Clima: os 10 recordes do verão de 2023 

“A era do aquecimento global acabou, abram caminho para a era da ebulição global”, afirmou o secretário.geral da ONU, António Guterres, a 27 de julho. E por uma boa razão: são muitos os recordes climáticos foram quebrados em julho e agosto de 2023. 

Os extremos alcançados destacam-se como “o novo normal”, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM) das Nações Unidas, que aponta como principal fator “as alterações climáticas induzidas pelo homem devido às emissões de gases com efeito de estufa”. 

1. Julho de 2023, o mês mais quente da Terra desde o “início da humanidade”

Esta é a conclusão clara da OMM e do observatório europeu Copernicus, com uma temperatura média registada de 16,95°C ou o nível mais alto “desde o início da humanidade”, segundo o líder da ONU. O calor extremo vivido por milhões de pessoas em julho é apenas “a dura realidade das alterações climáticas e uma amostra do futuro”, alertou Petteri Taalas, secretário-geral da OMM. 

 

 2. Grécia: 17 dias de onda de calor em julho

Uma onda de calor excecionalmente longa atingiu o país durante mais de duas semanas no final de julho, segundo o Instituto de Investigação Ambiental de Atenas (IERSD). Com temperaturas por vezes superiores a 45°C, os incêndios florestais multiplicaram-se, levando à maior operação de evacuação alguma vez realizada na Grécia por causa do clima: 30.000 pessoas na ilha de Rodes, a partir de 22 de julho, depois nas ilhas de Eubeia e Corfu em Agosto. 

As ondas de calor na Europa são agora um problema de saúde pública. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), causaram mais de 60 mil mortes ali em 2022. Um nível que pode subir para 120 mil mortes por ano nesta região do mundo, até 2050. 

 

3. Onda de calor recorde de 31 dias em Phoenix, EUA

Mais de 43,3°C durante um mês… Os 1,6 milhão de habitantes de Phoenix, capital do Arizona, enfrentaram em julho uma provação sem precedentes desde a seca de 1974. O asfalto das estradas aqueceu até 66°C e a temperatura dos corpos humanos no exterior subiu para 41°C, obrigadno a uma série de hospitalizações. 

 

 4. Oceanos: 20,96°C a 4 de agosto, recorde mundial de temperatura da superfície

Já em junho, o observatório europeu Copernicus anunciou um calor anormal no Atlântico Norte em geral e no Atlântico Nordeste em particular. 

“A temperatura dos oceanos está mais alta do que nunca”, confirma o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Na Flórida, a água atingiu os 38°C e no Mediterrâneo um máximo histórico de 28,7°C em julho. 

Já em junho, o observatório europeu Copernicus anunciou um calor anormal no Atlântico Norte em geral e no Atlântico Nordeste em particular. 

5. Chuvas torrenciais em Pequim

744,8 milímetros (74,48 cm) de chuva caíram em Pequim a 7 de agosto, o nível mais alto desde que os registos meteorológicos que começaram em… 1883. As enchentes ceifaram 33 vidas, segundo as autoridades chinesas, incluindo as de cinco agentes de resgate, há ainda 18 desaparecidos. Mais de 59 mil casas desabaram e outras 150 mil foram danificadas. 

A Ásia, o maior continente do planeta, está a aquecer mais rapidamente do que a média global – quase o dobro durante o período 1991-2022 do que entre 1961 e 1990, de acordo com o último relatório sobre o estado do clima na Ásia em 2022 da OMM.   

 

6. A marca dos 50°C foi ultrapassada pela primeira vez em Marrocos

A estação meteorológica de Agadir registou uma temperatura de 50,4°C no dia 11 de agosto. Este registo está longe de ser um caso isolado: a Turquia registou uma temperatura de 49,5°C pela primeira vez a 15 de agosto, e o mercúrio subiu para os 52,2°C na província de Xinjiang a 16 de julho, um novo recorde na China. 

 

7. A cidade de Lahaina desapareceu do mapa no Havai

Um incêndio florestal agravado pelas condições climáticas matou mais de 110 pessoas no arquipélago americano do Havai, a 10 de agosto, e quase arrasou a cidade de Lahaina, de 13 mil habitantes, na ilha de Maui. A seca favoreceu o fogo, enquanto o furacão Dora, que não atingiu o Havaí, ajudou a fortalecer os ventos e a precipitar as chamas na pequena cidade portuária. 

 

8. Canadá: recordes de “megaincêndios” e áreas queimadas

As chamas, ativas a partir de Abril no Canadá, causaram picos de poluição atmosférica e escureceram dramaticamente os céus de Montreal e Nova Iorque no início de junho. 

Até 17 de agosto, 600 incêndios ativos ainda estavam fora de controle e nada menos que 5.738 incêndios já haviam queimado 13,7 milhões de hectares desde o início do ano, ou mais de 1% do território nacional. Uma área que ultrapassa Portugal em dimensão e representa aproximadamente a área da Grécia. Isto é quase o dobro da área queimada do recorde anterior, em 1989. Até as regiões do norte do país, perto do Círculo Polar Ártico, foram afetadas: uma ordem de evacuação foi dada em 16 de agosto às 20 mil pessoas de Yellowknife, capital dos Territórios do Noroeste.  

Os incêndios alimentam o ciclo vicioso do aquecimento global: enormes quantidades de carbono são libertadas na atmosfera, enquanto a vegetação capaz de absorver as emissões de carbono é devastada. 

A altitude onde se forma neve foi registada num recorde de 5.298 metros a 21 de agosto de 2023.

9. O “ponto do gelo” a uma altitude recorde de 5.298 metros na Suíça

A altitude onde se forma neve foi registada num recorde de 5.298 metros a 21 de agosto pelo Météo Suisse, 115 metros mais elevada do que em 2022. Isto é muito mais alto do que o pico da Europa, Monte Branco, que culmina a 4.808 metros. 

“É mais um golpe para os glaciares, que já sofreram muito este ano”, avisa Matthias Huss, chefe da Rede Suíça de Monitorização dos Glaciares e membro da comunidade responsável pela Observação Mundial da Criosfera na OMM. 

 

10.  41,8°C em pleno inverno no Brasil

O hemisfério norte não é o único a ser afetado pelo calor: o Brasil registou recorde de 41,8°C em agosto em Cuiabá, em pleno inverno. A onda de calor atingiu grande parte do território, empurrando milhares de cariocas para as praias. 

O país também teve o mês de julho mais quente de sempre, com uma média de 23°C. A causa provável, segundo os climatologistas: as mudanças climáticas e o fenómeno El Niño, que se caracteriza por temperaturas anormalmente altas da água na parte oriental do Oceano Pacífico Sul. 

Tantas descobertas alarmantes na véspera da Conferência sobre Alterações Climáticas (COP 28), no Dubai, de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, que alimentarão o debate sobre as medidas a serem tomadas e possíveis soluções. 

 


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