Água e clima: resposta integrada da ONU à crise climática

Lançada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), a nova Aliança para a Água e o Clima pretende incentivar políticas integradas mais eficazes num contexto em que as alterações climáticas, a degradação ambiental e o crescimento demográfico agravam os riscos de escassez de água. A aliança destina-se a conjugar esforços entre a OMM, 10 agências da ONU e um painel de líderes políticos, civis e representantes regionais.

A aliança foi anunciada num evento de alto nível da Assembleia Geral da ONU, a 18 de março, visando recuperar o atraso face aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionados com a água e, em particular, o ODS6: água limpa e saneamento para todos. O evento teve lugar dias antes do Dia Mundial da Água, a 22 de março – cujo tema deste ano é a valorização da água. O Relatório do Desenvolvimento Mundial da Água da ONU dedica-se ao tema da campanha.

“Hoje, a nossa discussão não é sobre um líquido numa garrafa. A sua existência ou falta significa muito, muito mais. É sobre dignidade (…) é sobre a nossa saúde e a nossa capacidade de sobreviver” – presidente da Assembleia Geral da ONU, Volkan Bozkir.

No discurso de abertura, a subsecretária-geral da ONU, Amina Mohammad, pediu mais ambição aos governos na ação climática, destacando a prioridade de alcançar as metas da Agenda 2030. Amina Mohammad reiterou o apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, para alocar 50 por cento do orçamento da ação climática na adaptação, perante a desestabilização dos circuitos de água e saneamento.

De acordo com a OMM, cerca de 39 por cento da população mundial não tem acesso a água potável e estima-se que, em 2050, mais de 50 por cento das pessoas enfrentem stress hídrico. As alterações climáticas estão a ter impacto nos padrões de precipitação e a afetar o acesso à água, agravando os danos causados pelas enchentes e pelas secas em todo o mundo.

“Os maiores impactos das alterações climáticas est\ao relacionados coma água (…) Temos que nos adaptar às alterações climáticas. Uma das vias mais poderosas para nos adaptarmos é o investimento em serviços meteorológicos e hidrológicos”, declarou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, numa mensagem-vídeo

 

O derretimento de gelo

O derretimento de gelo e das calotas polares tem gerado riscos de curto prazo, ameaçando, no entanto, a segurança e o acesso à água de centenas de milhões de pessoas, a longo prazo.

No século passado, mais de 8% do território do Tajiquistão era coberto por glaciares, somando um total de 14.500 glaciares. Hoje, mais de 1.000 glaciares derreteram completamente, fazendo diminuir um terço do volume total – alertou o presidente do país, Emomaliji Rahmon, na Assembleia Geral da ONU, no evento de lançamento da nova aliança.

“Esta tendência pode ter consequências muito dramáticas a médio e longo prazo. Ao mesmo tempo, as alterações climáticas intensificaram a frequência de fenómenos hídricos e meteorológicos naturais, como a seca, as inundações, as correntes de lama, as avalanches e os deslizamentos de terra. Os desastres naturais causam enormes danos na economia e no meio ambiente do Tajiquistão, todos os anos, minando os esforços nacionais pelo desenvolvimento sustentável. Esses desafios também são típicos noutros países da Ásia Central”, acrescentou.

 

Acelerar o ritmo da ação climática

“Se quisermos cumprir os nossos compromissos com o ODS 6, temos de acelerar – e, em certas áreas, trabalhar quatro vezes mais rápido”, declarou o Presidente da Água da ONU, Gilbert F. Houngbo, também Presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola e um dos membros do painel de Líderes do Clima.

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Os Líderes da Água e do Clima fornecerão orientações práticas sobre integração, informação, cooperação e investimento adequados.

 

Colmatar a lacuna de informação

A falta de informação sobre os recursos hídricos é um dos principais obstáculos à tomada de medidas eficientes e sustentáveis ao nível da água. Os decisores políticos enfrentam o mesmo problema quando se trata de prevenir riscos de secas e enchentes. A liderança da OMM pode ajudar a colmatar esta lacuna.

 

Hoje, 60% dos Estados-membros da OMM relatam incapacidades na monitorização hidrológica e, consequentemente, na tomada de decisão sobre as relações entre a água, a alimentação e a energia. Mais de 50% dos países não possuem um sistema de gestão de qualidade para dados relacionados com a água e só 40% dos países têm bons sistemas de alerta precoce para secas e enchentes. Os líderes carecem de uma base de informação fidedigna para tomar decisões que tenham consequências jurídicas nas escalas das bacias hidrográficas.

Esta conjuntura ameaça seriamente a agenda de desenvolvimento sustentável.

A Water and Climate Coalition é um esforço voluntário para colmatar a lacuna de informações sobre a gestão da água, dos alimentos e da energia, no sentido de enfrentar os impactos crescentes das alterações climáticas. A aliança apoia a implementação da Década de Ação pela Água da ONU, por meio da Estrutura do Acelerador Global da Água da ONU para o ODS 6 com um mecanismo de ação concreto.

Destina-se a:

  • Disseminar os princípios da ação climática integrada, ambicionando uma nova política mundial pelo clima e pela água que aposte em abordagens integradas
  • Reunir uma aliança global para implementar e partilhar os benefícios da adaptação multilateral e da resiliência regional. Inclui o acesso universal e gratuito a informações e serviços relevantes, a capacidade para agir com base nessas informações e o investimento nas melhores soluções

 

As mensagens fundamentais da Aliança são:

  • O desenvolvimento sustentável obriga a soluções integradas de água, clima e meio ambiente
  • A informação sobre água é um bem público e deve ser gratuita
  • A cooperação internacional e intersetorial traz benefícios e maior resiliência
  • Investir em soluções eficazes de gestão de água a longo prazo ajuda a preparar o nosso planeta para o futuro

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