Israel-Palestina: Conselho de Segurança da ONU volta a reunir-se

Artigo original publicado pela ONU News 

Depois de quatro tentativas de chegar a um consenso sobre uma resolução em Gaza, o Conselho de Segurança da ONU voltou a reunir-se para discutir a crise em curso; a sessão aconteceu durante a intensificação das operações e bombardeamentos israelitas. 

O Conselho de Segurança reuniu-se para uma sessão de emergência para voltar a debater a crise no Médio Oriente.  

Após a escalada da violência em Gaza nos últimos dias, o comissário-geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou que “um cessar-fogo humanitário imediato se tornou uma questão de vida e morte de milhões”. 

Cessar-fogo humanitário: uma questão de vida ou morte 

Philippe Lazzarini acrescentou que “o presente e o futuro dos palestinianos e israelitas depende disso” e destacou que 1 milhão de pessoas, metade da população de Gaza, foram expulsas do norte e tiveram que se dirigir para o sul nas últimas três semanas.  

No entanto, as mulheres grávidas, pessoas com deficiência, doentes e feridos, são incapazes de fugir. Além disso, o sul “não foi poupado do bombardeamento, com números significativos de mortos”, lamentou Lazzarini. 

O comissário-geral da UNRWA sublinhou que igrejas, mesquitas, hospitais e instalações da agência, incluindo aquelas que abrigam pessoas deslocadas, “não foram poupadas”. Muitas pessoas foram mortas e feridas “enquanto procuravam segurança em lugares protegidos pelo direito humanitário internacional”. 

Segundo Lazzarini, mais de 670 mil pessoas deslocadas estão em escolas e edifícios sobrelotados da agência, vivendo em condições terríveis e insalubres, com alimentação e recursos limitados, falta de água e dormindo no chão sem colchões, ou ao ar livre. O esgoto está a transbordar nas ruas, o que traz enormes riscos para a saúde. 

ONU | O comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, discursa na reunião do Conselho de Segurança da ONU

“A População inteira está a ser desumanizada” 

Philippe Lazzarini enfatizou que “a fome e o desespero estão a transformar-se em raiva contra a comunidade internacional”.  

Segundo o comissário-geral da UNRWA, os palestinianos sentem que o mundo está “a igualá-los a todos ao Hamas”. Como resultado, “uma população inteira está a ser desumanizada”.  

O recente bloqueio das comunicações “agravou o pânico e a angústia das pessoas em Gaza”, uma vez que não conseguiam comunicar com os seus familiares, não sabiam se continuariam a receber comida e acabaram por se sentir abandonadas.  

O pânico levou milhares de pessoas desesperadas a dirigirem-se aos armazéns e centros de distribuição de alimentos da UNRWA, onde ficam guardados os suprimentos que começaram a chegar através do Egipto na semana passada. 

O comissário-geral acrescentou que outra crise está a eclodir na Cisjordânia, inclusive em Jerusalém Oriental. As mortes de palestinianos este ano são as mais elevadas desde que a ONU começou a efetuar registos em 2005. Pelo menos 115 palestinianos foram mortos desde 7 de outubro, incluindo 33 crianças.  

Situação das crianças 

A diretora do Fundo da ONU para a Infância (UNICEF) destacou que após três semanas de violência, a quantidade de violações graves que estão a ser cometidas contra as crianças não para de subir.  

De acordo com o Ministério da Saúde Palestiniano, mais de 8,3 mil palestinianos foram mortos em Gaza, incluindo mais de 3,4 mil crianças. Outros 6,3 mil menores foram feridos.  

Assim, Catherine Russell alerta que mais de 420 crianças estão a ser mortas ou feridas em Gaza a cada dia.  

A diretora executiva da UNICEF afirma que a violência na Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, também já deixou pelo menos 37 crianças mortas. Além disso, mais de 30 crianças israelitas terão sido mortas, enquanto pelo menos 20 permanecem reféns na Faixa de Gaza. 

ONU | A diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, Catherine Russell discursa na reunião do Conselho de Segurança da ONU

Infraestrutura civil é alvo de ataques 

Segundo dados da UNICEF, a infraestrutura civil também tem sido alvo de ataques intensos.  

A Organização Mundial da Saúde em Gaza já registou 34 ataques contra instalações de saúde, incluindo 21 hospitais. Doze dos 35 hospitais de Gaza, que também estão a ser usados como abrigos para pessoas deslocadas, não estão capazes de continuar em funcionamento.  

Enquanto pelo menos 221 escolas e mais de 177 mil unidades habitacionais foram danificadas ou destruídas, a escassa água potável restante em Gaza está a acabar rapidamente, deixando mais de 2 milhões de pessoas numa situação crítica.  

Estima-se que 55% da infraestrutura de abastecimento de água requer reparos ou reabilitação. Apenas uma usina de dessalinização está a operar a apenas 5% da sua capacidade, enquanto as seis estações de tratamento de água de Gaza estão agora fora de serviço por falta de combustível ou energia.  

A UNICEF alerta que a escassez de água limpa e saneamento seguro está à beira de se tornar uma catástrofe. A menos que o acesso seja urgentemente restaurado, mais civis adoecerão ou morrerão de desidratação ou doenças transmitidas pela água. 

Segurança para as crianças 

A diretora executiva da UNICEF fez um apelo ao Conselho de Segurança pela adoção de uma resolução que lembre às partes as suas obrigações sob o direito internacional, exija um cessar-fogo e reclame que as partes permitam o acesso humanitário seguro. 

Catherine Russell acredita também que o texto deve exigir a imediata e segura libertação de todas as crianças sequestradas e detidas. Além disso, o Conselho de Segurança deve priorizar o que agora se tornou uma crise de deslocação que está a piorar: com mais de 1,4 milhão de pessoas em Gaza, a maioria das quais crianças, agora deslocadas.  

Para Catherine Russell, todas as partes devem cessar a violência e evitar quaisquer violações graves cometidas contra crianças. As partes devem garantir o movimento seguro de suprimentos e pessoal humanitário por toda a Faixa de Gaza para a entrega de assistência humanitária. 

ONU/Eskinder Debebe | A diretora de Mobilização de Recursos do Ocha, Lisa Doughten, discursa na reunião do Conselho de Segurança da ONU

Horror em Gaza 

Em nome do subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, que está em missão em Israel e no Território Palestiniano Ocupado, a diretora de Financiamento Humanitário e Mobilização de Recursos, Lisa Doughten, afirmou que é desafiante descrever “a escala do horror que as pessoas estão a viver em Gaza”. 

A representante do OCHA teceu também um apelo pelo cessar-fogo humanitário. Lisa Doughten explicou que a pausa proporcionaria a tranquilidade e segurança necessárias para que os reféns sejam libertados e para que a ONU reponha os suprimentos, alivie o pessoal exausto e retome a assistência em toda a Faixa de Gaza. Mais ainda, acrescentou que o cessar da violência também proporcionaria um alívio “muito necessário para os civis que vivem em condições inimaginavelmente traumáticas”. 

Lisa Doughten afirmou que, com ou sem uma pausa nos combates, todas as partes devem respeitar o direito internacional humanitário, permitindo a entrada de ajuda humanitária e poupando civis, incluindo trabalhadores humanitários e médicos, instalações e recursos.  


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