O Futuro do Turismo: A transformação pós-pandémica

A mais recente mensagem de António Guterres, secretário-geral da ONU, salienta a importância do turismo como “um dos setores económicos mais importantes do mundo”.

Com a pandemia da covid-19, o setor do turismo sofreu quedas históricas e abruptas. Tendo registado um crescimento contínuo durante a última década, o turismo foi responsável por 7% do comércio global em 2019. Nesse ano, registaram-se 1.500 milhões de entradas de turistas internacionais e outros 9 mil milhões de pessoas que escolheram o seu próprio país para fazer turismo. Com tamanho fluxo de turistas, este setor é o meio de subsistência de centenas de milhões de pessoas. Em todo o mundo, 1 em cada 10 pessoas estão empregadas na área do turismo. Só na Europa, milhões de negócios e cerca de 27 milhões de pessoas subsistem graças ao setor.

O último documento político “Turismo e covid-19”, apresentado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, analisa o impacto da covid-19 naquele que é um dos maiores setores económicos do mundo. Este documento, baseado em dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), foca-se ainda nas diferenças e pontos fortes entre as regiões analisadas (de acordo com o seu nível de desenvolvimento), e no papel do turismo no avanço da tecnologia e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Segundo este documento, e apesar do início de 2020 ter sido de crescimento contínuo, desde o início da pandemia, o setor do turismo tem sido dos mais afetados.

A ONU estima que a entrada de turistas possa cair entre 58% e 78%, pondo em risco cerca de 120 milhões de empregos e de pequenos comércios afetos ao turismo. Tal fenómeno irá pôr mulheres e jovens (entre os 15 e os 24 anos) e outros trabalhadores informais em risco, uma vez que representam a maior parte da mão-de-obra deste setor.

Apesar de nenhum país ou economia nacional estar a salvo, serão os países insulares e os países africanos em desenvolvimento, nomeadamente aqueles mais dependentes das receitas do turismo e do investimento estrangeiro, que mais irão sofrer com a crise que o setor está a atravessar.

A importância do turismo para a preservação do património

Quando os números do turismo começaram a cair, com eles recuou também o financiamento para a preservação da vida selvagem — que, até então, representava 7% do turismo mundial — e marinha. Este corte representa ainda um problema para as comunidades radicadas junto destes locais protegidos, que subsistiam do turismo; e contribuiu para o aumento da caça furtiva e do consumo ilegal de animais selvagens, e para a destruição de habitats em áreas protegidas.

A cultura, no entanto, também não escapou ilesa: 90% dos museus fecharam durante a pandemia — sendo que 13% correm o risco de não voltarem a abrir portas. Muitos locais considerados Património Mundial da UNESCO foram também encerrados, causando um problema adicional para aqueles que dependem exclusivamente do turismo.

Olhar para o futuro

“Vamos assegurar que o turismo recupera a sua posição de criador de empregos dignos, de rendimentos estáveis e de protetor do nosso património cultural e natural.” — António Guterres

Para o líder da ONU, a reconstrução do setor do turismo é primordial — mas deve também respeitar o desenvolvimento justo e sustentável, sendo importante que esteja em linha com as metas climáticas. Como tal, António Guterres deixa, nas suas recomendações, cinco áreas prioritárias de recuperação:

  • A segurança socioeconómica, especialmente das mulheres;
  • O estímulo da competitividade e da resiliência do setor, promovendo o turismo a nível nacional e regional;
  • Uma utilização mais ampla da tecnologia no turismo, garantindo uma maior resiliência e mais empregos temporários;
  • Uma mudança afeta ao crescimento sustentável e verde, para que o setor se torne mais eficiente, competitivo e, por fim, neutro em carbono;
  • A promoção de parcerias que permitam a transformação do setor e um alcance mais rápido dos ODS, pondo as pessoas e a sua segurança em primeiro lugar, facilitando e suspendendo as restrições de viagens de forma responsável e coordenada.

A OMT acrescenta ainda mais uma recomendação, relativamente à necessidade de coordenação e cooperação global. Sob o princípio “juntos mais fortes”, e para que os consumidores voltem a ter confiança no setor, a organização salienta a importância de uma ação conjunta dos governos nesta área a nível internacional.