UNICEF apresenta medidas fundamentais para proteger as crianças sírias

A menos que sejam respondidas  as necessidades e direitos de mais de oito milhões de crianças sírias, uma geração inteira estará perdida, bem como décadas de progresso de desenvolvimento, alertou a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNICEF), num novo relatório que apela à comunidade internacional que projeta os mais jovens civis que vivem numa “crise infantil”.

De acordo com o relatório “Sem lugar para as crianças” cerca de 8,4 milhões de crianças, mais de 80 por cento da população infantil da Síria, é agora afetada pelo conflito, quer dentro do país quer enquanto refugiados em países vizinhos.

“O que lhes dizemos, a todas as crianças da Síria? Que não nos importamos se elas se tornarem uma geração perdida devido às lacunas na aprendizagem e na qualidade de saúde que os afetarão nos próximos anos?” pergunta Anthony Lake, Diretor Executivo da UNICEF, nas primeiras páginas do relatório.

“Nós não podemos recuperar os preciosos anos de infância arrebatados por esta guerra brutal, mas podemos e devemos prevenir os seus futuros de serem, também, perdidos”, acrescentou. “Pelo seu futuro concretiza-se o futuro da Síria”.

O relatório descreve as várias formas de impacto do conflito nas crianças e apresenta cinco passos críticos para protegê-las.

Mohammed, um refugiado de 13 anos de idade, disse à UNICEF que não sabe como ver o seu futuro.

“Estou entre a esperança e a falta de esperança. Talvez com o tempo eu seja capaz de responder a esta questão”, disse. “Só queria que houvesse na terra um poder capaz de trazer de volta as coisas que perdi.”

 

A violência tornou-se “comum”

Lançado no quinto aniversário do começo do conflito sírio, o relatório nota que cerca de 3,7 milhões de crianças sírias têm cinco ou mais anos de idade. Com um conflito que é agora “o mais mortal e complexo” do nossos tempo, é também a única forma de viver que estes jovens conhecem.

A guerra é parte da vida do dia a dia para as crianças sírias, cerca de 7 milhões das quais vivem em pobreza, disse Peter Salama, Diretor Regional da UNICEF para o Médio Oriente e África do Norte.

“A violência tornou-se comum, chegando às casas, escolas, hospitais, clínicas, parques, recreios e locais de culto”, disse Salama.

Como resultado, existem poucos espaços seguros para as crianças, o que leva a UNICEF a dizer no relatório que “mais do que nunca, esta é uma crise infantil”.

A UNICEF verificou a ocorrência de perto de 1 500 violações graves contra crianças, em 2015, de acordo com o relatório. Mais de 60 por cento dessas violações eram exemplos de morte e mutilação como resultado de armas explosivas usadas em áreas populosas, frequentemente, quando a criança estava a ir ou a vir da escola.

Crescer demasiado depressa

Com todos os aspetos da vida interrompidos, muitas crianças são forçadas a tornar-se o único “ganha pão” das suas famílias ou a combater, de acordo com o relatório.

FOTO: UNICEF/Lucy Lyon

“Com a continuidade da guerra, as crianças lutam como adultos, não acedem à escola e muitas delas são forçadas a trabalhar, enquanto as meninas casam cedo”, disse Salama.

A idade média para o recrutamento também diminui. A UNICEF reportou que, antes de 2014, a maioria das forças e grupos armados recrutaram rapazes entre os 15 e os 17 anos de idade e, principalmente, para funções de apoio.

Esse número caiu, havendo agora crianças de sete anos de idade a se juntarem a estas forças e grupos armados, frequentemente, sem o consentimento parental. O relatório nota que as partes em conflito usam, agora, as crianças “para matar, incluindo como executadores ou atiradores”, enquanto outras são colocadas nos postos de controlo, carregam armas e até tratam ou evacuam os feridos.

Como resultado, as taxas de frequência escolar, mesmo nos casos em que a escolaridade lhes é acessível, estão no nível mais baixo, de acordo com a UNICEF. A agência estima que mais de 2,1 milhões de crianças dentro da Síria e 700 000 nos países vizinhos não vão à escola.

Em resposta, a UNICEF e os seus parceiros lançaram a “Iniciativa Nenhuma Geração Perdida”, a qual se compromete renovar a aprendizagem e proporcionar oportunidades aos jovens.

Passos para a Proteção

Investir na aprendizagem é um das cinco recomendações que a UNICEF define no relatório de hoje. Em acréscimo, procura obter 1,4 mil milhões, este ano, para apoiar o acesso de cerca de 4 milhões de crianças e jovens dentro da Síria e nos países vizinhos à educação formal e não formal.

A agência também apelou ao fim das violações dos direitos das crianças e a um urgente respeito pelas obrigações decorrentes do Direito Humanitário Internacional e da lei dos direitos humanos bem como um fim imediato dos ataques às instalações de educação, saúde e água, para além da prevenção da violência sexual e do recrutamento de crianças.

Em acréscimo, a UNICEF apelou a todas as partes do conflito que permitam o acesso imediato, livre e sustentado a áreas sitiadas e de difícil acesso; que renovem a dignidade das crianças sírias e protejam os seus direitos e apelou aos doadores que correspondam ao apelo de 1,1 mil milhões de dólares que irá permitir continuar a levar assistência às crianças dentro da Síria e nos países vizinhos.

 

11 de março de 2016,  Centro de Notícias da ONU/Traduzido & Editado por UNRIC


Direito Internacional e Justiça

Entre as maiores conquistas das Nações Unidas está o desenvolvimento de um corpo de leis internacionais, convenções e tratados que promovem o desenvolvimento económico...