Gaza: um massacre de civis sem precedentes

“Esta guerra está a causar um número assustador e inaceitável de vítimas civis todos os dias, especialmente mulheres e crianças. Isto tem de acabar”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas sobre a situação na Faixa de Gaza. 

Desde 7 de outubro, 11.078 pessoas foram mortas na Faixa de Gaza, incluindo 4.506 crianças, de acordo com o Ministério da Saúde. “Sem querer discutir a exatidão dos números do Ministério da Saúde de Gaza, o que é claro é que milhares de crianças foram mortas no espaço de algumas semanas“, indicou António Guterres. 

Estamos a assistir a um massacre de civis sem precedentes em qualquer conflito desde que me tornei secretário-geral”, acrescentou, reiterando o seu apelo a um cessar-fogo humanitário. 

O secretário-geral da ONU revelou também estar “profundamente chocado com o facto de duas escolas da UNRWA (a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinianos) terem sido atingidas em menos de 24 horas em Gaza”. 

Uma situação insuportável na Faixa de Gaza 

Na segunda-feira, a UNRWA descreveu como insuportável a situação nos abrigos que gere em Gaza, principalmente escolas que foram transformadas em campos para refugiados e pessoas deslocadas. 

O diretor dos assuntos da UNRWA em Gaza, Tom White, declarou à estação de televisão americana ABC que 13 locais da UNRWA onde as pessoas se “refugiaram sob a bandeira da ONU” foram “diretamente afetadosdesde 7 de outubro, enquanto “inúmeros outros abrigos” sofreram “danos colaterais”, muitos deles no sul de Gaza, onde os civis foram obrigados a fugir. 

Para o alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o que está a acontecer em Gaza é “incompreensível”. “A morte de tantas pessoas em escolas transformadas em abrigos e as centenas de pessoas que fugiram do hospital de al-Shifa para salvar as suas vidas, enquanto milhares de outras continuam a ser deslocadas no sul de Gaza, são ações que vão contra as proteções básicas que o direito internacional deve conceder aos civis“, afirmou Volker Türk. 

Ainda sem pausas humanitárias 

A 15 de novembro, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução que apela a pausas e corredores humanitários urgentes e prolongados em toda a Faixa de Gaza durante um número suficiente de dias. Até à data, esta resolução não foi aplicada e a operação militar do exército israelita prossegue. 

Do mesmo modo, os cerca de 200 reféns raptados pelo Hamas a 7 de outubro ainda não foram libertados. A mediação foi efetuada pelo Qatar, mas ainda não foi bem sucedida. O secretário-geral da ONU expressou “a sua profunda gratidão por todos os esforços de mediação conduzidos pelo Governo do Qatar”. 

© UNICEF/Eyad El Baba | Os bebés no hospital Al-Shifa são preparados para a evacuação.

Situação humanitária continua desesperante 

A Organização Mundial de Saúde anunciou no domingo que “31 bebés muito doentestinham sido evacuados do hospital de Al-Shifa, no norte de Gaza, onde as forças israelitas operam desde a semana passada. 

A maioria dos hospitais da Faixa de Gaza já não está a funcionar devido à falta de equipamento médico e de combustível. No norte, as infraestruturas sanitárias não foram poupadas pelos bombardeamentos. 

Após longas semanas de espera, as autoridades israelitas autorizaram a entrega de combustível para as operações humanitárias da UNRWA. No entanto, a autorização cobre apenas metade das necessidades mínimas diárias de combustível para estas operações humanitárias, segundo o diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini. 

Os habitantes estão também a sofrer com a falta de alimentos. Quase seis semanas após o início do conflito, os sistemas alimentares em Gaza estão a entrar em colapso, de acordo com o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM). 

“Os mercados estão a ficar sem alimentos e a última padaria contratada pelo PAM cessou atividade devido à falta de combustível e de gás de cozinha”, declarou a agência. 

“Desde o início das hostilidades, apenas 10% dos géneros alimentícios necessários entraram na Faixa de Gaza através da passagem de Rafah. O enclave está a enfrentar um enorme défice alimentar e uma fome generalizada, com quase toda a população a necessitar desesperadamente de ajuda alimentar“, referiu o PAM. 


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