A crise humanitária no Afeganistão

1 de abril de 2022 Afeganistão

O subsecretário-geral da ONU, Martin Griffiths, inaugurou a Conferência sobre Afeganistão ao contar-nos algumas histórias sobre a sua viagem recente a Cabul. Além de se encontrar com os Talibãs, o enviado especial também teve a oportunidade de visitar o hospital Indira Gandhi onde conseguiu testemunhar com os seus próprios olhos as consequências devastadoras da crise humanitária e alimentar no país.  

O subsecretário-geral da ONU contou-nos sobre uma mãe que estava a tentar salvar a sua filha de três meses tendo já perdido 2 crianças devido à subnutrição. Fala-nos também sobre uma bebé de 5 meses, a Zuleika, que estava tão fraca e desidratada que nem chorar conseguia. A Zuleika, informa a UNICEF, é só uma de milhões de crianças subnutridas no Afeganistão que, sem apoio humanitário, enfrentam níveis de subnutrição fatais.  

@UNOCHA/ Sayed Habib Bidel.

Como constatou o secretário-geral da ONU, António Guterres, “mais de metade das pessoas no Afeganistão estão entre a vida e a morte” e é essencial que as Nações Unidas e a comunidade internacional não se esqueçam das pessoas no Afeganistão. 

Crise em números 

Atualmente no Afeganistão: 

  • 6 em cada 10 pessoas precisam de assistência humanitária 
  • 95% da população não tem o que comer 
  • 9 milhões de pessoas estão em risco de subnutrição 
  • 80% da população está endividada 
  • Mais de 50% das crianças abaixo dos 5 anos sofrem de subnutrição aguda 
  • 75% do país foi afetado pelas piores secas no país há 30 anos 

E, se nada for feito, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estima que 97% dos afegãos estarão abaixo do limiar da pobreza a Junho de 2022. Com a combinação nociva da conflito civil com as secas, o covid-19 e a crise económica, as necessidades humanitárias do país triplicaram desde o ano passado.  

Para ajudar o povo afegão as diferentes agências da ONU têm estado a dar apoio constante no terreno através do financiamento do Fundo Central de Resposta a Emergências (CERF) e do Fundo Humanitário para o Afeganistão. Em 2021, os humanitários conseguiram dar alimentos, água potável, proteção, abrigo e assistência educacional e médica a 20 milhões de pessoas no Afeganistão e o FNUAP entre Agosto e dezembro do ano passado conseguiu prestar serviços de saúde reprodutiva e sexual a 250 mil afegãs.  

Este ano, o Programa Alimentar mundial já providenciou alimentos e apoio nutricional e de resistência a 14 milhões de afegãos. A UNICEF, só no mês de fevereiro, examinou quase um milhão de crianças e 4 milhões de pessoas. A ACNUR, focando-se nos refugiados internos apoiou meio milhão de pessoas nos últimos meses.  

@© WFP/Sadeq Naseri

Estima-se que o apoio humanitário da ONU tenha salvo milhões de pessoas neste inverno. Mas apesar do grande impacto dos esforços dos humanitários da ONU, a situação humanitária no Afeganistão continua a piorar consideravelmente e o Fundo Humanitário para o Afeganistão precisa de ser alimentado se quisermos evitar as mortes desnecessárias no país. 

Apelo  

O secretário-geral das Nações Unidas afirmou ontem que “a comunidade internacional tem de encontrar maneiras de poupar o povo afegão do impacto da decisão de… congelar quase 9 mil milhões de fundos afegãos no estrangeiro”. 

Estes 9 mil milhões de dólares em capital afegão a quais o secretário-geral se refere, foram congelados após a tomada de poder dos Talibãs. No entanto quem mais sofre com esta perca de capital não são os Talibãs, mas sim o povo afegão. 

@OCHA.

Uma forma através da qual a comunidade internacional pode compensar estes 9 mil milhões de dólares ao povo afegão é através de doações para apoiar os esforços humanitários da ONU e dos seus parceiros. 

A ONU argumentou que são necessários 4.4 mil milhões de dólares para apoiar o povo no Afeganistão, um valor significativamente inferior a 9 mil milhões. Com estes fundos, a ONU poderá salvar milhões de vidas e apoiar 22 milhões de pessoas ao providenciar recursos fundamentais como alimentos e água potável.  

No início da Conferência sobre o Afeganistão só se tinha angariado 13% dos fundos necessários. No fim do evento mais de metade dos fundos, 2.44 mil milhões de dólares, tinham sido angariados com doações de vários países, entre os quais os EUA que doaram mais de 512 milhões, e a Andorra que doou 16 mil dólares. Para além de países entidades como o Banco Asiático para o Desenvolvimento (ADB) doaram cerca de 312 milhões de dólares. 

 

 

 


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