Tornar o mundo um lugar melhor: o legado dos trabalhadores humanitários

Da mesma forma que, como diz o ditado, é preciso uma aldeia para criar uma criança, é preciso uma comunidade inteira para ajudar pessoas necessitadas. Em caso de emergência, as primeiras pessoas a responder são sempre as próprias afetadas pela crise. A elas juntam-se voluntários, serviços de emergência, autoridades locais e nacionais, Organizações Não Governamentais (ONG), agências da ONU, Cruz Vermelha, entre muitas outras. 

Neste Dia Mundial da Ajuda Humanitária importa lembrar os inúmeros desafios sem precedentes que o mundo enfrenta. Uma combinação de conflitos – as alterações climáticas, a geopolítica, a pandemia da covid-19, a pobreza e uma guerra – fez com que o número de pessoas que necessitam de assistência humanitária atingisse um recorde de 303 milhões. 

De acordo com dados do Programa Alimentar Mundial (PAM), o número de pessoas que sofrem de insegurança alimentar duplicou nos últimos dois anos: pelo menos 345 milhões de pessoas têm agora fome aguda, 50 milhões das quais em risco de subnutrição. A guerra na Ucrânia, agora no seu sexto mês, está a piorar este cenário, ao provocar o aumento dos preços dos combustíveis, fertilizantes e alimentos e ao causar enormes ruturas nos abastecimentos. 

À medida que esta crise se desenvolve, os trabalhadores humanitários assumem a dianteira para dar resposta aos problemas que vão emergindo, fornecendo todos os dias alimentos e dinheiro, saúde e água potável, serviços de proteção e educação de emergência a milhões de mulheres, crianças e homens. 

Como diz o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, “longe dos holofotes e fora das manchetes, os agentes humanitários trabalham 24 horas por dia para tornar o nosso mundo um lugar melhor”. 

Vidas em risco 

A ação humanitária acontece em contextos perigosos e instáveis. Os agentes humanitários “desafiam as probabilidades, muitas vezes com grande risco pessoal e aliviam o sofrimento em algumas das circunstâncias mais perigosas que se podem imaginar”, expressa António Guterres.    

Os números ilustram esses riscos. Em 2021, 268 ataques provocaram cerca de 461 vítimas: 141 trabalhadores humanitários foram mortos, 203 gravemente feridos e 117 raptados. É o maior número de mortes de trabalhadores humanitários desde 2013. 

Cerca de 98% dos trabalhadores humanitários que morreram eram funcionários nacionais e 2% eram funcionários internacionais. Mais de metade trabalhava com ONG nacionais. A maioria foi morta por armas pequenas em contexto de tiroteio, sendo a segunda maior causa de morte conhecida os ataques aéreos e os bombardeamentos, a maioria deles na Síria. Estima-se que as fatalidades aumentem em 2022 devido à guerra na Ucrânia, onde os ataques e os bombardeamentos ameaçam igualmente civis e agentes humanitários. 

Neste cenário de violência no recente conflito da Ucrânia, por exemplo, o subsecretário-geral dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas, Martin Griffiths, destaca o trabalho dos milhares de voluntários que prestam apoio a pessoas presas em zonas de guerra e a generosidade das comunidades que acolheram refugiados ucranianos. São pessoas que “com sacrifício pessoal, salvam vidas em locais que o mundo esquece e onde os riscos são reais”. 

No ano de 2022, até ao momento, 168 trabalhadores humanitários foram atacados, registando-se 44 mortes, 42 das quais trabalhadores humanitários nacionais. 

O contexto mais violento para os trabalhadores humanitários continua a ser o Sudão do Sul, seguido do Afeganistão e da Síria – uma classificação que se mantém para o número de ataques, vítimas e fatalidades, de acordo com os dados do programa Humanitarian Outcomes. 

Sobre o Dia Mundial da Ajuda Humanitária 

Em 2008, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma resolução que designa o dia 19 de agosto como o Dia Mundial da Ajuda Humanitária, uma data que na altura serviu para lamentar a morte de 22 trabalhadores humanitários num ataque bombista ao Hotel Canal em Bagdade, no Iraque, a 19 de agosto de 2003. Entre as vítimas estava o Representante Especial da ONU para o Iraque, Sérgio Vieira de Mello.  

Todos os anos, a 19 de Agosto, o Dia Mundial da Ajuda Humanitária defende a sobrevivência, o bem-estar e a dignidade das pessoas afetadas por crises, bem como a segurança e proteção dos trabalhadores humanitários.  

Um dia que celebra o que o secretário-geral da ONU diz ser “o melhor da humanidade”. 


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