COP26: deceção em Glasgow, apesar de progressos significativos 

O acordo alcançado no sábado, 13 de novembro de 2021, no encerramento da COP26, é “um passo importante”, mas o secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinha que “não é suficiente”. A deceção foi o visível em Glasgow, principalmente no que diz respeito à eliminação de combustíveis fósseis. 

Depois de estenderem as negociações climáticas da COP26 por mais um dia, quase 200 países reunidos em Glasgow, na Escócia, aprovaram um documento final que, segundo o líder da ONU, reflete os interesses, contradições e estado da vontade política no mundo hoje. 

“É uma etapa importante, mas não é suficiente. Precisamos acelerar a ação climática para manter vivo o objetivo de limitar o aumento da temperatura global em 1,5 graus”, afirmou António Guterres através de um vídeo divulgado no sábado. 

“Não atingimos esses objetivos nesta conferência, mas temos elementos básicos para avançar”, afirmou Guterres que também deixou uma mensagem aos jovens, comunidades indígenas, mulheres e todos ativistas climáticos. 

“Eu sei que estão desapontados, mas o caminho para o progresso nem sempre é uma linha reta. Às vezes, há desvios. Às vezes, existem fossos, mas eu sei que vamos conseguir.” 

 

Visão geral do acordo 

O documento final, conhecido como “Pacto Climático de Glasgow”, apela a 197 países para que mostrem o seu progresso na implementação de medidas climáticas no próximo ano, durante a COP27, que terá lugar no Egito. 

O documento final também consolida o acordo global para acelerar a ação climática durante esta década. 

Ao mesmo tempo, o presidente da COP26, Alok Sharma, teve de conter as lágrimas após o anúncio de uma mudança de última hora, feita pela China e pela Índia, com o objetivo de suavizar a linguagem anteriormente acordada, tendo sido o texto revisto para “reduzir gradualmente” o uso de carvão. 

Muitas delegações ficaram “profundamente desapontadas” com esta alteração.  

O acordo também prevê prazos mais rígidos para os governos atualizarem os seus planos de redução de emissões. 

Sobre a espinhosa questão do financiamento por parte dos países desenvolvidos para apoiar a ação climática nos países em desenvolvimento, o texto destaca a necessidade de mobilizar o financiamento climático “de todas as fontes para atingir o nível necessário para atingir os objetivos do Acordo de Paris, inclusive aumentando significativamente aos países em desenvolvimento, além de 100 mil milhões de dólares por ano”. 

1,5 graus, mas com um “pulso fraco” 

“As negociações nunca são fáceis … essa é a natureza do consenso e do multilateralismo”, disse a secretária executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Patrícia Espinosa. 

No início, durante a última plenária de avaliação, muitos países reclamaram que o pacote de decisões acordado não era suficiente. Alguns consideraram isso “dececionante”, mas, de modo geral, concordaram que estava equilibrado com o que os países podiam aceitar naquela época, considerado as suas diferenças. 

“É um avanço gradual, mas não à altura do progresso necessário. Será tarde demais para as Maldivas. Este acordo não traz esperança aos nossos corações”, disse o principal negociador das Maldivas no seu discurso. 

O enviado dos EUA para o clima, John Kerry, considerou que o texto “é uma declaração poderosa” e garantiu aos delegados que o seu país se envolverá construtivamente num diálogo sobre perdas/ danos e adaptação, duas das questões mais difíceis de encontrar um consenso entre países. 

“O texto representa o resultado menos mau”, concluiu o principal negociador da Nova Zelândia. 

Outras decisões importantes da COP26 

No entanto, foram feitos muitos anúncios encorajadores durante a  conferênciam um dos mais importantes foi que os líderes de mais de 120 países, representando cerca de 90% das florestas do mundo, se comprometeram a deter e a reverter o desmatamento até 2030. 

Também houve uma promessa de redução das emissões de metano, liderada pelos Estados Unidos e pela União Europeia, na qual mais de 100 países concordaram em reduzir as emissões deste gás de efeito estufa. 

Ao mesmo tempo, mais de 40 países – incluindo grandes consumidores de carvão como a Polónia, Vietname e o Chile – concordaram em abrir mão do carvão, um dos principais geradores de emissões de CO2. 

O setor privado também demonstrou forte envolvimento com quase 500 empresas de serviços financeiros globais a concordarem alinhar 130 biliões de dólares, cerca de 40% dos ativos financeiros globais, com as metas estabelecidas no Acordo de Paris, em particular, limitar o aquecimento global para 1,5 graus Celsius. 

Enquanto isso, para surpresa de todos, os Estados Unidos e a China comprometeram-se a intensificar a cooperação climática na próxima década. 

No transporte verde, mais de 100 governos nacionais, cidades, estados e grandes empresas assinaram a Declaração de Glasgow sobre Carros e Carrinhas com Emissão Zero, para acabar com a venda de motores de combustão interna até 2035 nos principais mercados em 2040m em todo o mundo. Pelo menos 13 países também se comprometeram a acabar com a venda de veículos pesados que funcionam com combustíveis fósseis até 2040.  


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