Guterres em Davos: Ucrânia, Clima e Divisões 

“Uma negociação de paz séria” não está perto de acontecer, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na conferência do Fórum Económico Mundial em Davos, reafirmando o compromisso da ONU para com as vítimas do conflito. 

Reiterando que a invasão da Rússia em fevereiro de 2022 violou a carta das Nações Unidas, o secretário-geral evidenciou que será difícil acabar com a violência enquanto “duas ideias diferentes sobre o que era o império russo e o que eram as nacionalidades” permanecerem. Guterres acrescentou que a solução futura terá que se basear no “direito internacional e respeitar a integridade territorial”. 

Contudo, apesar do conflito não ter um fim à vista, ao abrigo da Iniciativa de Cereais do Mar Negro, levada a cabo pela ONU em parceria com a Rússia, a Ucrânia e a Turquia, até à data, 17,8 milhões de toneladas de mercadorias (milho, trigo, farinha, etc) já foram enviadas para inúmeros países.  

A propósito da cooperação pela salvaguarda dos direitos humanos, António Guterres enfatizou que a ONU tem mantido uma estreita relação com a Ucrânia e a Rússia no que toca a outros assuntos, como a discussão sobre trocas de prisioneiros, o apoio ao trabalho Agência Internacional de Energia Atómica e nos seus esforços para tornar segura a central nuclear de Zaporizhzhia e todas as outras centrais no país. “Estamos a fazer tudo o que podemos para limitar os danos, para reduzir o sofrimento“. 

Promessas climáticas 

No seu discurso, o secretário-geral abordou também a luta climática, chamando à atenção das nações industrializadas para que “finalmente cumpram” com a sua promessa de 100 mil milhões de dólares para o financiamento climático em países menos desenvolvidos. Apelando à ação política para reduzir os gases com efeito de estufa e mitigar o aquecimento global, Guterres sublinhou a importância da ação da indústria privada para combater os efeitos das alterações climáticas, afirmando que sem a devida ação e colaboração “não conseguiremos atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)”. 

Ainda no âmbito climático, o secretário-geral apontou o dedo aos grandes produtores de combustíveis fósseis que “nos anos 70, estavam plenamente conscientes de que o seu produto principal estava a cozer” o planeta.  

Cooperação Norte-Sul 

Assim, num apelo a uma maior cooperação internacional, Guterres alertou para as divisões entre os Estados Unidos e a China, que correm o risco de dissociar as duas maiores economias do mundo – algo inevitavelmente negativo para a economia mundial. É essencial que ambos os países continuem a empenhar-se de forma significativa no clima, comércio e tecnologia, “para evitar a dissociação das economias ou mesmo a possibilidade de confrontos futuros”. 

Neste sentido, o líder da ONU abordou ainda a questão da divisão Norte-Sul que se “está a aprofundar” devido às crescentes desigualdades económicas e sociais. A “frustração e raiva” que se faz sentir no Sul global deve-se não só à injusta distribuição das vacinas da covid-19, mas também à incapacidade financeira para combater a inflação e aos impactos das alterações climáticas (que desproporcionalmente afetam os países que menos contribuem).  

Reiterando o seu apelo aos bancos multilaterais de desenvolvimento António Guterres explicou que os países emergentes precisam de ter acesso a um “influxo maciço de financiamento privado a taxas de juro razoáveis”.


Direito Internacional e Justiça

Entre as maiores conquistas das Nações Unidas está o desenvolvimento de um corpo de leis internacionais, convenções e tratados que promovem o desenvolvimento económico...