ONU alerta para impactos da pandemia na segurança alimentar

A pandemia da Covid-19 representa uma ameaça à segurança alimentar e nutricional, especialmente para as comunidades mais vulneráveis do mundo. As Nações Unidas alertam que as medidas de mitigação e a recessão global emergente podem perturbar o funcionamento dos sistemas alimentares com consequências que podem ter um impacto devastador em algumas regiões do planeta.

Apesar de haver alimentos mais do que suficientes no mundo para alimentar a nossa população de 7,8 mil milhões de pessoas, há, hoje, mais de 820 milhões de pessoas que passam fome e cerca de 144 milhões de crianças com menos de 5 anos que são raquíticas – mais do que uma em cada 5 crianças em todo o mundo.

Num documento político sobre este tema, publicado esta terça-feira, a ONU alerta que muitos viviam já uma crise alimentar ainda antes da pandemia, sendo que a Covid-19 surgiu numa altura em que os nossos sistemas alimentares já estavam “sob tensão devido a conflitos, desastres naturais, mudanças climáticas e ameaças sem precedentes de pragas.”

E se, para já, as quantidades da maioria dos alimentos básicos são adequadas, os elevados níveis de desemprego, a perda de rendimento e o aumento dos preços também estão a dificultar o acesso a alimentos a muita gente.

Atendendo à atual situação, a ONU sublinha que é necessário que se aja agora para salvar vidas e meios de subsistência, dando especial atenção aos locais onde o risco é maior.

Por outro lado, as Nações Unidas enfatizam que é necessário “investir no futuro”, corrigindo as falhas dos nossos sistemas alimentares que a pandemia tornou tão óbvias, lembrando que “o mundo precisa de sistemas alimentares mais sustentáveis, resilientes e inclusivos.”

Neste contexto, o secretário-geral da ONU emite uma série de recomendações para travar a insegurança alimentar e garantir que os sistemas de produção se tornam mais sustentáveis e resilientes. Guterres sublinha que “a menos que sejam tomadas medidas imediatas, é cada vez mais claro que existe uma emergência alimentar global iminente que pode ter impactos a longo prazo em centenas de milhões de crianças e adultos. Precisamos agir agora para evitar os piores impactos dos nossos esforços para controlar a pandemia.”

Para o líder da ONU, é necessário, em primeiro lugar, salvar vidas e meios de subsistência, concentrando a atenção nos locais onde o risco é mais agudo. Para tal, os países devem classificar os serviços de alimentação e de nutrição como essenciais, implementando proteções apropriadas para os trabalhadores, assegurar que a assistência humanitária essencial de alimentos, meios de subsistência e nutrição continua a ser prestada a grupos vulneráveis e manter as rotas comerciais abertas, garantindo a continuidade das cadeias de abastecimento agrícolas.

Uma outra prioridade deve passar pelo reforço dos sistemas de proteção social para garantir que melhorem o acesso aos alimentos e a nutrição das pessoas, principalmente a crianças pequenas, mulheres grávidas e que amamentam, idosos e outros grupos de risco, a expansão dos sistemas de proteção social para beneficiar grupos de risco de desnutrição e apoiar as 352 milhões de crianças que se estima terem deixado de ter acesso às refeições escolares.

Por último, é necessário investir no futuro e transformar os nossos sistemas alimentares para construir um mundo mais inclusivo e sustentável. Embora os nossos sistemas alimentares produzam alimentos suficientes para todos, todos os anos centenas de milhões de pessoas não têm acesso a alimentos suficientes.

Para o secretário-geral da ONU, “se tudo isto for feito, como indicado pelo Documento Político que estamos a lançar hoje, podemos evitar alguns dos piores impactos da pandemia da Covid-19 na segurança alimentar e na nutrição – e podemos fazê-lo de maneira a apoiar a transição verde que necessitamos fazer.”

Os efeitos da pandemia deve ser travados, numa altura em que se estima que  o número de pessoas que poderão ser empurradas para a pobreza extrema, em 2020, poderá chegar a cerca de 49 milhões de pessoas, com cerca de metade desse aumento a ter lugar nos países da África Subsaariana.