A história da Natasha: Uma refugiada ucraniana que teme nunca mais ver o seu marido

Artigo da autoria da ONU News em português

Natasha, de 33 anos, era professora universitária e fazia também auditoria. No dia da invasão russa, ela, o seu marido, e a sua filha de 4 anos saíram de casa com a esperança de poderem regressar brevemente; não acreditavam que iria haver uma guerra em pleno século XXI . Um mês depois, a Natasha e a sua filha refugiam-se em Portugal, mas o marido da Natasha teve que ficar na Ucrânia a lutar.  

24 de fevereiro de 2022: era uma quinta-feira típica de Inverno em Kharkiv, no leste da Ucrânia. Nataliia Vladimirova estava a dormir quando foi acordada pelo marido, que lhe avisou que tinham começado os ataques russos. Naquele momento, a ex-professora universitária e auditora nem sequer pensou no que iria colocar nas malas. Levou simplesmente o maior número possível de documentos e roupas para a filha Oleksandra, que tem apenas quatro anos. A família da Natasha não tem a menor idea de quanto tempo irá durar o conflito. 

Fuga repentina

@Arquivo pessoal de Nataliia Vladimirova.
A família vivia feliz em Kharkiv até a guerra começar. Deixaram a cidade no dia 24 de fevereiro.

Nesse mesmo dia, a família abandona o apartamento em Kharkiv- o marido só com a roupa desportiva que tem no corpo.  

Antes do ataque russo, as dúvidas e o ceticismo permeavam as conversas de Natasha com o marido. Ela tinha até sugerido antes da guerra começar que comprassem bilhetes de avião no caso que fosse necessário fugir. Mas ele não acreditava que pudesse de fato haver uma invasão russa em pleno século XXI.  

De um momento para o outro, a vida do casal e da sua filha tomou um rumo inesperado: o marido ficou na Ucrânia enquanto a Natasha e a pequena Sasha conseguiram encontrar refúgio em Portugal. Foi em Lisboa que a Natasha contou a sua história à ONU News. Mas até chegarem à capital portuguesa, a família passou por várias cidades. 

Travessia pela Ucrânia
@Nataliia Vladimirova, Arquivo Pessoal.
Natasha, a filha e a sogra ficaram hospedadas em abrigos para refugiados na Ucrânia e Romênia.

A primeira paragem foi em Dnipro, onde vivia um amigo da família. Não ficaram muito tempo pois logo no primeiro dia, soaram as sirenes: um sinal que as explosões estão prestes a começar. A Natasha contou-nos sobre o sue estado emocional e como esse foi rapidamente afetado. Temendo o pior, decidiram ir para outra cidade. 

Chegam a Odessa, onde estão cada vez mais perto das fronteiras. Nessa cidade recebem a confirmação de que o marido não poderá continuar com elas: os homens entre os 18 e 60 anos são obrigados a ficar na Ucrânia. A sogra de Natasha, a Nataliia Rodenko, junta-se ao grupo e juntas seguem rumo a Kvuyry Rih. As sirenes continuam a tocar e a pequena Sasha quer saber o que significa esse barulho. 

Uma criança no meio da guerra

@Nataliia Vladimirova, Arquivo Pessoal.
A família de Natasha no voo para Portugal. Elas já deram entrada na documentação para o estatuto de refugiadas.

De acordo com a Natasha, uma senhora explica a Sasha que deve tapar os ouvidos e abrir a boca. Da próxima vez que soam as sirenes, a menina conta à mãe que já sabe exatamente o que fazer. Mas a especialista em economia comenta que uma criança de quatro anos não deveria ter de aprender o que fazer nessa situação, nunca.  

A família finalmente atravessa a fronteira de carro e chega à Roménia, onde permanecem durante quatro dias. Voluntários da Cruz Vermelha ajudam as três a encontrar abrigo e quando chegam a Bucareste, descobrem que o governo de Portugal está a organizar um voo humanitário para os refugiados ucranianos.  

Pensando no clima ameno de Portugal e na proximidade com o mar, Natasha decide aceitar o desafio de ir buscar refúgio num país onde nunca esteve e onde não conhece ninguem. Chega no dia 14 de março e, novamente, com a ajuda de voluntários, Natasha, a sogra e a filha foram acolhidas por uma família portuguesa que vive em Lisboa e que abriu as portas de sua casa às ucranianas. 

Solidariedade de desconhecidos

Natasha faz questão de contar que as roupas que ela e a sogra estão a utilizar foram doadas pelos amigos da família queas acolhem. Gestos de bondade de desconhecidos que fazem toda a diferença num momento delicado.  

Emocionada, revela o seu maior medo: não se conseguir reunir com o marido, com quem consegue conversar por videochamada duas vezes por dia. A filha já está registada como refugiada junto aos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal, SEF, enquanto a Natasha e a sogra estão no processo de conseguir a documentação.  

Os próximos objetivos da Natasha passam por encontrar trabalho e uma vaga numa escola para a filha. A ansiedade que sente quando vê as notícias sobre a Ucrânia é intercalada por momentos de alívio ao saber que estão em segurança. 

 Entre os dias 24 de fevereiro e 27 de março, o SEF forneceu estatuto de proteção temporária a mais de 22,7 mil ucranianos e cidadãos de outros países que estavam a viver na Ucrânia na altura da invasão russa. O governo português está a facilitar a emissão de documentos para os refugiados e criou um site especial de apoio aos refugiados ucranianos, o portal Portugal for Ukraine.
 


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