Guterres adverte para “uma onda de fome e miséria sem precedentes”

O novo relatório do Grupo de Resposta à Crise Mundial de Alimentação, Energia e Finanças “deixa claro que o impacto da guerra na segurança alimentar, energia e finanças é sistémico, severo e crescente” esclarece o secretário-geral da ONU, António Guterres.  

O Grupo de Resposta à Crise Mundial de Alimentação, Energia e Finanças (GCRG) lançou o 2º relatório sobre o impacto global da guerra na Ucrânia hoje, dia 8 de junho, expondo dados e previsões considerados alarmantes. De acordo com o relatório, aproximadamente 1.6 mil milhões de pessoas em 94 países foram, são ou serão afetadas por, pelo menos, um aspeto desta crise tridimensional.

Para minimizar o impacto da guerra na Ucrânia o secretário-geral das Nações Unidas diz que só existe uma maneira: “travar a invasão russa à Ucrânia.” No entanto, até que isso aconteça é necessária “uma ação imediata nas duas frentes… pois precisamos de trazer estabilidade aos mercados globais de alimentos e energia para quebrar o ciclo vicioso do aumento dos preços e trazer alívio aos países em desenvolvimento.”

“Nova realidade” 

O secretário-geral das Nações Unidas participou no lançamento do relatório do GCRG, onde declarou que após “três meses de invasão russa à Ucrânia, o mundo enfrenta uma nova realidade“. 

“Para aqueles que estão no terreno, cada dia traz um novo derramamento de sangue e sofrimento. E para as pessoas em todo o mundo, a guerra ameaça desencadear uma onda sem precedentes de fome e miséria, propagando o caos social e económico” explica o secretário-geral.  

@PMA/Kaung Htet Linn. Distribuição de arroz na cidade de Yangon, Myanmar. (impacto)
@PMA/Kaung Htet Linn. Distribuição de arroz na cidade de Yangon, Myanmar.

Cerca de 60% dos trabalhadores em todo o mundo têm rendimentos mais baixos do que antes da pandemia de Covid-19 e o número de pessoas afetadas gravemente pela insegurança alimentar duplicou de 135 milhões para 276 milhões em apenas dois anos. Consequentemente, uma crise no custo de vida – causada pela combinação da crise alimentar, energética e financeira – pode desencadear um “ciclo de agitação social que levará à instabilidade política”, adverte a líder do GCRG, Rebeca Grynspan.  

Para Rebeca Grynspan a crise alimentar é particularmente preocupante e, se nada for feito, “pode rapidamente transformar-se numa catástrofe alimentar de proporções globais em 2023.” 

O relatório e o secretário-geral da ONU destacam o impacto do preço dos fertilizantes. Como afirma Guterres, “os preços dos fertilizantes mais do que duplicaram, soando um alarme em todo o mundo. Sem fertilizantes, a escassez de milho e trigo propagar-se-á a todas as culturas básicas, incluindo o arroz, com um impacto devastador em milhares de milhões de pessoas na Ásia e na América do Sul.”

“Agir agora para salvar vidas” 

Para resolver esta crise mundial o secretário-geral disse ter pedido a “Rebeca Grynspan e ao chefe humanitário Martin Griffiths, que coordenassem duas equipas de trabalho para ajudar a encontrar uma série de acordos que permita a exportação segura de alimentos produzidos na Ucrânia através do Mar Negro, e o acesso livre aos mercados globais de alimentos e fertilizantes russos.”

Os funcionários da ONU já começaram, inclusivamente, a trabalhar com os representantes da Ucrânia, da Federação Russa, da Turquia, da União Europeia e dos Estados Unidos nesse sentido.   

“A produção alimentar da Ucrânia e os alimentos e fertilizantes produzidos pela Rússia devem ser trazidos de volta aos mercados mundiais – apesar da guerra”, defende Guterres. 

© UNDP Nigeria. impacto
© UNDP Nigeria.

O chefe da ONU salientou que “não há solução para esta crise global sem uma solução para a crise económica no mundo em desenvolvimento.” “Os governos têm de ser capazes de pedir emprestado o dinheiro que necessitam para manter as suas economias a funcionar e as suas populações a prosperar e o sistema financeiro mundial deve ultrapassar as suas lacunas e utilizar todos os instrumentos à disposição, com flexibilidade e visão, para prestar apoio aos países e pessoas vulneráveis”.    


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