Impulsionar o Ensino Superior em situações de emergência ajuda a preparar “as próximas gerações de líderes”

Entre os milhões de pessoas deslocadas por causa da guerra na Síria estão mais de 100 mil estudantes universitários que, agora, enfrentam o risco de se tornarem uma “geração perdida”, sem a perspetiva de poderem concluir os seus estudos e contribuir para a recuperação do seu país. De facto, nas crises humanitárias resultantes dos atuais 37 conflitos espalhados pelo mundo (que afetam 125 milhões de pessoas, incluindo 60 milhões deslocados das suas casas), apenas 1% dos jovens refugiados têm acesso ao ensino superior.

Esta é a razão pela qual Jorge Sampaio, condecorado com o Prémio ONU Mandela 2015 e ex-Alto Representante da ONU para a Aliança das Civilizações, lança, a 1 de maio, um “Apelo a Medidas, União e Ação” para apoiar o ensino superior em situações de emergência, incluindo o estabelecimento de um mecanismo de resposta rápida a nível global.

Jorge Sampaio citou Ban Ki-moon, Secretário-geral da ONU, quando apresentou o projeto num evento de alto nível que teve lugar na sede da ONU, em Nova Iorque, a 4 de março: “Devemos assegurar que ninguém que vive em zona de conflito, na pobreza crónica ou sob o risco de desastres naturais e do aumento do nível do mar, seja deixado para trás”, uma citação proferida no lançamento do relatório para a Cimeira Humanitária Mundial, a primeira alguma vez convocada na história da Organização das Nações Unidas, que decorrerá a 23 e 24 de maio, em Istambul (Turquia).

A ideia de estabelecer um Mecanismo de Resposta Rápida para o Ensino Superior durante Emergências surgiu a partir de um projeto-piloto criado, também, pelo antigo Presidente de Portugal, em 2013, no seu país. “Criar Esperança para o Futuro” é o mote da Plataforma Global para os Estudantes Sírios, um programade bolsas de estudo de emergência que está agora a ajudar centenas de estudantes a seguirem os seus estudos em segurança, não apenas em Portugal, mas em dezenas de países que se associaram ao projeto.

Esta foi a contribuição de Jorge Sampaio para aliviar os efeitos do conflito que “está a alimentar o ódio e o desespero entre as pessoas e as comunidades, corroendo a esperança no futuro”. O projeto obteve o apoio da Liga dos Estados Árabes, da Corporação Carnegie de Nova Iorque, do Instituto de Educação Internacional, entre dezenas de outras organizações e cidades.

 A Agenda 2030 e a Cimeira da ONU sobre o Movimento de Pessoas

“A educação é o fator mais poderoso para a mudança. Permite que os indivíduos transformem as suas vidas e empodera as comunidades. Sem educação não há progresso e eu temo que o nosso sentido de humanidade seja prejudicado”, disse Jorge Sampaio durante o evento realizado na ONU. Mas, embora o ensino primário tenha melhorado significativamente, graças aos Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, o ensino superior, que abrange normalmente os jovens entre os 18 e os 25 anos de idade, está a ser deixado para trás.

“O ensino superior pode ajudar a proteger e a preparar este importante grupo de jovens a se tornarem as próximas gerações de líderes”, diz Jorge Sampaio, relembrando que a nova Agenda 2030 e os seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável se comprometem a “providenciar uma educação inclusiva e equitativa a todos os níveis – primeira infância, primário, secundário, terciário, técnico e formação profissional “. O objetivo 4 – garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos – deve ser alcançado nos próximos 15 anos.

Para Jorge Sampaio, 2016 é o ano para tomar passos ousados no sentido de impulsionar novas oportunidades de acesso ao ensino superior para as pessoas afetadas por todos os tipos de crises. Para ele, o ensino superior não deve ser encarado como um luxo ou um objetivo a longo prazo, mas uma forma de preparar uma geração de líderes, uma força de trabalho para reconstruir os países e uma semente de esperança para as comunidades.

É por esta razão que ele está a preparar um conjunto de seminários especializados e práticos sobre o Mecanismo de Resposta Rápida para o Ensino Superior durante Emergências que terão lugar em junho e julho. O processo culmina com a apresentação do projeto na Cimeira de Alto Nível sobre Gestão de Movimentos em Larga Escala de Migrantes e Refugiados, a ter lugar na 71ª Assembleia-Geral da ONU, a 19 de setembro.

 

FOTO: UNHCR

Mas o que é um Mecanismo de Resposta Rápida?

Considerando que o ensino superior é um sistema substancialmente autónomo na maioria dos países – mobilidade internacional, cooperação e intercâmbios são parte integral do sistema académico – a ideia é criar uma plataforma para aumentar a cooperação e a coordenação.

Deve ser baseado em fóruns de inter-agências e outros grupos de trabalho já existentes, para fazer a correspondência entre os estudantes com necessidade de ajuda e as oportunidades disponíveis nas universidades de todo o mundo. Com esse propósito deveriam fazer parte do mecanismo um Consórcio Académico e uma Rede de Parceiros.

Naturalmente, é necessário dinheiro para pagar as propinas e os livros, alojamento e todas as despesas normais que os estudantes têm de arcar. Para tal, o mecanismo irá precisar de um esquema de financiamento. “Pode ser constituído por uma dotação inicial de co-financiamento feita por um pequeno grupo de apoiantes – países, fundações, entidades filantrópicas e setor privado”, explica Jorge Sampaio.

Mas seria também desejável criar uma contribuição voluntária (anual) de um dólar (ou euro ou libra) por parte de cada estudante, professor ou investigador que deseje ajudar os seus futuros pares. Com 230 milhões de estudantes em todo o mundo, este tipo de campanha solidária pode ajudar a obter fundos consideráveis.

 Os objetivos de promover o acesso ao  Ensino Superior em situação de emergência são:

– encorajar o desenvolvimento de recursos humanos de qualidade para a reconstrução futura dos países dos quais são originários os refugiados, após a repatriação.

– alcançar auto-suficiência e confiança (inter-pessoal e das instituições)

– facilitar a integração, temporária ou permanente, e contribuir com competências para o país anfitrião enquanto se aguarda por uma solução duradoura do repatriamento

– servir como modelo para outros refugiados/alunos continuarem a sua educação

– melhorar as competências e empoderamento das mulheres

“Convido-vos a unirem esforços e a trabalhar em conjunto para alcançar progresso imediato nos esforços para aumentar a contribuição do ensino superior na criação de resiliência em situações de emergência e fomentar a recuperação e reconstrução depois de desastres e conflitos “, foram as palavras finais de Jorge Sampaio no evento que pretende replicar ao longo de 2016. 

Mais informações:

Plataforma Global para os Estudantes Síros

Cimeira Humanitária Mundial

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

 13 de abril de 2016, UNHCR/Traduzido & Editado por UNRIC


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