica, perdemos vidas”, comentou Tedros Adhanom Ghebreyesus . 

Os esforços diplomáticos incansáveis dos altos funcionários das Nações Unidas a favor do acesso humanitário deverão continuar, com o coordenador da ajuda de emergência da organização, Martin Griffiths, no terreno, no Cairo, onde se juntará ao secretário-geral Guterres nesta quinta-feira, 19 de outubro de 2023. 

Num tweet, Martin Griffiths partilhou que fornecer ajuda à população de Gaza é “uma questão de vida ou de morte”. “Fazê-lo de forma “sustentada, desimpedida e previsível” é um “imperativo humanitário”, acrescentou. 

Demasiadas vidas em risco 

Os alimentos, a água, os medicamentos essenciais e o material sanitário estão a esgotar-se rapidamente em Gaza, onde mais de um quarto da população foi deslocada desde o início do conflito. 

A OMS afirmou que, dos 35 hospitais existentes no local, quatro não estão a funcionar “devido a danos graves e a ataques”. Apenas oito dos 22 centros de cuidados de saúde primários geridos pela UNRWA estão parcialmente operacionais. 

António Guterres reforçou que a ajuda é desesperadamente necessária para responder às “necessidades mais básicas” da população de Gaza, cuja “esmagadora maioria” são mulheres e crianças. 

Demasiadas vidas – e o destino de toda a região – estão em jogo“, declarou. 


Direito Internacional e Justiça

Entre as maiores conquistas das Nações Unidas está o desenvolvimento de um corpo de leis internacionais, convenções e tratados que promovem o desenvolvimento económico...