ONU destaca compromisso com Gaza e pede reforma do sistema humanitário

© Unrwa Nos últimos 8 meses, na Faixa de Gaza, aproximadamente 67% das instalações de água, saneamento e infraestrutura foram destruídas ou danificadas.

Em entrevista à ONU News, o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, sublinhou o empenho das equipas de ajuda humanitária em Gaza, apesar dos perigos crescentes; salientou a necessidade de reformar o sistema humanitário mundial e criticou a disparidade das despesas entre as guerras e a ajuda humanitária; o subsecretário-geral vai abandonar o cargo nos próximos dias.

 

As equipas de ajuda da ONU e as organizações parceiras continuam profundamente comprometidas com a entrega de ajuda humanitária em Gaza, apesar dos crescentes perigos para os trabalhadores humanitários.

A declaração é do subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, numa entrevista à ONU News. Poucos dias antes de deixar o cargo, o subsecretário-geral afirmou que os alertas de que a ajuda humanitária poderia ser interrompida na Faixa de Gaza não eram um “ultimato”.

 

ONU News/Daniel Johnson subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, fala de espectro da morte pairando sobre Gaza

 

Condições cada vez mais difíceis para a ajuda humanitária

Griffiths explicou que a ONU continua, como tem feito há meses, a negociar com as autoridades israelitas e outras partes, incluindo os Estados Unidos, para garantir que a ajuda seja entregue de forma segura e protegida.

O subsecretário-geral sublinhou que a organização não está a “fugir de Gaza” e continua particularmente preocupada com a situação de segurança, que limita cada vez mais as operações humanitárias.

A análise do subsecretário-geral surge após a publicação da avaliação da insegurança alimentar em Gaza, que destacou o “elevado risco” de fome em toda a zona devido à continuação do conflito e à restrição de entrada de suprimentos humanitários.

Griffiths afirmou que a ajuda pode fazer a diferença e sublinhou a necessidade de libertar todas as passagens fronteiriças. Além disso, sublinhou que os trabalhadores humanitários precisam de segurança e proteção.

 

Questões políticas

Para Griffiths, o problema desta crise é político. Um dos aspetos interessantes do Médio Oriente é que existe muita diplomacia política e mediação”, afirmou. O chefe da ação humanitária da ONU referiu que gostaria de ver os mesmos esforços noutros locais em crise, como o Sudão.

Com guerra na Faixa de Gaza próxima de completar nove meses, as agências de ajuda da ONU continuam a relatar ataques das forças armadas israelitas, que provocam vítimas civis, deslocações forçadas em massa e a destruição de infraestrutura civil.

Para além da violência no enclave, registam-se também novos ataques contra palestinianos na Cisjordânia, com uma nova escalada entre Israel e os militantes do Hezbollah na fronteira com o Líbano. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou de que um passo em falso poderia desencadear uma catástrofe para toda a região e não só.

 

Ação global e desafio financeiro

Além da crise no Oriente Médio, Griffiths afirmou que a ONU entregou ajuda a 144 milhões de pessoas em todo o mundo no ano passado, atingindo dois terços da meta estabelecida, mesmo perante grandes desafios financeiros.

Sublinhou também o trabalho extraordinário das agências de ajuda, especialmente dos distribuidores na linha de frente. O subsecretário-geral enfatizou que, embora o número de pessoas assistidas seja impressionante, milhões permanecem fora do alcance da ONU devido à falta de financiamento.

Griffiths também ressaltou a “disparidade vergonhosa” nos gastos mundiais, com mais de 2 mil milhões de dólares gastos anualmente em guerras, enquanto os recursos destinados à ajuda humanitária e ao estabelecimento da paz são insuficientes.

“É necessário alterar a ideia de que investir em guerras é uma forma eficaz de garantir a segurança”, acrescentou.

 

 

Ocha/Saviano Abreu O chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths conhece um casal cuja casa foi destruída em Hawzen, Tigray.

 

Reformas no sistema humanitário

Refletindo sobre as suas quatro décadas de trabalho em zonas de guerra e nos corredores diplomáticos do poder, o diplomata britânico insistiu na necessidade de uma reforma radical no sistema humanitário mundial, dado o aumento das necessidades e prolongamento das emergências. A ONU e a sociedade civil, os governos anfitriões de todo o mundo e as organizações regionais devem lidar com o facto de que o poder está a ser redistribuído pelo mundo.

Sobre os desafios de seu trabalho, contou a sua passagem pelo Sudão, onde se encontrou com representantes de organizações da sociedade civil que lidam com emergências médicas em Cartum. Griffiths destacou a dedicação dos humanitários, que fazem com que o trabalho “valha a pena”.

O cargo de coordenador de ajuda da ONU é considerado uma das funções “mais desafiadoras do sistema”, devido às constantes viagens e à intensa atenção dos media. Griffiths não revelou a identidade de seu sucessor, mas afirmou que a possibilidade de salvar vidas torna o trabalho extremamente gratificante.

 

Artigo ONUNews