O perigo do desaparecimento dos glaciares 

A entrada para o “centro da terra” pode estar em risco de desaparecer no espaço de décadas. De acordo com cientistas, os glaciares que deram nome à Islândia desaparecerão dentro de dois séculos e praticamente todos os restantes terão o mesmo destino, até ao final deste século. 

Na “Viagem ao Centro da Terra” de Júlio Verne, a ação decorre num vulcão sob um glaciar na Islândia – o Snæfellsjökull. Porém, neste momento, cientistas estimam que até ao final de 2050 pouco ou nada restará deste glaciar. Durante 1750 anos (desde o séc. III d.C.), a atividade vulcânica não derreteu a tampa/camada de neve, contudo, considerando os crescentes níveis do aquecimento global, existem fortes ameaças à alteração deste cenário.  

50% já desapareceu 

“Irá desaparecer até ao final do século” confirma Guðfinna Th. Aðalgeirsdóttir glaciologista e membro ativo no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) – o principal órgão científico da ONU sobre alterações climáticas 

O glaciar Snaefellsjökull já diminuiu 50% desde o final do século XIX, sendo que atualmente cobre 10 km2 e tem 30 m de espessura. “Não há dúvida que as alterações climáticas causadas pela atividade humana estão a aumentar a temperatura do planeta, o que provoca o derretimento dos glaciares”, explica Aðalgeirsdóttir.   

(Snæfellsjökull 2)
© JuTa/Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0

Os glaciares mais pequenos correm maior perigo  

Em todo o mundo, os glaciares mais pequenos são mais vulneráveis ao aumento da temperatura. De facto, o glaciar mais pequeno da Islândia – com um nome apropriadamente curto “Ok” – já desapareceu. No entanto, até o maior glaciar da Europa, Vatnajökull, acabará por desaparecer.   

Os glaciares cobrem cerca de 10% da Islândia, uma área de aproximadamente 11.000 km2. A eventualidade do derretimento de todos os glaciares islandeses contribuiria para cerca de 9 mm de potenciais subidas do nível médio das águas do mar no mundo. 

O rápido derretimento após 1994  

Na realidade, não é uma surpresa para os cientistas que os glaciares islandeses estejam a diminuir. O que é surpreendente é que isso não esteja a acontecer a um ritmo mais acelerado. A temperatura na Islândia está intimamente ligada à temperatura do mar, razão pela qual o aumento da temperatura no noroeste do Atlântico tem vindo a contribuir para o derretimento dos glaciares islandeses.  

“Após 1994, o oceano à volta da Islândia aqueceu consideravelmente e todos os glaciares começaram a recuar rapidamente. Porém, em 2011 algo inesperado aconteceu”, explica a glaciologista 

O misterioso “Blue Blob”  

Subitamente, o derretimento dos glaciares abrandou – o que se deveu ao desenvolvimento de uma área de arrefecimento regional no oceano Atlântico Norte ao sul da Gronelândia, chamada Blue Blob. O arrefecimento no Blue Blob tem vindo a atenuar o aquecimento atmosférico da Islândia desde 2011 – contribuindo para a redução do derretimento dos glaciares. 

O Blue Blob é um dos poucos lugares do planeta que não está a aquecer. Permanece uma incógnita como é que o Blue Blob misteriosamente surgiu e porque é que está tão mais frio do que as águas circundantes. Não obstante, a retardação que o Blue Blob potencia no derretimento dos glaciares não vai durar muito tempo, e uma vez que esse arrefecimento termine, os glaciares retomarão o seu ritmo de derretimento.  

O perigo do desaparecimento dos glaciares reside na destruição da massa terrestre, o que se traduzirá em perdas significativas para os ecossistemas – incluindo as condições da vida humana. Assim, se não se investir no combate ao aquecimento global e na mitigação dos impactos das alterações climáticas, está-se a assinar uma sentença há muito premeditada.

big blob
©NASA

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