Clima: 2019 termina a década mais quente de sempre

A década passada foi a mais quente alguma vez registada. De acordo com o novo relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado a 10 de março, a temperatura média global aumentou cerca de 1,1 °C em comparação com o período pré-industrial.

“Atualmente, estamos muito longe de alcançar as metas de 1,5 °C ou 2 °C que o Acordo de Paris estabeleceu”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, durante uma conferência de imprensa na sede da ONU.

Ao longo de 2019, as inundações causaram a morte de milhares de pessoas e a perda de milhares de milhões de dólares. Muitas regiões do mundo sofreram as piores secas de sempre e o número de ciclones e incêndios ficou bem acima da média. A Austrália passou por uma temporada de incêndios excecionalmente longa e severa até ao início de 2020.

O relatório da OMM apresenta as mais recentes pesquisas científicas e ilustra a urgência de coordenar ações climáticas de longo alcance.

Todos os indicadores no vermelho

De acordo com a OMM, não foram apenas as temperaturas médias que aumentaram, mas também todos os fenómenos associados estão a crescer.

A emissão de gases de efeito de estufa subiram 0,6%. O aquecimento do oceano contribuiu para mais de 30% da subida do nível médio do mar, modificando as correntes oceânicas e as rotas das tempestades. A acidificação e desoxigenação dos oceanos estão também a causar mudanças drásticas nos ecossistemas marinhos.

“Acabamos de ter o janeiro mais quente de todos os tempos. O inverno foi incomumente ameno em muitas partes do hemisfério norte. O fumo e as matérias poluentes provenientes dos incêndios devastadores na Austrália causaram um aumento nas emissões de CO2. As temperaturas recordes na Antártica foram acompanhadas pelo degelo em larga escala e pela quebra de massas de gelo que afetará a elevação do nível do mar”, adiantou também o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, que acompanhou António Guterres na conferência de imprensa.

Impacto na saúde, segurança alimentar e deslocação da população

O calor extremo está a ter um impacto crescente na saúde humana. Em França, mais de 20 mil casos de doenças e 1.462 mortes foram causadas pelo calor entre junho e meados de setembro.

A variabilidade climática e os eventos climáticos extremos estão entre os principais fatores do recente aumento da fome no mundo. Após uma década de declínio constante, a fome está a aumentar novamente, afetando mais de 820 milhões de pessoas em 2018.

A insegurança alimentar é particularmente sentida em alguns países do Corno de África que sofreram seca severa seguida por chuvas excecionalmente fortes, o que por sua vez causou inundações. Essas chuvas contribuíram para a devastadora invasão de gafanhotos que estão a destruir as plantações na região.

Acredita-se que as condições climáticas tenham deslocado 22 milhões de pessoas que fogem de inundações, deslizamentos de terra, tempestades e até incêndios em 2019. Em 2018, esse número era de 17,2 milhões.

ONU News