ONU alerta para impactos da covid-19 em África

O impacto da covid-19 em África põe em risco o progresso alcançado nos últimos anos naquele continente. Num documento publicado esta quarta-feira, as Nações Unidas lembram que a economia africana apresentava uma trajetória de crescimento antes da pandemia, estimando-se que viesse a crescer 3,2% em 2020. A redução da pobreza, a melhoria dos indicadores de saúde, da tecnologia e da inovação eram visíveis, bem como o reforço da coordenação política e económica, numa altura em que a Zona de Comércio livre do Continente Africano iria ser lançada em julho.

No entanto, no contexto da pandemia, são muitas as ameaças aos progressos alcançados e o secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta que a pandemia “irá agravar desigualdades que há muito existem e agravar a fome, a malnutrição e a vulnerabilidade a doenças”, constatando ainda que “a procura por mercadorias, turismo e remessas de África já está a diminuir.”

A pandemia da covid-19 afeta os países africanos de forma diferente, mas o aumento dramático da insegurança alimentar evidencia uma crise imediata. Segundo a ONU, a economia do continente poderá contrair até 2,6%, empurrando 29 milhões de pessoas para a pobreza extrema e 19 milhões para o desemprego.

As Nações Unidas estão preocupadas com a falta de equipamento médico, a escassez de médicos e de camas de hospital que ameaçam levar os sistemas de saúde à rutura.

Neste documento, a ONU alerta que, apesar da liderança e da solidariedade que se vive em África, o continente não conseguirá gerir esta crise sem ajuda, por isso, o apoio internacional é urgente, tal como o alívio da dívida dos países.

O secretário-geral da ONU pediu um alívio da dívida, um cessar-fogo global imediato em todo o mundo, incluindo em África, e pelo menos 200 mil milhões de dólares para que este continente possa atender às necessidades imediatas e seja capaz de “recuperar melhor.”

Além da crise da saúde e do seu impacto socioeconómico, uma África mais forte e mais resiliente, pronta e preparada para enfrentar os desafios futuros, deve emergir desta crise, com economias e sociedades mais verdes e sustentáveis.

A ONU lembra que, para que tal aconteça, é necessária vontade política, recursos globais e solidariedade, mas sublinha também que crises desta natureza, como muitas outras na história, podem ser o catalisador de mudanças transformadoras.

Neste documento, a ONU emite uma série de recomendações para que os efeitos da pandemia sejam mitigados no continente africano e o secretário-geral da ONU apela “a uma ação internacional para fortalecer os sistemas de saúde em África, manter o abastecimento de alimentos, evitar uma crise financeira, apoiar a educação, proteger empregos, manter as famílias e as empresas em atividade e proteger o continente das perdas de receitas e de ganhos de exportação.”

O líder das Nações Unidas considera ainda que “os países africanos também devem ter acesso rápido, igualitário e acessível a qualquer vacina e tratamento que possam surgir, e que devem ser considerados bens públicos globais.”

Na área da saúde, a Organização lembra que é necessário continuar a melhorar as capacidades de teste e de acesso a cuidados médicos.

Em relação à economia, é necessário que os governos apoiem as famílias para salvar vidas e proteger meios de subsistência, bem como consolidar esforços para apoiar grandes, médias e pequenas empresas, e o setor informal.

Por outro lado, deve também ser dada uma atenção especial à segurança alimentar, dando prioridade à agricultura, declarando-a um setor crítico, garantindo a proteção dos corredores alimentares e dos agricultores para que não haja interrupção no abastecimento de alimentos.