Ban Ki-moon apresenta relatório para primeira Cimeira Humanitária Mundial

A primeira Cimeira Humanitária Mundial, que decorrerá a 23 e 24 de maio, em Istambul (Turquia), é uma prioridade do Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, no diálogo com a comunidade internacional para a resolução dos desafios globais que causam grande sofrimento humano, nomeadamente os relacionados com conflitos e desastres naturais.

A questão central é: Como é que podemos agir em conjunto para criar um mundo mais seguro e humano?

Para ajudar a essa reflexão, Ban Ki-moon apresenta, esta terça-feira, na sede da ONU, em Nova Iorque, o seu relatório “Uma Humanidade: Responsabilidade Partilhada”, que deverá servir de base à discussão na Cimeira Humanitária Mundial.

O relatório enfatiza a necessidade de colocar a Humanidade no centro da decisão política global e apresenta cinco responsabilidades centrais que a comunidade internacional deve assumir. 

Para a cimeira foram convidados representantes dos governos, do setor privado, de organizações multilaterais, da sociedade civil, da academia e das comunidades afetadas pelas crises.

Veja as principais orientações do relatório em http://sgreport.whsummit.org/

WHS

125 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária

Ano após ano, o deslocamento forçado, a vulnerabilidade, a desigualdade, as alterações  climáticas e a pobreza fazem com que cada vez mais pessoas se juntem aos já identificados  125 milhões de cidadãos que necessitam, a nível mundial, de assistência humanitária e proteção.

Para enfrentar os crescentes desafios e exigências do século XXI, precisamos da solidariedade global e de ação coletiva. A Cimeira Humanitária Mundial será uma oportunidade para os líderes afirmarem a sua responsabilidade partilhada de ajudarem os milhões de pessoas afetadas, atualmente, pela guerra e pelos desastres naturais, lançando ações concretas e compromissos que visem aliviar o sofrimento humano.

“Não podemos alcançar um mundo seguro e digno para todos sem resolver a situação dos milhões de mulheres, crianças e homens afetados pelas crises humanitárias. Apenas trabalhando em conjunto podemos lidar com as crescentes necessidades humanitárias”, defende o Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

cimeira

Relatório “Uma Humanidade: Responsabilidade Partilhada”, por Ban Ki-moon – Introdução

  • Quando era criança vivi num ambiente de guerra. Tinha seis anos quando fui forçado a fugir da minha casa e da minha aldeia, na Coreia, levando apenas o que conseguia transportar nos meus braços. As escolas destruídas, a minha casa abandonada deixavam-me cheio de medo e de incertezas. Não podia imaginar que a hora mais negra da minha vida iria moldar fortemente o meu destino. Ao providenciar abrigo, livros escolares e material de socorro, um jovem da Organização das Nações Unidas ofereceu-me esperança e proteção e inspirou-me a seguir uma carreira no serviço público. Sete décadas após a fundação da Organização das Nações Unidas, acredito que a sua bandeira azul continua a ser uma bandeira de esperança para toda a Humanidade.

 

  • Durante o meu mandato como Secretário-geral, tenho sido inspirado pelo que a comunidade internacional consegue alcançar quando age em conjunto. Chegámos a acordo sobre uma ambiciosa agenda de desenvolvimento sustentável para acabar com a pobreza a nível global. Adotámos um acordo universal para travar as alterações climáticas e uma nova orientação para reduzir os riscos de desastres naturais e aumentar a resiliência. Estamos a iniciar reformas em conjunto para o setor da paz e da segurança. Mas mais progresso para mais pessoas é urgentemente necessário.

 

  • No momento em que entro no último ano do meu mandato, e apesar do sucesso no acordo sobre novas orientações e regulamentos, continuo profundamente preocupado com o estado da nossa Humanidade. Em demasiados lugares, a paz, a estabilidade e o crescimento económico sustentável continuam a ser ilusórios. Conflitos brutais e, aparentemente, irresolúveis, devastaram as vidas de milhões de pessoas, ameaçando o futuro de gerações inteiras. Mais países estão a deslizar para um estado de fragilidade, marcados pela extrema pobreza, pelas fracas instituições e pelos efeitos de desastres naturais e catástrofes provocadas pelo clima. O extremismo violento, o terrorismo e o crime transnacional criam uma instabilidade persistente. O aumento da desigualdade económica no interior dos países e o fosso cada vez maior entre ricos e pobres marginalizam ainda mais as pessoas mais vulneráveis da sociedade. As alterações climáticas continuam a causar cada vez maior pressão sobre a assistência humanitária, já que agravam a insegurança alimentar, a escassez de água, o conflito, a migração e outras tendências. Os desastres naturais têm-se tornado mais frequentes e intensos. Pandemias, epidemias e outras ameaças à saúde global continuam a emergir a níveis preocupantes e com grande frequência. Com milhões de pessoas a deixarem as suas casas na busca de segurança ou de melhores oportunidades, a capacidade e a boa vontade dos países para as acolher está a ser seriamente desafiada. Embora as vilas e as cidades ofereçam novas oportunidades, a rápida urbanização sem planeamento em combinação com os desastres naturais, pandemias e bombardeamentos aéreos estão a colocar ainda mais pessoas em risco.

 

  • Estes desafios estão a testar a resiliência das comunidades e das instituições nacionais e a esticar a capacidade das organizações regionais e internacionais para as apoiar. As forças de manutenção de paz, os negociadores da paz e os trabalhadores humanitários levam a cabo missões cada vez mais longas e com custos cada vez mais elevados, mesmo quando o extremismo violento e os ataques muitas vezes prejudicam a sua capacidade de fornecer ajuda para salvar vidas. Simultanemanete, o sistema de ajuda internacional não manteve o ritmo desejável para responder aos desafios acima mencionados, com o conjunto de organizações agora envolvidas muito diverso e exigindo uma abordagem mais unificada, que combine as capacidade e recursos de todas as partes interessadas em ajudar os mais necessitados.

 

  • Estes desafios externos e internos requerem um processo de mudança fundamental para reafirmar o nosso compromisso com a Humanidade. Esta é a razão pela qual convoquei uma Cimeira Humanitárial Mundial. Acredito que a primeira cimeira deste género, a ter lugar em Istanbul, em maio de 2016, deve ser o momento para “nós, os povos” – Chefes de Estado e de Governo, representantes das comunidades afetadas, organizações nacionais e internacionais de ajuda, líderes globais de opinião, líderes do setor privado e outros – chegarmos a acordo sobre como podemos e devemos fazer mais para acabar com os conflitos, aliviar o sofrimento e reduzir o risco e a vulnerabilidade.

 

  • Em 1941, no meio de um conflito brutal e de grande sofrimento, os líderes reuniram-se no Palácio de St James, em Londres. Reconheceram a necessidade de uma mudança fundamental na forma de lidar coletivamente com as ameaças à paz e à segurança internacional. A diplomacia tomaria o lugar de guerra como o instrumento principal de manutenção das relações internacionais. Os líderes comprometeram-se com a cooperação internacional, as soluções de paz e a criação de um plano para acabar com o flagelo da guerra.  Embora os desafios de hoje possam ser diferentes, acredito que nos estamos a aproximar de um ponto similar na História. Devemos recordar-nos das promessas que fizémos e respeitar as regras que definimos. Precisamos de restaurar a confiança na nossa ordem global e mostrar a esses milhões de pessoas deixadas para trás em situação de conflito, necessidade crónica e  constante sofrimento, toda a solidariedade que eles merecem e esperam de nós.

 

  • Setenta  e cinco anos após a reunião no Palácio de St James, a Cimeira Humanitária Mundial apresenta-se como uma oportunidade para reafirmar e renovar o nosso compromisso com a Humanidade e com a unidade e cooperação necessárias para confrontar os desafios do nosso tempo. Peço aos líderes mundiais que participem na Cimeira Humanitária Mundial preparados para assumirem as suas responsabilidades para com uma nova era nas relações internacionais; uma nova era na qual salvaguardar a Humanidade e promover o progresso humano são os fios condutores da nossa tomada de decisão e ação coletivas. 

 

9 de fevereiro de 2016, Traduzido & Editado por UNRIC


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