Retirada da MINUSMA: O compromisso da ONU com o futuro do Mali

Enquanto a sua operação de manutenção da paz no Mali, MINUSMA, chega ao fim no final deste ano, a ONU continua empenhada em apoiar a estabilidade e o desenvolvimento do país, afirma o chefe da missão. 

Ao informar o Conselho de Segurança, o representante especial do secretário-geral para o Mali, El-Ghassim Wane, informou os embaixadores sobre o processo de retirada da Missão. 

Trabalho crucial da ONU 

“A MINUSMA pode estar a deixar o Mali, mas as Nações Unidas, através das suas agências, fundos e programas, permanecem. O seu trabalho nunca foi tão vital como é atualmente”, afirmou, ressalvando as garantias recebidas das autoridades malianas relativamente à segurança do pessoal da ONU. 

O representante especial Wane apelou a um financiamento adicional para a equipa da ONU no país e para todos os humanitários que aí trabalham, para que possam continuar a apoiar os esforços de desenvolvimento do Mali. 

A MINUSMA foi criada pelo Conselho de Segurança em 2013, na sequência de um golpe de Estado no ano anterior. Ao longo da última década, tornou-se a missão de manutenção da paz mais difícil da ONU, tendo sofrido mais de 303 fatalidades num contexto de violência extremista contínua e de insegurança generalizada em grande parte do norte e do centro do país. 

Até dezembro, os 12 campos e uma base operacional temporária da missão serão encerrados e entregues às autoridades de transição, enquanto o seu pessoal militar e policial, cerca de 12 947 pessoas, será repatriado. 

Os agentes civis também serão evacuados e o equipamento – um carregamento de aproximadamente 5.500 contentores marítimos e quase 4.000 veículos – será transferido para outras missões ou repatriado para os países que o forneceram. 

UN Photo/Evan Schneider| El-Ghassim Wane, Representante Especial do Secretário-Geral e Chefe da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA), informa os jornalistas após uma reunião do Conselho de Segurança sobre a situação no Mali.

Período de transição 

Numa entrevista exclusiva à ONU News, o representante especial Wane disse que, embora ainda haja muito a fazer antes do encerramento, a Missão está a ajudar os intervenientes malianos a prepararem-se para assumir o comando quando deixar o país. 

No início de agosto, a MINUSMA convocou uma mesa-redonda com as autoridades para as informar sobre os resultados alcançados nos últimos dez anos, bem como sobre o que ainda falta fazer. 

“Obviamente, ainda há muito a fazer. O objetivo era ajudá-los a prepararem-se o mais possível para assumirem o comando… e continuarem os esforços de estabilização que temos vindo a apoiar nos últimos dez anos”, disse, acrescentando que a ONU já estava no Mali antes de a MINUSMA ter sido destacada e “continuaremos a oferecer apoio ao povo e ao governo do Mali”. 

Wane sublinhou ainda que a Missão está empenhada em assegurar a coordenação mais estreita possível para que a sua partida não resulte num vazio, que poderia tornar o país mais instável e os civis mais vulneráveis. 

Uma retirada desafiante 

O processo de retirada, delineado na resolução 2690 do Conselho de Segurança, foi estruturado em duas fases, estando a primeira fase em curso desde julho. Esta fase envolveu o encerramento dos postos avançados e campos mais pequenos da MINUSMA localizados em regiões remotas. 

À imprensa, Wane revelou os progressos realizados até à data, que foram repletos de desafios. Mencionou as dificuldades encontradas durante o encerramento do campo Ber da MINUSMA, incluindo uma árdua viagem de 51 horas – para percorrer uns meros 57 quilómetros – até Timbuktu através de um terreno difícil, agravado pelas chuvas e pela insegurança. 

“A caravana foi atacada duas vezes por elementos extremistas não identificados, ferindo quatro soldados da paz e danificando três veículos”, disse. 

A segunda fase, prevista para durar até meados de dezembro e centrada no encerramento de mais seis bases, também apresenta desafios logísticos e de segurança. 

Estes desafios incluem a cobertura de distâncias até 563 quilómetros e a gestão de mais de 1050 camiões carregados de equipamento, enquanto se enfrenta a ameaça de emboscadas e dispositivos explosivos improvisados (IED). 

UN Photo/Harandane Dicko | Vista das forças de manutenção da paz das Nações Unidas da Missão Multidimensional Integrada de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA).
O contingente egípcio da MINUSMA, sediado em Douentza, na região de Mopti, no centro do Mali, é composto por 200 elementos de manutenção da paz que asseguram a segurança dos comboios logísticos e das operações no terreno. Esta equipa é composta principalmente por mulheres que procuram e detectam engenhos explosivos improvisados (IED) durante os comboios logísticos e as patrulhas de longo e curto alcance.

A dimensão política 

Ao mesmo tempo, a dimensão política não pode ser negligenciada, disse Wane, registando as divergências sobre o destino dos campos desocupados entre os militares do Mali e os movimentos signatários do Acordo de Paz e Reconciliação no Mali. 

O responsável sublinhou ainda a necessidade urgente de uma base comum para evitar incidentes que possam dificultar o processo de retirada e comprometer as perspetivas de retoma do processo de paz. 

Fator Níger 

O enviado da ONU referiu também que a situação no Níger, na sequência da atual tomada de poder pelos militares, também tem impacto no plano de retirada da MINUSMA, uma vez que as rotas para os portos de Cotonou (Benim) e Lomé (Togo) atravessam o Níger. 

“É crucial que possamos transportar equipamento e materiais através do Níger até estes portos para o seu posterior repatriamento para os países contribuintes de tropas e polícias”, afirmou. 

Este artigo foi originalmente publicado pela ONU News.  


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