“Cada segundo conta”

Quase metade do planeta, entre 3.3 a 3.6 mil milhões de pessoas encontram-se “altamente vulneráveis” às alterações climáticas.  

Esta é só uma das muitas conclusões devastadoras do mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), uma organização das Nações Unidas focada em tornar a ciência e a realidade sobre as alterações climáticas acessível aos legisladores, aos decisores políticos e ao público em geral.  

Este novo relatório do IPCC é dedicado aos “Impactos, Adaptação e Vulnerabilidades” das alterações climáticas e salienta o perigo da inação que de acordo com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres é “criminal”. Na próxima década, se nada for feito teremos aumentado as emissões de gases atmosféricos por 14% enquanto para alcançarmos o objetivo essencial de limitar o aquecimento mundial a 1.5°C o mundo terá de reduzir as emissões por 45% até 2030. Adicionalmente, se o aquecimento global chegar aos 2°C, caminho para qual anda, a recuperação climática será “impossível” e até 3 mil milhões de pessoas irão sofrer de escassez crónica de água, 80 milhões de pessoas irão passar fome e 4.1 milhões de crianças irão ter problemas cognitivos devido à subnutrição. 

@Fabrice Coffrini/AFP. Co-presidente da IPCC avisa que alterações climáticas podem ter impactos “irreversíveis”.
Europa, Portugal e as alterações climáticas 

Na Europa, o relatório acentua os riscos de morte de não só ecossistemas, mas também de uma parte significativa da população devido as temperaturas elevadas, mostrando que sim, a alteração climática mata. Ademais, o IPCC demonstra-se especialmente preocupado com o efeito da seca na agricultura, a falta de água potável e nos níveis preocupantes de subida do mar. 

Na Europa do Sul e em Portugal especificamente o relatório informa que se nada for feito um terço da população sofrerá de escassez de água, e que Portugal será afetado por fatalidades causadas pela seca e pelos incêndios florestais, sendo Portugal o único país na Europa do Sul cujo a área de território queimado está a subir. O relatório também reforça o fato que Portugal foi impactado pela morte prematura de 2100 pessoas em 2017 devido a má qualidade do ar após vários incêndios florestais e que, lamentavelmente, Portugal será um de 49 países que sentirá “secas que decorrerão durante mais de um ano e com uma magnitude para além dos parâmetros históricos”.  

@Miguel Manso/ Santiago do Cacém, onde a seca extrema já é um problema.
Ação, mitigação e adaptação 

O co-presidente da IPCC, Hans-Otto Pörtner, alerta que “precisamos de mobilizar ação e esforços perante uma janela de oportunidade que se está a fechar”. Implementar ação climática urgente, restringir e eventualmente abolir o uso de combustíveis fosseis, e focar-nos na adaptação são as três grandes soluções que o secretário-geral das Nações Unidas apresenta.  

O secretário-geral defende que a ação urgente climática tem de vir principalmente dos países do G20, que contribuem para 80% de todas as emissões atmosféricas, tendo Guterres afirmado que o “G20 têm de liderar o caminho, ou a humanidade irá pagar um preço ainda mais trágico”. Sem os esforços destes 20 países pouco progresso poderá ser feito. 

Adicionalmente, o secretário-geral criticou fortemente a dependência mundial nos combustíveis fosseis indicando que os combustíveis fosseis “são um beco sem saída- para o planeta, para a humanidade, e sim, para as economias mundiais”, um fato que é fundamentando pelos eventos atuais que demonstram como esta forte dependência em energias não renováveis compromete os atuais sistemas financeiros mundiais e a segurança energética que é “vulnerável a choques e crises geopolíticas”.  

Guterres apelou também à adaptação alertando que “a adaptação salva vidas” e que a “mitigação e adaptação climática têm de ser aplicadas com a mesma urgência e força” pedindo aos Estados-membros que dediquem “50% dos seus investimentos climáticas à adaptação”. O relatório foca-se então em propostas para a adaptação climática em todo o mundo, dando por exemplo a sugestão da criação de lagos artificias em Portugal para evitar a seca extrema.  

@fivepointsix / shutterstock. Moçambique é um dos países mais vulneráveis, de acordo com o Índice Global de Risco Climático (IRC).

Finalmente, ambos o relatório e o secretário-geral enfatizaram a urgência da ação, adaptação e mitigação climática pois como o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou “cada segundo conta.” 

 

 

 


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