Israel-Palestina: “Já se passaram 30 dias. Isto tem de acabar já.”

Numa declaração conjunta, os dirigentes de várias agências das Nações Unidas, membros do Comité Permanente Inter-Agências sobre a situação em Israel e nos Territórios Palestinianos Ocupados, apelam a um “cessar-fogo humanitário imediato”.  

“Isto é inaceitável” 

“Há quase um mês que o mundo assiste ao desenrolar da situação em Israel e nos Territórios Palestinianos Ocupados, chocado e horrorizado com o número crescente de vidas perdidas e destroçadas.”, principia a declaração.  

À medida que as hostilidades entravam no trigésimo dia, registaram-se confrontos armados contínuos entre os militares israelitas e grupos armados palestinianos no noroeste e no sul da cidade de Gaza. Entre 4 e 5 de novembro, 243 palestinianos foram mortos no enclave, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, sendo a maioria das vítimas mortais mulheres e crianças.  

Assim, o número de mortes desde o início das hostilidades eleva-se para 9.770, incluindo 4.008 crianças e 2.550 mulheres. Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, cerca de 2.260 pessoas estão desaparecidas em Gaza, incluindo 1.270 crianças, presumindo-se que a maioria esteja presa debaixo dos escombros. Aproximadamente 1,5 milhões de pessoas em Gaza estão deslocadas internamente. Destes, cerca de 717 mil estão abrigados em 149 instalações da UNRWA, 122 mil em hospitais, igrejas e edifícios públicos, 110 mil pessoas em 89 escolas não pertencentes à UNRWA e os restantes residem com famílias de acolhimento. 

Em Israel, cerca de 1.400 pessoas foram mortas e milhares ficaram feridas, segundo as autoridades israelitas. Mais de 200 pessoas, incluindo crianças, foram feitas reféns. Segundo fontes israelitas, desde o início das operações terrestres já terão morrido 29 soldados israelitas.  

Numa declaração conjunta, várias agências da ONU referem que “Toda uma população está sitiada e sob ataque, sem acesso aos bens essenciais para a sobrevivência, bombardeada nas suas casas, abrigos, hospitais e locais de culto. Isto é inaceitável.” 

As Crianças Não São Alvo 

Em média, 134 crianças foram mortas em Gaza todos os dias desde o início das hostilidades, de acordo com os números do Ministério da Saúde. A UNRWA estima que uma criança morre e duas ficam feridas a cada dez minutos durante o conflito. 

“Neste momento, os pais em Gaza não sabem se poderão alimentar os seus filhos hoje e se estes sobreviverão até ao dia de amanhã.”, lamentou a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial, Cindy McCain.  

Numa outra declaração conjunta, a UNICEF, a UNRWA, a UNFPA e a OMS, alertaram para o facto de as mulheres, as crianças e os recém-nascidos em Gaza estarem a “suportar desproporcionalmente o fardo da escalada das hostilidades no território palestiniano ocupado, tanto como vítimas como na redução do acesso aos serviços de saúde”.  

© UNICEF/Eyad El Baba | Crianças recolhem água na cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.

A Ajuda Humanitária 

Entre o início da crise, a 7 de outubro de 2023, e 20 de outubro, cerca de 2.100 camiões comerciais deveriam ter chegado a Gaza através do posto fronteiriço de Rafa, mas nenhum chegou. No dia 21 de outubro, o posto fronteiriço de Rafa foi reaberto à ajuda humanitária e, desde então, o número de camiões que atravessam a fronteira tem vindo a aumentar, sendo, contudo, a média diária inferior em 19% ao que era antes da crise.  

O Programa Alimentar Mundial (PAM) estima que seriam necessários 100 camiões por dia com produtos alimentares essenciais para alimentar a população de Gaza de 2,2 milhões de pessoas. O PAM já prestou assistência alimentar e monetária vital a mais de 664.000 pessoas em abrigos e comunidades em Gaza e na Cisjordânia. No entanto, a sua capacidade total para prestar ajuda continua a ser comprometida pela intensificação da violência, pela destruição em grande escala, pela escassez de combustível e de eletricidade e pela interrupção das ligações.  

Apelos a um Cessar-Fogo 

No dia 27 de outubro de 2023, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou por maioria uma resolução que apelava a um pedido de cessar-fogo humanitário imediato entre Israel e o Hamas. Desde então, os apelos a uma trégua humanitária não cessaram.  

Mais recentemente, uma declaração assinada pelos dirigentes da UNICEF, OMS, PAM,  OCHA, IOM e outras agências da ONU renovou o seu apelo “à libertação imediata e incondicional de todos os civis mantidos reféns”, à proteção dos “civis e das infraestruturas de que dependem”, à entrada de mais ajuda em Gaza e a um “cessar-fogo humanitário imediato.”  

Numa nota à imprensa que condenava os ataques de 3 de novembro perto do Hospital Al-Shifa, do Hospital Al-Quds e do Hospital Indonésio na cidade de Gaza e nas províncias do Norte de Gaza, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reiterou também o seu apelo a um cessar-fogo imediato e a necessidade urgente de proteger todos os profissionais de saúde, pacientes, transportes e instalações de saúde. 

©OMS | Um paciente é operado no hospital Al-Quds, em Gaza.

Além dos apelos a um cessar-fogo, os chefes das agências da ONU para a ajuda humanitária pedem mais acesso humanitário ao enclave. Numa altura em que as necessidades humanitárias disparam e as reservas alimentares essenciais atingem níveis perigosamente baixos, a diretora executiva do PAM lançou um apelo urgente para que se alargue o acesso humanitário a Gaza em condições de segurança.  

Perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o comissário-geral da UNRWA sublinhou: “Uma solução política tornou-se uma questão de vida ou morte para milhões de pessoas e deve ser colocada firmemente de volta na mesa.” Olhando para o futuro, Philippe Lazzarini acrescentou: “Os Israelitas e os Palestinianos são vizinhos. Os seus destinos estão interligados. Terão de encontrar uma forma de coexistir, e as ações que estão a ser tomadas hoje contra a população civil de Gaza apenas envenenarão este futuro partilhado.” 


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