Vírus Zika passará de leve curiosidade médica a doença com graves implicações na saúde pública

A chefe da agência de saúde da Organização das Nações Unidas afirma que, em menos de um ano, o estatuto do Zika passará de “leve curiosidade médica” a doença com graves implicações na saúde pública, alertando que “quanto mais sabemos, pior as coisas parecem”.

Numa conferência de imprensa sobre os desenvolvimentos científicos acerca do vírus, Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), disse que se está a obter rapidamente novos dados e agradeceu a todos os países e aos seus cientistas que trabalharam para dar forma ao conhecimento obtido.

 

Zika em circulação em 38 países e territórios

“O vírus está atualmente em circulação em 38 países e territórios”, disse Margaret Chan aos jornalistas. “Face ao conhecimento atual, ninguém pode prever se o vírus se irá espalhar para outras partes do mundo e causar um padrão semelhante de malformações fetais e desordens neurológicas. Se este padrão for confirmado para além da América Latina e das Caraíbas, o mundo vai enfrentar uma severa crise de saúde pública”, acrescentou.

De acordo com a OMS, o primeiro alerta mundial foi a 7 de março de 2015, quando o Brasil confirmou que este vírus estava a causar um “misterioso surto” de milhares de casos de doenças leves associadas a erupção cutânea. Em julho, esse país reportou um aumento de casos de Síndrome Guaillian-Barré, seguido por um aumento anormal de microcefalia entre recém-nascidos, no final de outubro.

“A possibilidade de a picada de um mosquito poder estar relacionada com malformações graves de fetos alarmou os cientistas e deixou-os atónitos”, disse a diretora-geral. “A associação dos casos com a síndrome Guillain-Barré e outros distúrbios graves do sistema nervoso central fez expandir o grupo de risco muito para além das mulheres em idade fértil. Sabemos que ocorre a transmissão sexual do vírus”.

Margaret Chan deu pormenores sobre padrão da doença: após a deteção inicial da circulação do vírus, surgem um aumento fora do comum dos casos de síndrome Guillain-Barré ao fim de três semanas. A deteção da microcefalia e de outras malformações feitais surge mais tarde, quando a gestação das mulheres infetadas já está na fase final do processo.

No atual surto, o Brasil e o Panamá relataram, sobretudo, casos de microcefalia. A Colômbia está a investigar casos graves de microcefalia com uma possível relação com o Zika. Noutros países e territórios o vírus não circulou o tempo suficiente para as gestações desenvolverem o processo até ao fim. Um grupo da OMS está, atualmente, em Cabo Verde, a investigar o primeiro caso de microcefalia relatado no país.

“Até à data, 12 países e territórios reportaram um aumento da incidência da síndrome de Guillain-Barré ou confirmação laboratorial da infeção de Zika entre os casos da síndrome. Efeitos adicionais no sistema nervoso central foram documentados, nomeadamente a inflamação da medula espinal e a inflamação do cérebro e das suas membranas”, explicou a diretora-geral da OMS.

 

Resposta da OMS ao surto

Desde o dia 1 de fevereiro, a OMS convocou sete reuniões internacionais e publicou 15 documentos que traduzem as últimas pesquisas sobre orientações práticas provisórias para apoiar os países nas medidas de resposta a este surto e as suas complicações neurológicas.

Ao longo das duas últimas semanas, a OMS convocou três reuniões de alto nível para analisar dados científicos e novas ferramentas para o controlo do mosquito e prevenção das doenças associadas.

“Estas reuniões ajudam a responder mais rapidamente a questões científicas e a recolher conselhos sobre as melhores formas de responder a uma situação que está a evoluir rapidamente”, sublinhou Margaret Chan, notando que agora existe consenso científico de que o vírus Zika está implicado nos distúrbios neurológicos.

“O tipo de ação urgente que implica esta emergência de saúde pública não deve esperar por uma prova definitiva”, insistiu. O teste de diagnóstico é uma “prioridade mais urgente”.

Em termos de novos produtos médicos, os especialistas concordam que um teste de diagnóstico fiável é a prioridade mais urgente. Neste momento, a OMS afirma que mais de 30 empresas estão a trabalhar ou já desenvolveram potenciais novos testes de diagnóstico. No caso de vacinas, 23 projetos estão em desenvolvimento por 14 especialistas de vacinas nos Estados Unidos da América, França, Brasil, Índia e Áustria.

A OMS estima que pelo menos alguns dos projetos vão passar para ensaios clínicos antes do final deste ano, mas podem ser necessários vários anos antes que uma vacina totalmente testada e licenciada esteja pronta para uso.

Entretanto, durante uma reunião sobre o controlo do mosquito, os peritos concluíram que os programas de controlo bem implementados  – utilizando ferramentas e estratégias existentes -são eficazes na redução da transmissão de doenças provocadas pelo vírus Aedes, incluindo o Zika. No entanto, também identificaram um número de desafios para a implementação dessas ferramentas, e nenhum dos cinco países foi considerado pronto para a implementação em larga escala.

Finalmente, a terceira reunião analisou o tratamento de complicações, incluindo malformações fetais e doenças neurológicas, e o pesado fardo que coloca sobre os sistemas de saúde.

23 de março de 2016, Centro de Notícias da ONU/Traduzido & Editado por UNRIC


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