Mil milhões de crianças em “risco extremamente alto” devido aos impactos da crise climática

As crianças na República Centro-Africana, no Chade e na Nigéria estão entre as que correm mais riscos devido às alterações climáticas, de acordo com o primeiro Índice de risco climático da UNICEF focado nas crianças.

por UNICEF Portugal

 Os jovens que vivem na República Centro-Africana, no Chade, na Nigéria, na Guiné e na Guiné-Bissau são os que correm mais riscos devido aos impactos das alterações climáticas, que ameaçam a sua saúde, educação e protecção, e os expõem a doenças mortais, de acordo com um relatório da UNICEF lançado hoje.

The Climate Crisis Is a Child Rights Crisis: Introducing the Children’s Climate Risk Index’ (‘A crise climática é uma crise dos Direitos da Criança: Apresentando o Índice de Risco Climático das Crianças’) é a primeira análise abrangente sobre risco climático na perspectiva de uma criança. O Índice classifica os países com base na exposição das crianças a choques climáticos e ambientais, como ciclones e ondas de calor, bem como sua vulnerabilidade a esses choques, com base no acesso a serviços essenciais.

Lançado em colaboração com a Fridays for Future no terceiro aniversário do movimento de greve climática global liderado por jovens, o relatório constata que aproximadamente mil milhões de crianças – quase metade dos 2,2 mil milhões de crianças do mundo – vivem num dos 33 países classificados como “de risco extremamente elevado”. Estas crianças enfrentam uma combinação mortal de exposição a múltiplos choques climáticos e ambientais de alta vulnerabilidade devido à inexistência de serviços essenciais adequados, como água e saneamento, saúde e educação. Os dados reflectem o número de crianças afectadas actualmente, mas os números provavelmente irão agravar-se à medida que os impactos das mudanças climáticas se aceleram.

Portugal encontra-se numa posição de baixo risco no Índice apresentado no relatório que cruza os riscos de choques ambientais e a vulnerabilidade infantil, colocando-se na 135.ª posição de um total de 164, onde o país com a melhor posição é a Islândia.

Beatriz Imperatori, Directora Executiva da UNICEF Portugal considera que “o Governo e os poderes públicos em Portugal devem continuar a apostar no reforço do investimento na Educação Ambiental – que integra o currículo da educação para a cidadania ao longo dos doze anos de ensino obrigatório – tendo em vista formar cidadãos informados capazes de contribuírem para o futuro sustentável do planeta e para o combate às alterações climáticas, um desafio global que a todos convoca.”

“Pela primeira vez, temos um quadro completo sobre onde e como as crianças são vulneráveis ​​às alterações climáticas, e esse quadro é quase inimaginavelmente terrível. Choques climáticos e ambientais minam todo o espectro dos direitos das crianças, desde o acesso a ar puro, alimentos e água potável; à educação, habitação, liberdade de exploração e até mesmo ao direito de sobreviver. Praticamente nenhuma criança não será afectada”, disse Henrietta Fore, Directora Executiva da UNICEF. “Durante três anos, as crianças levantaram as suas vozes em todo o mundo para exigir acções. A UNICEF apoia os seus apelos pela mudança com uma mensagem indiscutível – a crise climática é uma crise dos direitos da criança.”

O Índice de Risco Climático Infantil (CCRI) revela:

• 240 milhões de crianças estão altamente expostas a inundações costeiras;

• 330 milhões de crianças estão altamente expostas a inundações ribeirinhas;

• 400 milhões de crianças estão altamente expostas a ciclones;

• 600 milhões de crianças estão altamente expostas a doenças transmitidas por vectores;

• 815 milhões de crianças estão altamente expostas à poluição por chumbo;

• 820 milhões de crianças estão altamente expostas a ondas de calor;

• 920 milhões de crianças estão altamente expostas à escassez de água;

• mil milhões de crianças estão altamente expostas a níveis extremamente altos de poluição do ar.[1]

Embora quase todas as crianças em todo o mundo estejam em risco de vir a ser atingidas por pelo menos um desses perigos climáticos e ambientais, os dados revelam que os países mais afectados enfrentam choques múltiplos, frequentemente sobrepostos, que ameaçam o progresso do desenvolvimento, bem como aprofundar as privações infantis.

Cerca de 850 milhões de crianças – 1 em cada 3 em todo o mundo – vivem em áreas onde pelo menos quatro desses choques climáticos e ambientais se sobrepõem. Cerca de 330 milhões de crianças – 1 em 7 em todo o mundo – vivem em áreas afectadas por pelo menos cinco grandes choques.

O relatório também revela um contraponto entre onde as emissões de gases de efeito de estufa são geradas e onde as crianças estão a sofrer os impactos climáticos mais significativos. Os 33 países de “risco extremamente elevado” emitem colectivamente apenas 9 por cento das emissões globais de CO2. Por outro lado, os dez países com as emissões conjuntas mais elevadas respondem por quase 70 por cento das emissões globais. Apenas um desses países é classificado como de “risco extremamente elevado” no Índice.

“As alterações climáticas são profundamente injustas. Embora nenhuma criança seja responsável pelo aumento das temperaturas globais, eles sofrerão as consequências mais graves. As crianças dos países menos responsáveis ​​serão as que mais irão sofrer”, disse Fore. “Mas ainda há tempo de agir. Melhorar o acesso das crianças a serviços essenciais, como água e saneamento, saúde e educação, pode aumentar significativamente sua capacidade de sobreviver a aos perigos climáticos. A UNICEF exorta governos e empresas a ouvirem as crianças e priorizar acções que as protejam desses impactos, enquanto aceleram o trabalho para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito de estufa.”

Sem a acção urgente necessária para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, as crianças continuarão a sofrer. Em comparação com os adultos, as crianças precisam de mais comida e água por cada unidade de peso corporal, têm menos probabilidades de sobreviver a eventos climáticos extremos e são mais susceptíveis a produtos químicos tóxicos, mudanças de temperatura e doenças, entre outros factores.

Os movimentos de jovens activistas pelo clima vão continuar a crescer e a lutar pelo que é certo porque não temos outra escolha”, disseram Farzana Faruk Jhumu (Bangladesh), Eric Njuguna (Quénia), Adriana Calderón (México) e Greta Thunberg (Suécia) da Fridays for Future, responsável pelo prefácio do relatório. “Devemos reconhecer em que ponto estamos, tratar as alterações climáticas como uma crise e agir com a urgência necessária para garantir que as crianças de hoje herdem um planeta habitável.”

A UNICEF apela governos, empresas e actores relevantes a:

1.    Aumentar o investimento destinado à adaptação ao clima e à resiliência, nomeadamente através de serviços essenciais para as crianças. Para proteger as crianças, as comunidades e os mais vulneráveis ​​dos piores impactos das alterações climáticas, os serviços essenciais devem ser adaptados, incluindo água, saneamento e sistemas de higiene, saúde e educação.

2.    Reduzir as emissões de gases de efeito de estufa. Para evitar os piores impactos da crise climática, é necessária uma acção abrangente e urgente. Os países devem diminuir as suas emissões em pelo menos 45% (em comparação com os níveis de 2010) até 2030 para que o aquecimento não ultrapasse os 1,5º C.

3.    Capacitar as crianças através de educação climática e competências verdes, essenciais para sua adaptação e preparação para os efeitos das alterações climáticas. Crianças e jovens enfrentarão todas as consequências devastadoras da crise climática e da insegurança hídrica, embora sejam os menos responsáveis. Temos um dever para com todos os jovens e as gerações futuras.

4.    Incluir os jovens em todas as negociações e decisões sobre o clima a nível nacional, regional e internacional, incluindo na COP26. As crianças e os jovens devem ser incluídos em todas as tomadas de decisão relacionadas com o clima.

5.    Assegurar que a recuperação da pandemia da COVID-19 seja verde, com baixo teor de carbono e inclusiva, de modo a que a capacidade das gerações futuras para enfrentar e responder à crise climática não fique comprometida.

 


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