ONU lamenta a morte do ex-secretário-geral Javier Pérez de Cuéllar

Javier Pérez de Cuéllar, do Peru, quinto secretário-geral das Nações Unidas, elogiado pela sua capacidade de fomentar o diálogo e por conduzir a Organização ao longo de uma década turbulenta, faleceu aos 100 anos de idade.

Diplomata veterano, advogado e professor, foi o primeiro e único latino-americano a ocupar o cargo máximo da ONU até ao momento.

Em comunicado, o atual secretário-geral da ONU, António Guterres, mostrou-se profundamente entristecido com a morte de Pérez de Cuéllar e elogiou o ex-líder da ONU como “um político realizado, um diplomata empenhado e uma inspiração pessoal que deixou um profundo impacto nas Nações Unidas e no nosso mundo”.

Nascido em Lima, Peru, a 19 de janeiro de 1920, foi nomeado secretário-geral da ONU após 42 anos de serviço diplomático.

Uma distinta carreira diplomática

“A vida de Pérez de Cuéllar abrangeu não só um século, mas também toda a história das Nações Unidas, desde a sua participação na primeira reunião da Assembleia Geral em 1946”, acrescenta António Guterres.

Ao longo da sua carreira, além de ter sido embaixador do Peru na Suíça, na então União Soviética, na Polónia e na Venezuela, Pérez de Cuéllar ocupou vários cargos de alto nível no Ministério das Relações Exteriores do Peru, incluindo o de Representante Permanente junto das Nações Unidas em 1971.

Durante o mês em que presidiu ao Conselho de Segurança da ONU, em julho de 1974, geriu de forma hábil a crise no Chipre. Um ano depois, foi nomeado representante especial do secretário-geral no Chipre por dois anos, tornando-se, mais tarde, chefe de Assuntos Políticos da ONU e representante da ONU no Afeganistão.

UN Photo/Milton Grant The UN Secretary-General Javier Perez de Cuellar visits Katatura, a black township of Windhoek, Namibia in July 1989.

O período da Guerra Fria e o papel crescente da ONU

António Guterres afirmou que o mandato do seu antecessor coincidiu com duas épocas distintas no que diz respeito a assuntos internacionais: em primeiro lugar, alguns dos anos mais difíceis da Guerra Fria e, posteriormente, o conflito ideológico interno, altura em que a ONU começou a desempenhar um papel mais semelhante ao previsto pelos fundadores.

Em 1982, o seu mandato como representante máximo da ONU começou com intensas negociações entre o Reino Unido e a Argentina sobre a disputada soberania das Ilhas Malvinas/Malvinas. Persistente nos inúmeros desafios, Pérez de Cuéllar ficou conhecido pela sua afirmação referente a estas conversações de paz: “O paciente está nos cuidados intensivos, mas continua vivo.”

Apesar dos seus problemas de saúde, assumiu um segundo mandato em 1986. No discurso de tomada de posse, mencionou a crise financeira que a ONU estava a ultrapassar na altura, destacando que “recusar [o cargo] em tais circunstâncias equivaleria a abandonar um dever moral para com as Nações Unidas”.

Reiterando a sua “fé inabalável” na “validade permanente” da Organização, acrescentou ainda que a “situação difícil” da ONU proporcionou uma “oportunidade criativa de renovação e reforma”.

“Pérez de Cuéllar desempenhou um papel crucial em vários sucessos diplomáticos – incluindo a independência da Namíbia, o fim da Guerra Irão-Iraque, a libertação dos reféns americanos detidos no Líbano, o acordo de paz no Camboja e, nos seus últimos dias de mandato, o histórico acordo de paz de El Salvador”, sublinha o atual secretário-geral da ONU.

O seu segundo mandato foi também marcado pela retirada das tropas soviéticas do Afeganistão, tendo facilitado ainda a estabilidade política na Nicarágua.

UN Photo/John Isaac Javier Perez de Cuellar, Secretary-General of the United Nations Meets with Mother Teresa in October 1985.

Em 1987, recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias para a promoção da cooperação ibero-americana. Dois anos depois, é distinguido com o Prémio Olof Palme para a Compreensão Internacional e Segurança Comum e o Prémio Jawaharlal Nehru para a Compreensão Internacional.

Muito depois do término do seu mandato em 1991, Pérez de Cuéllar manteve-se fiel aos valores da ONU e continuou a defender a paz, a justiça, os direitos humanos e a dignidade humana durante toda a sua vida. Condecorado por cerca de 25 países, recebeu vários títulos honoríficos.

No seu discurso ao Comité Nobel, que concedeu o Prémio Nobel da Paz às Operações de Manutenção da Paz da ONU em 1989, definiu o papel de organizações intergovernamentais como necessário para “traçar a linha entre a luta e o conflito”. Graças à sua determinação inabalável, ajudou muitas nações a “permanecerem no lado certo dessa linha”.

“Estendo as minhas profundas condolências à família de Pérez de Cuéllar, ao povo peruano e a tantos outros em todo o mundo cujas vidas foram tocadas por um notável e empático líder global, que fez do nosso mundo um lugar muito melhor”, conclui António Guterres.

Javier Perez de Cuellar

ONU News