“Esta guerra não terá vencedores, apenas vencidos”

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alarmou esta segunda-feira sobre o estado da crise na Ucrânia, indicando que o país “está a ser dizimado perante os nossos olhos” e que esta crise poderá culminar numa crise alimentar mundial e piorar as já pobres condições nos países em desenvolvimento.  

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alarmou esta segunda-feira sobre o estado da crise na Ucrânia, indicando que o país “está a ser dizimado perante os nossos olhos” e que esta crise poderá culminar numa crise alimentar mundial e piorar as já pobres condições nos países em desenvolvimento.  

Milhões de ucranianos estão sem água, sem medicamentos e sem alimentos, e, infelizmente, se nada for feito a situação só ira piorar. De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), já houve ataques a 24 infraestruturas de saúde e centenas de milhares de pessoas encontram-se sem água e sem eletricidade.  

Para continuar com a assistência humanitária no terreno, o secretário-geral anunciou ontem a injeção de mais 40 milhões de dólares oriundos do Fundo Central da ONU de Resposta a Emergências para apoiar os mais vulneráveis. Atualmente, mais de 600,000 ucranianos já receberam algum tipo de apoio, mas com os 1.9 milhões ucranianos deslocados internamente e os mais de 2.8 milhões de refugiados este apoio adicional será essencial para fornecer “alimentos, água, medicamentos e outras ajudas críticas para salvar vidas no país”.  

@UNICEF / Oleksandr Ratushniak.

Adicionalmente, António Guterres salientou a importância de assegurar o bem-estar dos ucranianos refugiados, que são maioritariamente mulheres e crianças. Um milhão dos refugiados são crianças, e muitas destas crianças estão sozinhas, sem o apoio e a proteção das suas famílias. Estas crianças e mulheres vulneráveis podem ser alvos de tráfico humano pois como o secretário-geral indica “para os predadores e os traficantes, a guerra não é uma tragédia. É uma oportunidade.” 

“Cascata de crises” 

O secretário-geral da ONU acentuou que para além da guerra na Ucrânia, o mundo enfrenta uma “cascata de crises” mundiais como a pandemia covid-19 e a crise climática. Este conflito militar só ira exacerbar as crises atuais e trazer com ela novas crises como uma potencial crise alimentar, constatou o secretário-geral.  

Antes do início do conflito na Ucrânia muitos países já estavam a confrontar taxas de “inflação recorde, taxas de juros crescentes” e aumentos substanciais na dívida pública. Estas questões financeiras e particularmente a inflação levou um aumento nos preços dos alimentos e agora, como indica o secretário-geral, o “celeiro” do mundo está a ser bombardeado e estima-se que o preço dos alimentos vá subir mais 8 a 22 por cento.  

A Ucrânia fornece mais de metade do trigo do Programa Alimentar Mundial, órgão das Nações Unidas do qual muitos países em desenvolvimento dependem fortemente para alimentar os seus cidadãos. Com o conflito na Ucrânia e a consequente quebra na produção agrícola o preço mundial do grão já excedeu os valores do grão “no início da Primavera Árabe e nos motins alimentares de 2007-2008″ e o índice do preço alimentar mundial da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) chegou a um nível recorde. 45 países africanos incluindo o Egito, o Burkina Faso e a Somália dependem da Rússia e da Ucrânia para o fornecimento de alimentos ilustrando que muitos países, por mais longe da Europa que se encontram, vão sofrer com a guerra russo-ucraniana. O secretário-geral, tendo isto em consideração, alertou que os Estados-membros têm “de fazer o máximo possível para evitar … um colapso do sistema alimentar mundial” e estabeleceu um novo “Grupo das Nações Unidas de Resposta à Crise Mundial Alimentar, Energética e Financeira” sob a tutela da subsecretária-geral, Amina Mohammed. 

@WFP/Deborah Nguyen

Adicionalmente, o secretário-geral das Nações Unidas declarou que “esta guerra demonstra como a dependência mundial nos combustíveis fósseis coloca a segurança energética, a ação climática e toda a economia global à mercê da geopolítica” e lamenta o facto desta guerra interferir “nos recursos e na atenção dados a outros zonas problemáticas que precisam desesperadamente de ajuda” tal como o Sahel e o Iémen, áreas onde o conflito violento é forte e o efeito das alterações climáticas evidente. Guterres apelou então “aos líderes a resistirem a tentação de aumentar as suas despesas de defesa em detrimento dos apoios ao desenvolvimento e ação climática”. 

@IAEA / Dana Sacchetti. O reator nuclear em Chernobyl que se encontra com a unidade 4 danificada.

Por fim, o secretário-geral demostrou o seu receio sobre a “possibilidade de conflito nuclear” dizendo que este é um “desenvolvimento arrepiante” e “outrora impensável,” mas que agora voltou “ao reino das possibilidades.” Como apelo final, Guterres afirmou que “a segurança das instalações nucleares tem de ser preservada” e que “está na hora de parar com os horrores exercidos sobre o povo ucraniano e retomar o caminho da diplomacia e da paz.”

ONU News