ONU emite recomendações para promover a saúde mental

A saúde mental e o bem-estar das comunidades têm sido severamente afetados pela pandemia da covid-19. As pessoas estão a ser afetadas pelos impactos imediatos do vírus na saúde, pelo distanciamento social, o receio de infeção, a morte ou a perda de entes queridos.

Numa mensagem especial sobre este tema, o secretário-geral da ONU, António Guterres, lembra que “a saúde mental está no centro da nossa humanidade” e nos “permite ter vidas enriquecedoras e gratificantes”.

No entanto, o líder da ONU alerta que “o vírus da COVID-19 não está apenas a atacar a nossa saúde física, também está a aumentar o sofrimento psicológico.”

Segundo um policy brief sobre saúde mental lançado, esta quinta-feira, pelo secretário-geral da ONU, os sintomas de depressão e de ansiedade estão a registar níveis acima do normal. Por exemplo, um grande estudo efetuado na Etiópia, em abril de 2020, estima que a taxa de prevalência de sintomas consistentes com transtorno depressivo é de 33%, o triplo em comparação com as estimativas do país antes da epidemia. Dados vindos do Canadá revelam também que 20% da população entre os 15 os 49 anos consome mais álcool durante o período da pandemia.

Neste contexto, a ONU enfatiza que milhões de pessoas enfrentam dificuldades económicas, uma vez que perderam, ou correm o risco de perder, o seu rendimento ou o seu meio de subsistência e identifica os grupos que evidenciam maior grau de sofrimento psicológico relacionado com a covid-19.

Segundo o documento, os profissionais de saúde que estão na linha da frente são dos mais afetados porque lidam com uma grande sobrecarga de trabalho, correm o risco de serem infetados e de disseminarem a infeção, e testemunham a morte de pacientes. Para além disso, a estigmatização destes trabalhadores é comum em muitas comunidades.

As crianças e adolescentes são outro grupo particularmente afetado, devido ao stress familiar, isolamento, interrupção da educação e incerteza sobre o seu futuro, sendo que as crianças, incluindo os adolescentes, correm um risco particular de abuso.

As mulheres, bem como as pessoas com condições de saúde mental pré-existentes, os idosos e pessoas com condições de saúde pré-existentes e as pessoas que vivem em contextos humanitários são outros grupos identificados como sendo muito vulneráveis.

Ainda de acordo com esta publicação da ONU, em situações de conflito, 1 em cada 5 pessoas tem uma condição de saúde mental e os efeitos da covid-19 no cérebro são preocupantes. As manifestações neurológicas como dores de cabeça, perda do olfato e paladar, agitação, delírio, derrames e meningoencefalite têm sido observadas em pessoas com covid-19, em muitos países, sendo que o stress, o isolamento e a violência familiar afetam a saúde e o desenvolvimento do cérebro em crianças e adolescentes. Por outro lado, o isolamento, a falta de atividade física e a reduzida estimulação intelectual aumentam o risco de declínio cognitivo e de demência em adultos mais velhos. No entanto, devido aos constrangimentos gerados pela pandemia, o acesso aos serviços de saúde mental, em muitos países, foi interrompido.

O que deve ser feito

As Nações Unidas alertam que o falta de investimento crónico em saúde mental precisa de ser corrigido sem demora para evitar um aumento maciço das condições de saúde mental e mitigar os custos sociais e económicos de longo prazo para a sociedade.

As necessidades na área da saúde mental devem ser tratadas como um elemento central da resposta de todos os países e da recuperação da pandemia da covid-19, promovendo a redução das adversidades relacionadas com pandemias que prejudicam a saúde mental como, por exemplo, a violência doméstica e o empobrecimento agudo.

Para tal, a ONU enfatiza que é necessário garantir o acesso a serviços de saúde mental de emergência e apoio psicossocial, de maneira a não colocar as pessoas em risco de infeção, por exemplo, investindo em intervenções de saúde mental que podem ser realizadas remotamente e garantir um aconselhamento de qualidade aos profissionais de saúde e a pessoas com depressão e ansiedade.

Adicionalmente, a recuperação da covid-19 deve ser apoiada através da construção de serviços de saúde mental para o futuro, assegurando que a cobertura de distúrbios mentais, neurológicos e de abuso de substâncias são contempladas pelos seguros de saúde.

Neste contexto, o secretário-geral da ONU sublinha que “à medida que recuperamos da pandemia, precisamos transferir mais serviços de saúde mental para a comunidade e garantir que a saúde mental seja incluída na cobertura universal de saúde. Guterres garante também que “as Nações Unidas estão fortemente comprometidas em criar um mundo em que todos, em qualquer lugar, tenham alguém a quem recorrer para ter apoio psicológico” e apela “aos governos, à sociedade civil, às autoridades de saúde e a outros que reúnam com urgência para abordar a dimensão da saúde mental desta pandemia.”