ONU reforça assistência humanitária na Ucrânia

O conflito russo-ucraniano que começou oficialmente há menos de um mês, no dia 24 de fevereiro de 2022, despoletou uma crise humanitária que terá efeitos devastadores para a Ucrânia, para a Europa e para o mundo inteiro. Para minimizar os impactos do conflito e assegurar a proteção dos civis, o sistema das Nações Unidas nomeadamente o ACNUR, a UNICEF e a OMS, estão a trabalhar arduamente no terreno para apoiar quem mais precisa.  

Dentro da Ucrânia 

Muitos ucranianos continuam dentro do país, quer por opção ou porque infelizmente não têm acesso a um corredor humanitário. De acordo com os dados da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) atualmente existem 12.65 milhões de pessoas na Ucrânia que precisam urgentemente de apoio e 1.85 milhões estão deslocadas internamente. Nos locais onde têm ocorrido hostilidades intensas, como Mariupol e os arredores de Kiev, dezenas de milhares de pessoas vivem em condições deploráveis. Em Mariupol 400 mil residentes não têm acesso a eletricidade, aquecimento, água e enfrentam temperaturas negativas diariamente. A organização Médicos Sem Fronteiras alegou que se o acesso a água, comida e aos medicamentos continuar condicionado os ucranianos presos em Mariupol poderão falecer devido à desidratação, fome e falta de acesso a medicamentos essenciais como a vacina contra o tétano.  

O ACNUR afirma que os ucranianos precisam urgentemente de colchões, cobertores, almofadas, comida de bebé, medicamentos, aquecedores, lanternas, água, dinheiro, materiais de construção e geradores. Alimentos, medicamentos, oxigénio e geradores são bens essenciais para evitar mortes no parto e devido ao frio. A ONU estima que desde o início da guerra já nasceram 4,300 bebés e outros 80 mil deverão nascer nos próximos 3 meses. Até hoje, foram registados 31 ataques contra infraestruturas e trabalhadores de saúde pública. 

@UNICEF/Oleksandr Ratushniak

Para apoiar os ucranianos, o ACNUR já mandou camiões para diversas zonas da Ucrânia, tendo entregado 400 sacos de cama, 1.200 colchões e 400 latas de comida em Dnipro.  Em Sievierodonetsk, no leste da Ucrânia, o ACNUR enviou 1.5 toneladas de produtos de carne e peixe congelados e para a faculdade de direito de Mariupol que aloja estudantes ucranianos, estrangeiros e famílias à procura de abrigo enviou kits alimentares e mantas. A Organização Mundial da Saúde (OMS), que alerta para os abastecimentos perigosamente baixos de oxigénio e as crises emergentes de covid-19 e de poliomielite no país, enviou produtos de saúde variados como escovas de dentes, kits de apoio para procedimentos médicos e 600 doses de vacinas contra o tétano. A UNICEF enviou 75 mil kits de higiene básica focados especificamente nas crianças e criou 100 “escolas ambulantes”. 

Europa vizinha 

A crise humanitária vai muito para além das fronteiras territoriais da Ucrânia e afeta fortemente os vizinhos da Ucrânia como a Moldávia, a Polónia, a Eslováquia, a Roménia e a Hungria que acolhem hoje mais de 2.8 milhões de refugiados. Muitos refugiados chegam aos países como a Polónia com pouco ou nenhum dinheiro. As Nações Unidas desenvolveram um programa de assistência financeira para as famílias, que transfere dinheiro para os refugiados, que pode depois ser utilizados para cobrir as despesas básicas. Uma outra questão realçada com a influxo migratório e as grandes quantidades de mulheres e crianças refugiadas é o tráfego humano e a potencial violência sexual. Tendo isto em consideração, na Moldávia o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUP) criou 10 abrigos supervisionadas, 8 “salas de crise” e uma linha de apoio para vítimas de violência de género. O FNUP forneceu também 6 mil kits com produtos de higiene pessoas e menstrual e deu aulas sobre como assegurar a migração segura para as mulheres, as crianças e os mais vulneráveis.  

@UNICEF/2021/Filippov
Crise mundial 

Fora da bolha da Europa também se sente o efeito da guerra. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) afirmou este fim-de-semana que a crise humanitária na Ucrânia representa uma potencial crise alimentar mundial. A Rússia e a Ucrânia em conjunto representam mais de um terço da produção de trigo mundial e mais de metade da produção de óleo de girassol mundial. A Rússia é também a maior exportadora de fertilizantes de nitrogénio no mundo, liderando ainda na exportação de outros tipos de fertilizantes.  

@FAO

50 países dependem da Rússia e da Ucrânia para 30% dos seus abastecimentos de trigo e uma grande parte de países europeus e asiáticos dependem da Rússia para mais de 50% dos seus abastecimentos de fertilizante. Países como o Egito, a Turquia, o Irão, o Paquistão e a Tunísia irão todos ser impactados negativamente pela crise na Ucrânia e países como o Iémen, que sofre atualmente uma crise alimentar em grande escala, irão sofrer ainda mais. O aumento estimado de 8 a 22% no preço internacional dos alimentos devido ao conflito russo-ucraniano afetará o mundo inteiro demonstrando que esta crise humanitária não é um desastre isolado, mas sim uma catástrofe mundial.  

Para cobrir todos os custos associados no apoio á crise humanitária, as Nações Unidas lançaram um apelo para 1.1 mil milhões de dólares americanos dos quais 11% já foram assegurados. Portugal e os portugueses já doaram meio milhão de dólares.  

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