Com o norte isolado, a sobrevivência dos habitantes de Gaza está em risco

Artigo original publicado pela ONU News 

O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) revelou que o enclave não recebe alimentos e água há uma semana, à medida que ordens de evacuação em hospitais estão a ameaçar a vida de dezenas de crianças.  

Milhares de palestinianos que ainda se encontram no norte de Gaza enfrentam maiores dificuldades depois de terem sido isolados por operações militares israelitas, de acordo com profissionais humanitários da ONU.  

Além disso, um conjunto de camiões que transportavam fornecimentos médicos enviado pelas Nações Unidas e parceiros foi recentemente atacado na Cidade de Gaza.  

© UNICEF/Eyad El Baba | A cidade de Gaza é bombardeada à noite.

Ajuda médica sob ataque 

Segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) não existem padarias em funcionamento no norte de Gaza devido à falta de combustível, água e farinha, além de não haver distribuição de alimentos ou água engarrafada há uma semana. 

Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que, devido à falta de suprimentos médicos, os hospitais do norte passaram a realizar cirurgias sem anestesia.  

Nesta terça-feira dia 7 de novembro, um conjunto de cinco camiões da OMS e da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinianos (UNRWA) escoltados por dois veículos do Comité Internacional da Cruz Vermelha (Cicv) foi atacado quando se encontrava a caminho dos hospitais Shifa e Al Quds para entregar suprimentos médicos vitais. 

Dois camiões foram danificados e um motorista ficou ferido, mas a ajuda humanitária acabou por conseguir chegar ao hospital de Shifa e efetuou a entrega, confirmou o OCHA. 

Entretanto, os bombardeamentos israelitas continuaram em toda a Faixa de Gaza, enquanto os grupos armados palestinianos não cessam o lançamento de projéteis contra Israel. 

© UNICEF/Eyad El Baba | Crianças recolhem água na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.

Evacuação do norte 

Relatos indicam que as tropas israelitas se encontram dentro da cidade de Gaza em perseguição aos combatentes do Hamas responsáveis ​​pelos ataques mortais de 7 de outubro no sul de Israel. 

De acordo com o OCHA, os militares israelitas reiteraram ordens de evacuação aos residentes do norte na terça-feira, pelo quarto dia consecutivo, e abriram um “corredor” ao longo de uma via de tráfego, que permitiu aos residentes uma janela de quatro horas para se deslocarem para o sul. 

Monitores da ONU estimam que até 15 mil pessoas podem ter utilizado esta rota, tendo o OCHA sublinhado que “a maioria, incluindo crianças, idosos e pessoas com deficiência, chegou a pé com pertences mínimos”. 

Segundo informações do OCHA, no dia 7 de novembro, um mês depois dos ataques, o exército israelita também renovou as ordens de evacuação do hospital Rantisi na cidade de Gaza, a única instalação pediátrica no norte, “alegando que grupos armados estavam a utilizar as instalações e arredores”. 

De acordo com as autoridades de saúde de Gaza, tal evacuação colocaria em perigo a vida de dezenas de crianças que se encontram em suporte básico de vida, em diálise renal ou que dependem de ventiladores. 

Alerta sobre crimes de guerra 

Segundo relatos, cerca de um terço de todos os edifícios no norte de Gaza foram destruídos ou danificados. O relator especial da ONU sobre Direito à Habitação Adequada, Balakrishnan Rajagopal, alertou nesta quarta-feira, dia 8 de novembro, que o bombardeamento sistemático ou generalizado de habitações, objetos e infraestruturas civis é estritamente proibido pelo direito humanitário internacional. 

Balakrishnan Rajagopal afirmou que realizar ataques “com o conhecimento de que irão destruir e danificar sistematicamente habitações e infraestruturas civis, tornando uma cidade inteira, como a cidade de Gaza, inabitável para civis constitui um crime de guerra”. 

Escassez crónica de água e pão 

No sul de Gaza, encontrar alimentos e água continua a ser um desafio. Ao todo, 11 padarias foram atingidas e destruídas desde 7 de outubro e “a única fábrica em funcionamento em Gaza” está paralisada devido à falta de eletricidade e combustível. 

O OCHA partilhou que o pão é fornecido às padarias “de forma intermitente” e as pessoas fazem longas filas em frente aos estabelecimentos que ainda funcionam, onde correm o risco de serem atingidas por ataques aéreos. 

A água que chega do Egito em garrafas e garrafões “satisfaz apenas 4% das necessidades de água dos residentes por dia”, com base numa atribuição de três litros por pessoa por dia para todos os fins, incluindo cozinha e higiene. 

OMS | Um paciente é tratado em cirurgia no hospital Al-Quds em Gaza

Ajuda representa ‘uma gota no oceano’ 

Na terça-feira, 81 camiões que transportavam alimentos, medicamentos, suprimentos de saúde, água engarrafada e produtos de higiene entraram em Gaza a partir do Egito, através da passagem de Rafah. No total, 650 camiões de ajuda entraram em Gaza desde que as entregas foram retomadas a 21 de outubro. 

O OCHA lembrou que, antes do início do confronto, uma média de 500 camiões entravam em Gaza todos os dias. A OMS classificou a quantidade de ajuda que conseguiu fornecer até agora como “uma gota no oceano” em comparação com as enormes necessidades da população. 

A ONU tem apelado repetidamente por mais acesso para a entrada de ajuda em Gaza.  

O chefe de ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths, representará o secretário-geral, António Guterres, numa conferência internacional no dia 9 de novembro sobre ajuda humanitária para os civis de Gaza. O evento é organizado pelo presidente francês Emmanuel Macron, em Paris. 


Direito Internacional e Justiça

Entre as maiores conquistas das Nações Unidas está o desenvolvimento de um corpo de leis internacionais, convenções e tratados que promovem o desenvolvimento económico...