Tolerância zero para o que se diz verde, mas não o é

Secretário-geral afirma “tolerância zero” para empresas que se dizem verdes, mas não o são, e usam a bandeira da sustentabilidade para lucrar.

O mais recente relatório apresentado na COP27, critica o greenwashing – as empresas que se dizem mais sustentáveis do que aquilo que verdadeiramente são, induzindo as pessoas em erro – assim como os fracos compromissos para a neutralidade carbónica (net-zero). Fornece ainda orientações para tornar mais íntegras as promessas da indústria, das instituições financeiras, das cidades e regiões, e para apoiar uma transição mundial equitativa para um futuro sustentável.

Os atores internacionais de peso não se podem afirmar net-zero enquanto continuam a investir em combustíveis fósseis ou a colaborar com atividades destruidoras do meio ambiente. Da mesma forma, não devem participar em lobbying contra as alterações climáticas ou omitir certos bens das suas empresas, apresentando apenas os mais convenientes.

“Temos de ter tolerância zero para o greenwashing” afirmou o secretário-geral da ONU António Guterres na COP27, apelando à responsabilização das empresas que o fazem e incentivando o questionamento da credibilidade das empresas.

Na COP26 anunciou-se a criação de Grupo de Especialistas que iria averiguar um “excesso de confusão e um défice de credibilidade” em relação às metas da neutralidade carbónica estabelecidas pelas entidades não estatais. Através de 10 recomendações práticas, o relatório apresenta esclarecimentos quatro áreas-chave: integridade ambiental; credibilidade; responsabilização; e o papel dos governos.

As recomendações do relatório podem resumir-se da seguinte forma, de acordo com o secretário-geral:

1- As promessas não podem ser um encobrimento tóxico

2- Os planos devem ser detalhados e concretos

3- As promessas devem ser responsáveis e transparentes

4- As iniciativas voluntárias devem tornar-se o novo normal

Atualmente, mais de 80% das emissões mundiais são libertadas por entidades que se comprometeram em alcançar a neutralidade carbónica. Ainda assim, “demasiadas promessas de net-zero são pouco mais do que slogans vazios e publicidade enganosa” declarou a ex-ministra do Ambiente e das alterações Climáticas do Canadá, Catherine Mckenna, presidente do Grupo de Especialistas.

Tendo em conta que as pessoas que menos poluem e contribuem para a intensificação das alterações climáticas são as que mais sofrem com este fenómeno, foi anunciado um Plano Executivo de Ação para a iniciativa de Alerta Precoce para Todos, que prevê novos investimentos iniciais de 3,1mil milhões de dólares entre 2023 e 2027.

A Organização Mundial da Meteorologia (OMM) alertou para a urgência dos sistemas de alerta precoce, dado o número de catástrofes ter aumentado significativamente, em grande parte devido à (in)ação humana.

Considerando as catástrofes climáticas cada vez mais intensas e frequentes, a crise energética causada pela invasão da Ucrânia, o facto de os países e empresas mais poluentes estabelecerem compromissos que não cumprem, é compreensível não tolerar mais as promessas que são feitas em vão – apenas a ação concreta deverá ser valorizada.