“O impacto da guerra na Ucrânia é global e sistémico”, acusam os relatórios das Nações Unidas. Este conflito militar não afeta só os ucranianos, mas também os cidadãos europeus, africanos e de todo o mundo. Para mais, os impactos desta guerra afetam não só as nossas gerações, mas poderão também afetar a saúde, a qualidade de vida e o futuro de gerações futuras.
Impacto na Ucrânia
Há menos de um mês, o secretário-geral das Nações Unidas realçou que esta guerra teria “consequências dramáticas”. Os números citados abaixo mostram só algumas delas. A ONU está presente em 7 regiões diferentes na Ucrânia, incluindo em Donetsk e Lugansk e tem estado a monitorizar as baixas civis, o impacto da guerra e as infrações dos direitos humanos. Segundo os seus dados mais recentes do Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos (ACNUDH), mais de 67.500 civis foram feridos e 3.300 morreram devido ao conflito violento, 15.7 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária, e um terço destas pessoas estão encurraladas nas zonas de Mariupol, Kherson, Donetsk e Lugansk.
Adicionalmente, a guerra na Ucrânia gerou a êxodo mais rápido de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de um quarto da população – 12 milhões de pessoas – já fugiram das suas casas. 5.8 milhões de ucranianos têm agora o estatuto de refugiados, e 8 milhões de pessoas abandonaram as suas casas, mas continuam dentro da Ucrânia.
Impacto global
O Banco Mundial alertou que “a economia da Ucrânia deverá encolher 45% este ano devido à guerra” e que a economia russa caminha para uma “recessão profunda”. Mas o efeito da guerra não será pressentido só na Rússia e na Ucrânia. “A guerra está a provocar uma crise tridimensional- alimentar, energética e financeira que está a atingir as pessoas, países e economias mais vulneráveis no mundo” salientou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. De acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM), até 1.7 mil milhões de pessoas – das quais um terço já vivem em pobreza – estão “altamente vulneráveis às perturbações no sistema alimentar, energético e financeiro.” Com aumentos extremos nos preços dos alimentos e da energia, tal como o aumento em 30% no preço do trigo, o PAM está com dificuldades nos seus esforços para combater a fome na África e noutras regiões do mundo tendo apelado à reabertura das zonas portuárias em Odessa, de onde vêm a maioria dos alimentos necessários para o funcionamento do PAM.
Impacto Futuro
18 anos. 18 anos de progresso socioeconómico perdidos na Ucrânia se a guerra continuar. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) indica que 90% da população ucraniana poderá enfrentar “pobreza e vulnerabilidade económica extrema” se a guerra se prolongar. Adicionalmente, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) “baixou a sua projeção de crescimento económico global para este ano em 1% para 2,6%”, com um decréscimo significativo no crescimento de países africanos. Estes efeitos prejudiciais impactarão as gerações mais novas e futuras, especialmente num país como a Ucrânia onde mais de 63,000 bebés nasceram nos primeiros dois meses desde o início da “operação especial” da Federação Russa. Estes bebés e as crianças estão particularmente vulneráveis aos riscos associados à guerra, tal como o risco de tráfico humano. Simultaneamente, também sofrerão fortemente devido aos ataques às escolas, das quais, de acordo com a UNICEF, “uma em cada seis escolas no leste da Ucrânia foram danificadas ou destruídas”. A falta de educação de acesso à educação durante e após o fim da guerra e o trauma terá implicações enormes no desenvolvimento cognitivo das crianças ucranianas.
Por fim, o impacto de possíveis “surtos de doenças, tais como cólera, COVID-19, e sarampo”, dos quais o risco tem aumentado devido “à falta de água potável, condições de aglomeração no interior dos centros e abrigos anti-bombas, e condições subjacentes, tal como baixa taxa de vacinação” poderá ser catastrófico tal como o risco do “uso de armas nucleares.” As Nações Unidas fortemente defendem que “nada poderá justificar o uso de armas nucleares” e que “operações militares nas redondezas ou em plantas nucleares são inaceitáveis.”