Ajuda humanitária a Gaza: uma missão impossível

A Faixa de Gaza tornou-se “um lugar de morte e desespero”, onde a prestação de assistência humanitária é quase impossível. Embora as necessidades sejam imensas, não há condições para a entrega e a distribuição da ajuda.

Três meses depois dos ataques lançados pelo Hamas em Israel, que custaram a vida a 1.200 pessoas e resultaram na tomada de 240 reféns, dos quais 120 ainda estão detidos, as represálias do Estado israelita não diminuíram de intensidade.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, até 9 de janeiro, 22.8000 pessoas tinham sido mortas na Faixa de Gaza, a grande maioria delas mulheres e crianças. Grande parte das infraestruturas foram destruídas: casas, escolas, centros de saúde, etc.

Nenhum lugar é seguro

Cerca de 1,9 milhões dos 2,2 milhões de residentes de Gaza foram deslocados. Quase 1,4 milhões deles refugiaram-se em instalações da Agência das Nações Unidas de Apoio aos Refugiados Palestinianos (UNRWA), principalmente no sul da Faixa de Gaza. Entre eles está também o pessoal humanitário da ONU.

“As famílias dormem ao ar livre à medida que as temperaturas caem, as áreas onde os civis tiveram que se deslocar para sua segurança foram bombardeadas. As instalações médicas estão sob constante ataque. Os poucos hospitais parcialmente funcionais estão sobrecarregados com casos de trauma, há uma escassez crítica de suprimentos e estão cheios de pessoas desesperadas em busca de segurança”, explica o chefe humanitário das Nações Unidas, Martin Griffiths.

© UNICEF:Ayad El Eyad | O risco de fome tem-se agravado de dia para dia.

Ameaça de fome

Toda a população – cerca de 2,2 milhões de pessoas – sofre de insegurança alimentarde acordo com as estimativas do Programa Alimentar Mundial (PAM).

“Pelo menos um em cada quatro agregados familiares, ou mais de meio milhão de pessoas, enfrenta condições catastróficas de insegurança alimentar aguda”, detalhou o PMA, acrescentando que “estes níveis alarmantes de insegurança alimentar aguda não têm precedentes na história recente.

Já em 20 de dezembro, o PAM alertou para o risco de fome “se não restaurarmos urgentemente o acesso a alimentos adequados, a água potável e serviços de saúde e a saneamento”.

Contudo, nas últimas semanas, os pontos de entrada na Faixa de Gaza foram praticamente fechados, com exceção da passagem fronteiriça de Rafah. Embora a ajuda que entra na Faixa de Gaza tenha aumentado de forma constante, está longe de ser suficiente para satisfazer as necessidades que continuam a crescer exponencialmente, afirma o PAM.

Saúde em Gaza

O sistema de saúde de Gaza está em colapso, com apenas 13 dos 36 hospitais parcialmente funcionais. Os hospitais no Sul devem lidar com pelo menos três vezes a sua capacidade. Os hospitais carecem de suprimentos básicos, combustível e pessoal para prestar cuidados de saúde primários na escala necessária, e muito menos para tratar com segurança casos de emergência.

No entanto, as hostilidades e as ordens de evacuação dificultam o acesso aos hospitais para pacientes e ambulâncias, e complicam significativamente a tarefa da Organização Mundial de Saúde (OMS) de visitar estes hospitais para trazer mantimentos e combustível.

Os profissionais de saúde são forçados a fugir. “Há apenas dois dias estive no Hospital Al-Aqsa, na zona central. Quando cheguei, o diretor do hospital disse-nos que nos três ou quatro dias anteriores à nossa chegada tinha perdido 70% do seu pessoal”, descreveu Sean Casey, coordenador da Equipa Médica de Emergência do hospital. Fugiram com suas famílias, temendo que fossem dadas ordens de evacuação na região.

© UNICEF/Eyad El Baba | A intensificação das hostilidades no Sul também está a dificultar o acesso à ajuda humanitária.

Acesso limitado e perigoso

Além disso, durante duas semanas, a OMS não conseguiu aceder ao norte de Gaza. Desde 26 de dezembro, a agência da ONU foi forçada a cancelar seis missões planeadas. “A nossa equipa está pronta para intervir, mas não recebemos as autorizações necessárias para prosseguir com segurança”, detalha o Dr. Peeperkorn, representante da OMS para o Território Palestino Ocupado.

A intensificação das hostilidades no Sul também está a dificultar o acesso à ajuda humanitária, seja através de bombardeamentos, combates terrestres, explosivos não detonados ou estradas significativamente danificadas.

A comunidade humanitária vê-se confrontada com a missão impossível de ajudar mais de 2 milhões de pessoas, “mesmo quando o seu próprio pessoal é morto e deslocado, as interrupções nas comunicações continuam, as estradas são danificadas e os comboios estão sob fogo, e os fornecimentos comerciais vitais para a sobrevivência estão quase esgotados”, explica Martin Griffiths.

Desde 7 de Outubro, 145 trabalhadores da ONU foram mortos, juntamente com membros das suas famílias. Nunca na história da organização um único conflito causou tantas vítimas entre os seus funcionários.

Pequena ajuda

Apesar dos grandes desafios, a ONU e os seus parceiros prestaram cuidados e serviços médicos a cerca de meio milhão de pessoas desde 7 de outubro mas as necessidades são enormes – e pouco mais de um terço dos mais de 350 abrigos formais e informais para pessoas deslocadas internamente na Faixa de Gaza têm acesso a pontos médicos de qualquer tipo.

Ao mesmo tempo, a recusa contínua de fornecer combustível às instalações de água e saneamento priva dezenas de milhares de pessoas do acesso à água potável e aumenta o risco de transbordamentos de esgotos, aumentando significativamente o risco de propagação de doenças transmissíveis, indicou o porta-voz da ONU na terça-feira.

Os abrigos estão extremamente superlotados e parceiros humanitários estão a trabalhar tentando fornecer itens essenciais. Desde o início das hostilidades, prestaram assistência essencial a mais de 914 mil pessoas deslocadas em abrigos geridos pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA) e outras agências, incluindo 650 mil artigos de cama, quase 27 mil tendas, mais de 17 mil roupas de inverno, entre outros suprimentos essenciais.


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