A desigualdade de género na luta climática 

Op-ed: três pedidos sobre a igualdade de género à COP27 

A questão do género é o tema principal do dia de hoje na COP27, por isso, a diretora executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, expõe o que esta Conferência do Clima deve fazer para promover a igualdade de género: 

Estudos indicam que o mundo não está no caminho para alcançar o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 5 – na realidade, está a 300 anos de distância. Contudo, a participação e liderança das mulheres e meninas é fundamental para acelerar a ação sustentável e proteger o planeta. A igualdade de género é o elo de ligação que está em falta para alcançar todos os planos e estratégias estabelecidas. 

Na COP27 temos a oportunidade de reconhecer e melhorar a forma como mulheres e meninas contribuem com ações climáticas inovadoras, de compreender como as estruturas sociais atuais colocam barreiras ao envolvimento feminino e de responder com medidas de investimento e políticas realistas. 

As mulheres têm um papel transformador na adaptação e na mitigação das alterações climáticas e estão na vanguarda dos movimentos de justiça ambiental, liderando abordagens inovadoras que não só promovem a transição energética, como também protegem os ecossistemas locais. No entanto, os processos de tomada de decisão estão ainda muito desequilibrados, sendo que estas desigualdades estão presentes em todos os setores vitais: energia, agricultura, infraestruturas hídricas e educação.  

“O meu primeiro pedido à COP27 é a necessidade de tomar medidas especiais, incluindo quotas, que aumentem a participação e liderança plena, igualitária e significativa das mulheres e meninas a todos os níveis de tomada de decisão. É preciso também abordar as desigualdades, incluindo o acesso e controlo de recursos, como finanças, tecnologia e terra. Além disso, devem ainda ter-se em conta outros fatores que excluem a ação das mulheres, como é o caso da violência. As crises trazem consigo uma intensificação de todas as formas de violência – incluindo violência doméstica, tráfico, casamento infantil e ciberviolência. As crises também aumentam significativamente a carga dos cuidados domésticos, fardo este que incide desproporcionalmente nas mulheres, que acabam por ver o seu trabalho fora do lar dificultado – nomeadamente uma impossibilidade de contribuir para a ação climática. 

UN Photo

“O meu segundo pedido à COP é, portanto, o de apoiar uma transição justa para as mulheres, mediante um modelo de desenvolvimento alternativo. Este modelo aumentaria os serviços públicos de apoio às mulheres, a proteção social universal, os sistemas de saúde e de cuidados, através de medidas que contribuam para uma economia de cuidados e para a prevenção e eliminação da violência contra mulheres e raparigas. Promoveria ainda transportes e infraestruturas sustentáveis que garantissem emprego. As conclusões da 66.ª sessão da Comissão sobre o Estatuto das Mulheres da ONU (CSW66) foram claras: devemos integrar uma perspetiva de género na elaboração, financiamento, implementação, monitorização e avaliação de todos os planos, políticas e ações climáticas. Alertou também os seus Estados-membros a aumentarem o financiamento de estratégias relacionadas, como o Plano de Ação de Género da UNFCCC. Estima-se que apenas 0,01 % da ajuda oficial ao desenvolvimento mundial abrange tanto as alterações climáticas como os direitos das mulheres, não obstante, são necessários investimentos internacionais que apoiem as organizações e programas de e para as mulheres. 

“O meu terceiro pedido é que as decisões da COP sobre investimentos mundiais, especialmente para mulheres e meninas nos países em desenvolvimento, ampliem e fomentem as competências, a resiliência e o conhecimento das mulheres, que assegurem o apoio e a proteção das organizações de mulheres e que incluam investimentos específicos para a eliminação de barreiras que inibem as mulheres de alcançar o seu potencial máximo. A melhor contramedida que temos para combater as ameaças cada vez mais intensas das alterações climáticas, é a aposta nos múltiplos benefícios da igualdade de género 

Façamos disto a base da nossa solidariedade internacional e da nossa resposta mundial. 

 


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