Sudão: deslocamentos, fome e desnutrição agravam-se

Pelo menos 25 milhões de pessoas debatem-se com taxas crescentes de fome e de subnutrição, à medida que a crise no Sudão impacta toda a região, alerta o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas (PAM), com milhares de famílias a serem deslocadas e forçadas a atravessar fronteiras para o Chade e o Sudão do Sul todas as semanas.

“O impacto deste conflito abrange três países – Sudão, Sudão do Sul e Chade – e criou a maior crise de deslocamento do mundo. Quase um ano após o início da guerra, não vemos sinais de que o número de famílias que fogem através das fronteiras diminua. As crianças e mulheres que atravessam para o Sudão do Sul ou para o Chade passam fome e chegam sem recursos”, alerta o diretor Regional do PMA para a África Oriental, Michael Dunford, da cidade fronteiriça do Sudão do Sul, Renk, onde se encontram cerca de meio milhão de pessoas que fogem da guerra.

Sudão do Sul, Joda Border Point, Renk, Alto Nilo, 31 de janeiro de 2024 Na foto: famílias carregam os seus pertences ao chegarem ao Sudão do Sul após fugirem dos combates no Sudão. Foto PAM/Hugh Rutherford

A fome e a subnutrição aguda aumentaram no Sudão desde o início do conflito. Existem 18 milhões de pessoas com insegurança alimentar aguda no país e cerca de 3,8 milhões de crianças sudanesas com menos de 5 anos estão subnutridas. A maioria está encurralada em áreas de combate ativo, onde o PAM e outras agências humanitárias lutam para manter um acesso consistente. Aqueles que conseguem escapar estão a fugir para lugares como o Sudão do Sul ou o Chade, agravando as já terríveis situações humanitárias em ambos os países.

Aqueles que chegam hoje ao Sudão do Sul juntam-se a famílias que já lutam com rações reduzidas e passam fome extrema. A subnutrição está a aumentar rapidamente entre as crianças que definham em campos de trânsito temporário. As tendências observadas pelo PAM indicam que aproximadamente 4 por cento das crianças com menos de 5 anos de idade que atravessam a fronteira para o Sudão do Sul estão subnutridas à chegada. Mas este número sobe para 25 por cento entre as crianças no centro de trânsito em Renk, perto da fronteira do Sudão com o Sudão do Sul, sugerindo que quanto mais tempo as pessoas passam em campos temporários, maior é a probabilidade de ficarem subnutridas.

Sudão do Sul, Renk, Alto Nilo, 31 de janeiro de 2024
Na foto: Mehida Ibrahim (à direita) recebe biscoitos fortificados com a sua família num centro de receção na fronteira entre o Sudão e o Sudão do Sul. O PAM fornece biscoitos fortificados às famílias que fogem do Sudão até chegarem à cidade de Renk, onde recebem assistência em dinheiro. Foto PAM/Hugh-Rutherford

“A menos que seja concedido acesso sem restrições às agências humanitárias e não seja recebido financiamento, esta crise só irá piorar”, enfatiza Dunford.

“Precisamos de ser capazes de prestar apoio às famílias no Sudão para evitar que a maior crise de deslocamento do mundo se transforme numa catástrofe de fome à medida que nos aproximamos da época de escassez”.

No Chade, mais de 553 mil sudaneses, principalmente de Darfur, fugiram desde o início do conflito. Cerca de 40 por cento das crianças refugiadas levadas para uma clínica de emergência num campo de acolhimento sofriam de subnutrição aguda. A taxa de subnutrição em muitos campos de refugiados sudaneses no Chade – incluindo campos anteriores à guerra atual – está bem acima do limiar de emergência da OMS de 15 por cento. O PAM teve de dar prioridade aos recursos escassos aos recém-chegados, muitos dos quais atravessam a fronteira sem nada. Isto significa que os refugiados pré-existentes já não recebem assistência, mas não estão necessariamente em melhor situação do que os que chegam hoje.

Uma devastadora catástrofe de fome aproxima-se à medida que aumentam as necessidades alimentares e nutricionais no Sudão, no Sudão do Sul e no Chade. A assistência humanitária é vital e, no entanto, o PAM enfrenta um défice de financiamento de quase 300 milhões de dólares para os próximos seis meses.


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